Folião raiz: carnavalesco da Imperatriz Leandro Vieira se veste de Gal Costa e cai nos blocos de rua do Rio
Não basta vencer o carnaval. É preciso viver o carnaval, intensamente. E isso o carnavalesco Leandro Vieira tira de letra. Uma semana antes de entregar o desfile campeão da Imperatriz Leopoldinense, ele brincou pelas ruas do Rio em blocos das zonas Norte, como o Fuzuê da Ilha, e Sul, como Boi Tatá, fantasiado de Gal Tropical.
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Embora com um quê de improvisada, a fantasia tinha um toque de quem sabe contar bem uma história. Todos os elementos da capa do disco de 1979, um dos mais emblemáticos da carreira da cantora, estavam lá: as flores no cabelão armado e o vermelho predominante. Leandro sacou uma peruca, um vestidão e um violão customizado com batom e se misturou nas ruas para aproveitar a folia.
Com o campeonato deste carnaval, Leandro Vieira se estabelece como um dos maiores nomes do carnaval carioca. De 2015 para cá, foram cinco títulos. O carnavalesco também foi bicampeão pela verde e rosa (2016 e 2019), venceu o Grupo de Acesso de 2020 pela própria Imperatriz e em 2022 pelo Império Serrano. Conhecido por seus enredos políticos, ele abordou a temática este ano, mas de forma distinta do marcante “História para ninar gente grande”, da verde e rosa em 2019.
Ao levar Lampião à Sapucaí, Leandro adaptou a narrativa que desenvolvia antes, mas não abandonou sua estética. O trabalho também rendeu a ele o Estandarte de Ouro na categoria enredo.
As 'leandrices'
Na Imperatriz, as “leandrices” estavam, sobretudo, nas esculturas, como as do segundo carro, que representou a morte de Lampião. De maneira jocosa, ele retratou a decapitação do cangaceiro com mamulengos carnavalescos que muito lembravam o carnaval do ano passado na Mangueira. As marionetes e as cabeças do cangaceiro remetiam às esculturas do carro “Antigos carnavais”, abre-alas da verde e rosa em 2018. E, se em Lamartine Babo em 2020, Leandro levou o Trem da Alegria, este ano pela Sapucaí passaram as aeronaves lúdicas que conduziriam Lampião aos céus.
Acabamento primoroso
O cuidado com cada ponto do enredo é outra “leandrice” que esteve na Mangueira e desembarcou em Ramos. Quem passou pela concentração, viu o carnavalesco orientando os componentes sobre ações durante o desfile. Ao público, ficam visíveis o primor nas pinturas das alegorias e as fantasias com acabamentos caprichados.
Nas fantasias, outra “leandrice” são os estandartes e adereços de mão, sua assinatura. Os beatos, religiosos místicos do sertão nordestino, levavam em suas mãos um cajado com contornos carnavalescos. O adereço tinha capim seco e uma representação de ossada para ressaltar o sofrimento de quem vive à espera de um milagre na seca.
Mais que só político
O cordel na Sapucaí buscou contar o destino de Lampião após sua morte. Depois de ser morto, é rejeitado pelo diabo e vai buscar um espaço no céu. Pede ao Papa e até a São Pedro um lugar no paraíso, onde também não foi aceito. Lampião então termina no imaginário popular da cultura nordestina, celebrada pela Imperatriz. Sem entrar no mérito sobre quem foi Lampião, o carnavalesco conseguiu desenvolver o enredo com leveza que fez os componentes brincarem. Na Mangueira, Leandro conquistou dois campeonatos.