'Faraó dos Bitcoins': Empresa identifica transferência de R$ 174 milhões da GAS Consultoria
A BlockSeer, empresa criada por especialistas em crimes cibernéticos e financeiros, descobriu uma movimentação de R$ 174 milhões, entre os dias 28 de fevereiro e 5 de março, em carteira de bitcoins relacionada à GAS Consultoria e Tecnologia, de Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins. Esta carteira estava adormecida desde 11 de dezembro de 2021, quando uma transferência em bitcoins, no valor de R$ 2,3 milhões, favoreceu Noiralis Zerpa, irmã de Mirelis Zerpa, mulher e sócia de Glaidson, que está foragida desde agosto daquele ano.
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O rastreamento da BlockSeer revelou quatro operações de transferência da carteira relacionadas à GAS para destinatários desconhecidos. A primeira, no dia 28 de fevereiro, no valor de R$ 11,7 mil - para os técnicos, o valor foi baixo porque a pessoa responsável queria fazer um teste. No mesmo dia, minutos depois, ocorrem mais duas transferências, uma de R$ 11,1 milhões e a outra de R$ 152 milhões. No dia 5 de março, em nova transação, saíram da carteira mais R$ 11,1 milhões.
A BlockSeer associou as operações à GAS porque a carteira aparece citada no processo instaurado contra Glaidson, Mirelis e outros sócios, na Justiça Federal, por crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em dezembro, quando as autoridades rastrearam a transferência que favoreceu Noirales, atribuíram a manobra a Mirelis Zerpa, que teria voltado a operar com bitcoins.
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Os técnicos da BlockSeer são peritos com certificação em blockchain, que usam as ferramentas de última geração, a Reactor, para descobrir fraudes com criptomoedas nas redes blockchain - livros-razões que computam todas as transações mundiais. A carteira digital (wallet) vinculada à GAS, por não estar dentro de corretores de criptomoedas, é mais difícil de apreender judicialmente, mas os técnicos garantem que toda a transação deixa rastros e pode ser bloqueada quando fica visível.
De acordo com a denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público Federal, o casal e outras 15 pessoas foram responsabilizadas pela montagem em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense, um esquema que movimentou R$ 38 bilhões entre 2015 e 2021. Porém, apenas R$ 200 milhões foram apreendidos. Do restante, os investigadores sabem apenas que Mirelis desapareceu, após sacar R$ 1 bilhão em bitcoins no dia seguinte às prisões.
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Recuperação de ativos
Na 5ª Vara Empresarial da Capital, no Rio de Janeiro, também corre um processo, de falência, contra a GAS. Um dos principais objetivos é recuperar os ativos da empresa e, com isso, pagar os credores. Os administradores da massa falida já cadastraram 127 mil clientes, que declaram total de R$ 9,9 bilhões em créditos. Para ir atrás dos recursos dos credores, escondidos em fundos secretos, a Justiça deve autorizar a contratação de escritórios de advocacia e empresas especializadas.
Especialistas acreditam que, se quiser trocar as criptomoedas movimentadas na carteira associada à GAS, a pessoa responsável terá de converter em alguma moeda corrente por intermédio de outra carteira. Com isso, a transação se tornará visível. Se a outra parte envolvida topar o risco, pode exigir um deságio.
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Esses compradores, porém, correrão o risco de vinculação a possíveis ilícitos e poderão responder pelo crime de lavagem de dinheiro, à luz da legislação brasileira, uma vez que há rígidas regras de compliance para operar no segmento, especialmente o KYC (Know Your Client - conheça o seu cliente) e o KYT (Know Your Transaction). Autoridades públicas e empresas privadas contratadas estão monitorando todas as transações e podem chegar a terceiros que receberam criptomoedas oriundas dessas wallets.
Procurados, os advogados de Mirelis, Ciro Chagas e André Hespanhol manifestaram perplexidade com as informações divulgadas pela BlockSeer. Veja a íntegra da nota:
"Recebemos com perplexidade a informação de que a BlockSeer teria obtido e estaria divulgando supostos dados financeiros da GAS Consultoria e Tecnologia. Importante dizer que a divulgação de dados financeiros de pessoas ou empresas sem a autorização judicial é crime devidamente tipificado no Código Penal brasileiro. É alarmante também que a BlockSeer, uma empresa privada, esteja tentando fazer o papel reservado à polícia ou ao Ministério Público. Invadir privacidade alheia, sob qualquer pretexto, também é crime.
Ciro Chagas André Hespanhol Advogados de Mirelis Zerpa".