Ernesto Araújo deve ser demitido do Ministério das Relações Exteriores: Veja polêmicas do chanceler
Ministro das Relações Exteriores deve ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro
Ernesto Araújo acumulou polêmicas no cargo
Congresso, empresários e o agronegócio pressionam pela saída do chanceler
Pressionado pelo Congresso, pelos empresários e pelo agronegócio, o presidente Jair Bolsonaro deve demitir nos próximos dias o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Interlocutores do Planalto afirmam que o presidente aguarda apenas uma oportunidade para realizar a substituição. Segundo aliados, o governo ainda busca um nome para a vaga.
É consenso no meio político que a permanência do chanceler no cargo ficou insustentável. Desde janeiro de 2019, quando assumiu o posto, Ernesto Araújo colecionou polêmicas. A conduta dele já prejudicou compra de vacinas contra covid e acordo do Mercosul com União Europeia e ameaça boicote de produtos brasileiros no exterior.
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Veja as principais controvérsias do chanceler:
Posse
A “vergonha alheia” na diplomacia já começou em janeiro de 2019, na posse de Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores. Em seu discurso, exaltou o guru bolsonarista, Olavo de Carvalho, e citou Renato Russo, Tarcísio Meira, Raul Seixas e um seguidor anônimo no Twitter. Recitou um trecho da Bíblia em grego e uma versão de Ave Maria em tupi. Mandou os funcionários do ministério lerem “menos New York Times e mais José de Alencar”. Prometeu lutar contra o “globalismo”e “libertar a política externa e o Itamaraty”.
Barrado na Casa Branca
O chanceler Ernesto Araújo foi barrado do encontro inicial entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca, enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro foi convidado a participar. Foi a primeira vez que, no início do encontro entre líderes do Brasil e dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores foi excluído.
Queimadas e desmatamento na Amazônia
A Amazônia é um dos principais temas que prejudicam a imagem do Brasil no exterior. Países europeus cobram uma política brasileira de enfrentamento às queimadas e ao desmatamento.
Com a omissão do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil já perdeu financiamento internacional para a área. A política ambiental também tem dificultado a concretização do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Empresários do Brasil pressionam ainda pelo risco de boicote a produtos brasileiros na Europa.
Bolsonaro e seus ministros, principalmente Ernesto Araújo, apontam que há “uso ideológico” de adversários políticos e “interesses comerciais” de países europeus, com o objetivo de prejudicar produtores brasileiros, especialmente da agricultura e da pecuária.
Em discursos apresentados à Organização das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro afirmou que o Brasil tem sido "vítima" de uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal, e voltou a culpar ONGs por crimes ambientais, sem apresentar provas.
O governo questiona também risco para a “soberania” do país.
Bolsonaro comparado a Jesus Cristo
Em cerimônia no Instituto Rio Branco, em maio de 2019, o chanceler Ernesto Araújo elogiou o presidente Jair Bolsonaro, comparando-o a Jesus Cristo, “a pedra que os construtores rejeitaram” e “tornou-se a pedra angular”, segundo o Evangelho.
"A pedra que os órgãos da imprensa rejeitaram, a pedra que os intelectuais rejeitaram, que os especialistas rejeitaram... Essa pedra tornou-se a pedra angular do edifício do novo Brasil", afirmou o chanceler, que chegou a chorar durante o discurso.
“Apocalipse Zumbi”
Em visita a Washington, em setembro de 2019, Ernesto Araújo defendeu que o “climatismo” ameaça a soberania brasileira, criticou os vegetarianos e disse que se vê num “apocalipse zumbi”.
“No passado se usou justiça social como pretexto da ditadura, e agora fazem o mesmo com clima”, completou o chanceler afirmando que “nem comer carne mais é permitido.”
Conflito com Irã
O Itamaraty divulgou uma nota, em janeiro de 2020, em apoio aos Estados Unidos, depois que o governo norte-americano matou o general iraniano Qassem Soleimani. Além disso, associou o militar da Guarda Revolucionária do Irã ao terrorismo. “O governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo”, diz trecho do comunicado, que foi criticado, já que não havia necessidade de o Brasil se envolver no conflito.
Crise com a China
No início da crise causada pelo coronavírus, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) culpou a China pela pandemia e sugeriu a derrubada do regime comunista do país. Em resposta ao ataque, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, acusou o filho 03 do presidente de imitar seus “queridos amigos”, referindo-se ao então presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
O ministro Ernesto Araújo cobrou uma retratação da embaixada. Wanming escreveu que quem insiste em atacar o povo chinês “acaba sempre dando um tiro no próprio pé”.
