Enviada para casa em trabalho de parto, grávida perde bebê, e maternidade de Niterói é investigada

Está sendo investigada uma denúncia de possível negligência médica no atendimento de uma grávida na Maternidade Municipal Alzira Reis, em São Francisco. A paciente relata que deu entrada no início do ano, com 39 semanas de gestação, em trabalho de parto, e foi encaminhada para casa, mas quando voltou o bebê já estava morto na barriga. Um caso semelhante, noticiado pelo GLOBO-Niterói, aconteceu no local em 2018, e, anos depois, a Justiça condenou uma médica e a unidade.

Ensaio fotográfico: Centro de Niterói combina beleza e degradação, enquanto aguarda reforma de R$ 400 milhões

Crise: Violência afeta saúde de rodoviários, e milhares são afastados em Niterói e São Gonçalo

Aguardado com ansiedade pelos pais — a garçonete Pâmela dos Santos, de 18 anos, e o chaveiro Luciano Monteiro, de 24 —, o bebê Luan Miguel já tinha o enxoval pronto e era o primeiro filho do casal

— No dia 3 de janeiro, minha mulher estava sentindo fortes dores e contrações e a levamos para a maternidade. Chegando lá, fizeram exames, disseram para esperar mais e a mandaram para casa. No dia seguinte, voltamos porque ela continuou com com dores, e a bolsa estourou. Chegamos rápido no hospital, mas quando fizeram a ultra viram que o coração do bebê estava parado. Isso foi por volta das 17h30m. Disseram que fariam um procedimento para tirar o bebê até meia-noite. Não fizeram e a deixaram parir o bebê natimorto naturalmente, às 9h do dia seguinte. Ela teve gestação saudável e com acompanhamento; se tivesse sido internada no primeiro momento isso não teria acontecido. Eles ficam insistindo pelo parto normal, mas ela já estava no limite para fazer uma cesárea. Está sendo difícil para todos nós, e Pâmela está muito deprimida — relatou Monteiro, que está reunindo documentos para registrar o caso amanhã numa delegacia.

Comitê apura o caso

Presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Niterói, o vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL) encaminhou um ofício à direção da maternidade cobrando esclarecimentos sobre informações no prontuário, que, segundo ele, parecem contraditórias:

— Sabemos da bela história e da capacidade profissional da Maternidade Alzira Reis. No entanto, a falta de profissionais e de investimentos certamente contribui para que tragédias como essas aconteçam. Nosso dever é denunciar e lutar para que não voltem a ocorrer. Já solicitamos mais informações para a gestão e vamos exigir que a investigação seja refeita, de preferência com a atuação do Instituto Médico-Legal e do Ministério Público.

O caso está sendo observado ainda pela Comissão de Direitos Humanos da Associação Fluminense dos Advogados Trabalhistas, que acompanhará o Registro da Ocorrência na delegacia e no MP.

Em nota, a Secretaria municipal de Saúde informa que o caso está sendo investigado pelo Comitê Municipal de Prevenção da Mortalidade Materno Infantil e pela Comissão de Óbito da Maternidade Alzira Reis e que, após o resultado desta apuração, será avaliada a medida necessária.

“Todos os profissionais da rede municipal de saúde passam por capacitações periódicas e seguem os protocolos do Ministério da Saúde. A unidade está com equipe completa e instalações adequadas para atendimento. Segundo o boletim de atendimento, os protocolos preconizados pelo Ministério da Saúde foram seguidos”, afirma a nota.