Gabriela Prioli fala dos desafios da maternidade e revela ter sido abusada aos 7 anos: 'Você pensa que a culpa é sua'

Na frente do espelho, Gabriela Prioli levou um susto ao olhar-se, nua, um dia após dar à luz Ava, sua filha com o DJ Thiago Mansur. A barriga e a cicatriz da cesárea, ainda com pontos, impressionaram a advogada, e uma avalanche de sentimentos invadiram seu peito. “Fiquei insegura. Estava me achando horrível, e não sabia se voltaria a ser quem era, a mulher que conhecia”, relembra. Enrolada em uma toalha, no banheiro da maternidade, chamou o marido.

“Eu disse: ‘Preciso que você me olhe, porque tenho medo de não voltar a ser a mulher que você conheceu, fisicamente falando’”. Para sua surpresa, Thiago sorriu. “Ele falou: ‘Amor, sua barriga é linda. Posso beijá-la? Foi por onde você trouxe a nossa filha, e sou muito grato por isso’”, conta ela, entre lágrimas, durante esta entrevista, via chamada de vídeo, pouco mais de dois meses após o nascimento da bebê, em São Paulo, onde mora.

O relato faz parte das descobertas da maternidade. A principal delas é permitir-se não ser uma mãe “invencível”. A segunda, não parar de trabalhar, mesmo com uma criança tão pequena em casa. Tudo com “o mínimo de culpa possível”, diz. É que, depois de quase três anos como uma das principais apresentadoras do canal CNN, Gabi começa, a partir de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, um novo capítulo em sua história profissional: estará ao lado de Astrid Fontenelle, Bela Gil e Larissa Luz na nova formação do “Saia Justa”, do GNT.

“Aceitei o convite rápido porque sabia que seria a realização de um sonho. Se eu falasse ‘não’, em algum momento alimentaria a narrativa de que abri mão do meu sonho por causa da maternidade”, explica. No comando do programa há dez anos, Astrid não esconde a empolgação com a chegada de Gabriela: “É desafiador conhecer pessoas novas, nos encontrarmos nas nossas diferenças. Ela chegou como um fenômeno da comunicação na área da política e tem uma habilidade de traduzir muita coisa. Estou junto nessa”. Apesar da felicidade com os novos desafios, para Gabriela é importante mostrar um lado não tão cor-de-rosa da maternagem. “Vinculamos a maternidade ao sacrifício, com consequências profundas, inclusive, na vivência da criança para o futuro. Se construo uma relação de afeto alicerçada no sofrimento, na culpa, passo a mensagem de que o amor depende do sofrer”, reflete.

“Comecei a me concentrar muito em transmitir uma experiência mais leve para a Ava.” Nas duas primeiras semanas pós-parto, Gabi viveu o chamado baby blues, período de fragilidade emocional, com alterações hormonais e de humor do puerpério. “Era um abismo. Me vi completamente desamparada, vivendo uma coisa muito mais profunda e sofrida do que havia imaginado”, revela. Para superar a fase, precisou de terapia, remédio e amadureceu a ideia de contar com uma vasta rede de apoio. “Postei algumas fotos amamentando, aos prantos. Sentia uma dor que não consigo descrever e culpa o tempo inteiro, porque Ava era perfeita, saudável, tudo estava bem. Pensei que havia enlouquecido”, conta.

Filha da fonoaudióloga Marta de Toledo Prioli e do contador Francisco Antônio Della Vedova, Gabriela perdeu o pai aos 6 anos, quando a família sofreu um acidente de carro em uma rodovia paulista. Com os olhos marejados, conta como soube da morte de Francisco. “Estávamos eu e meu irmão, Rafael, no banco de trás. Meu pai parou em um posto na estrada para ver o que acontecia com o motor, quando foi prensado por outro automóvel que perdeu a direção”, lembra. Marta saiu do veículo protegendo os filhos no colo, um em cada braço, e Gabriela descobriu, então, que Francisco havia sido transferido para o “Hospital do Céu”.

"Você aprende a viver com a ausência. Meu pai tinha 39 anos, a idade do Thiago, e eu acabei de ter uma filha... (sua voz embarga). Ainda sou muito apaixonada por ele. Não sigo uma religião, mas meu Deus é meu pai. Quando peço ajuda, é com ele que estou falando”, conta.

Apesar da infância feliz, relembrar seus primeiros anos traz outras dores além da morte do pai. Aos 7, Gabriela foi abusada por um adolescente que frequentava sua casa. “Ele era mais velho que eu, e tocava minhas partes íntimas. Não contei para ninguém na época, achava que era uma brincadeira. Só comecei a ver que havia um problema quando percebi que essa era uma memória que me causava muito incômodo”, relata. O fato fez com que a advogada carregasse por anos, e até hoje, a sensação de ter uma mácula, de corpo e mente.

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