Neste ano, o Brasil teve dificuldade nas negociações com a China a respeito de vacinas e insumos.
Censura
Em uma tentativa de melhorar a imagem, Ernesto Araújo proibiu o envio de reportagens publicadas no Brasil para os postos diplomáticos no exterior, em maio de 2020. A medida foi considerada ridícula, já que diplomatas têm acesso à internet.
Pouco antes, sete ex-ministros das Relações Exteriores redigiram um partido crítico à sua gestão desastrosa no Itamaraty. O texto afirmava que a política externa vigente afronta a Constituição, mina a credibilidade do país e afugenta os investidores internacionais.
Pária internacional
Consciente da diplomacia praticada atualmente pelo Itamaray, Ernesto Araújo admitiu que o Brasil se tornou um pária na comunidade internacional. “Talvez seja melhor ser esse pária, deixado ao relento, do lado de fora, do que ser um conviva no banquete do cinismo interesseiro dos globalistas”, disse em discurso, no Instituto Rio Branco, em outubro de 2020.
Fraudes nas eleições presidenciais dos EUA
Ernesto Araújo colocou as eleições americanas em dúvida, em janeiro deste ano, após invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores do ex-presidente Donald Trump. “Há que reconhecer que grande parte do povo americano se sente agredida e traída por sua classe política e desconfia do processo eleitoral”, escreveu no Twitter.
Com o aval do chanceler, o Brasil foi um dos últimos países a reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições americanas. Bolsonaro chegou a mencionar publicamente que teria ocorrido fraude nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, apoiando as falsas alegações de Donald Trump, candidato derrotado nas urnas.
O presidente fez também uma menção indireta a Biden, sem citá-lo nominalmente, rebateu o presidente eleito americano que disse que iria impor barreiras comerciais contra o Brasil se ele não apagar o fogo na Amazônia.
“Como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas na diplomacia não dá. Porque quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, se não, não funciona”, declarou Bolsonaro em um discurso inflamado a empresários do turismo.
Crise com a Índia
Sem apoio do Brasil em uma proposta apresentada à Organização Mundo do Comércio (OMC), a Índia deu o troco e deixou o país para trás na fila de prioridades na venda de vacinas.
Em outubro, a Índia apresentou proposta na OMC para a quebra de patente (licença temporária) de produtos relacionados ao combate da pandemia. Embora, no passado, o Brasil foi exemplo no uso de suspensão de patentes - com os medicamento genéricos, o governo de Jair Bolsonaro decidiu se alinhar aos Estados Unidos, à União Europeia e ao Japão. A proposta da Índia, apoiada pela África dos Sul, perdeu força.
A Índia exportou inicialmente lotes de vacinas para seis países e excluiu o Brasil dessa lista.
Além disso, o governo brasileiro pagou ao Instituto Serum, da Índia, um valor mais de duas vezes superior ao que os países ricos da União Europeia destinaram para garantir as vacinas da Oxford/AstraZeneca.
Contra lockdown
Em discurso na ONU, em fevereiro deste ano, Ernesto Araújo contestou medidas de restrição para o combate à covid-19. “Sociedades inteiras estão se habituando à ideia de que é preciso sacrificar a liberdade em nome da saúde. Não se pode aceitar um lockdown no espírito humano”, afirmou o chanceler, fazendo referência às políticas de isolamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus.
Supremacistas brancos
Chamado para se explicar no Senado, na última quarta-feira (24), Ernesto Araújo foi duramente criticado por parlamentares pela conduta dele no enfrentamento à pandemia e ouviu diversos pedidos para que deixe o cargo.
O ministro respondeu em tom considerado arrogante que dorme “com a consciência tranquila”.
“Faço um desafio: peça exoneração por 30 dias. Vamos ver se com esse gesto nós não conseguimos mais rapidamente a vacina da Coronavac ou mesmo a da Pfizer? Tenho a certeza de que com a sua exoneração, nós estaríamos nos redimindo junto à China e aos Estados Unidos e teríamos essas vacinas mais facilmente essas vacinas no braço dos brasileiros”, disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao contestar Araújo por não se ver como um empecilho ao Brasil.
Ao defender medidas de sua gestão, o chanceler argumentou que seu trabalho estava "mudando" o Brasil ao realinhar o país aos conceitos de conservadorismo, valores da família e espiritualidade e afastá-lo do globalismo.
Não bastasse a tensão com os senadores, o assessor especial Filipe Martins fez um gesto identificado como símbolo de supremacistas brancos durante a sessão no Senado na quarta.
Com isso, a ala ideológica do governo ficou mais enfraquecida e tanto Ernesto Araújo como Martins devem ser exonerados em breve.