Gloria Maria estava afastada da Globo desde agosto; entenda a doença
Ícone do telejornalismo brasileiro morreu nesta quinta-feira (2)
Resumo da Notícia:
Gloria Maria estava afastada da Globo desde agosto de 2022
Ícone do telejornalismo brasileiro morreu nesta quinta-feira (2)
Ela havia sido diagnosticada com novas metástases cerebrais
O Brasil amanheceu triste nesta quinta-feira (2) com notícia da morte de um grande ícone do telejornalismo brasileiro. Gloria Maria nos deixou após não resistir a novas metástases cerebrais e deixa um legado de representatividade como a primeira repórter negra da televisão nacional.
Presença marcante na telinha da Globo, a jornalista estava afastada da emissora por motivos de saúde desde agosto do ano passado, quando assumia o comando do "Globo Repórter" com Sandra Annenberg. Após 12 anos como apresentadora da atração das noites de sexta, o último programa apresentado por ela foi a edição do dia 5 de agosto de 2022.
Boa noite! O #GloboRepórter está no ar e vai mostrar os brasileiros que estão salvando a natureza 🌳 pic.twitter.com/qJtoqM8p0K
— Globo Repórter (@GloboReporter) August 6, 2022
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A doença
A repórter foi diagnosticada com câncer no pulmão em 2019. Durante o tratamento, seu quadro se agravou com metástase para o cérebro e ela se recuperou após uma cirurgia de emergência em novembro para tirar o tumor.
De acordo com a Globo, a Gloria vinha fazendo tratamento com radioterapia e imunoterapia, quando, em meados de 2022, a doença voltou. De forma mais agressiva, com novos focos de metástase no cérebro, o tratamento parou de fazer efeito e a jornalista veio a falecer.
O que é a metástase cerebral?
A metástase acontece de forma secundária, quando já há um câncer no corpo do paciente. No caso de Glória Maria, a artista enfrentou, em 2019, o tumor no pulmão. As células cancerígenas se espalham para demais regiões do corpo via corrente sanguínea, fazendo com que essas áreas também formem cistos malignos. Ou seja, mesmo que "à distância", o câncer se forma em outras regiões.
De acordo com o Manual MSD, os tumores cerebrais podem causar:
Fraqueza;
Dificuldade para andar;
Perda de equilíbrio;
Perda parcial ou completa da visão;
Dificuldade em compreender ou usar a linguagem;
Problemas de memória.
Além do câncer de pulmão, outros cânceres como o de mama, renal, melanoma, tireoide, linfoma e leucemia também podem evoluir para o cérebro.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da doença é feito através de uma ressonância magnética ou tomografia. Uma biópsia local também pode ser realizada para ajudar na especificação do diagnóstico. O Manual MSD conta que os médicos desconfiam da doença quando o paciente apresenta os sintomas ou convulsiona, havendo o histórico de cânceres anteriores.
O tratamento para a doença é feito com cirurgia, radioterapia, quimioterapia e também uma junção dos três métodos. Medicamentos são usados para diminuir a pressão no interior da cabeça. Como o tumor pode atingir diversos locais do cérebro, em algumas áreas é difícil realizar a remoção do tumor sem danificar ramificações e pedaços importantes do órgão.
"Normalmente, quando você tem uma metástase de câncer de pulmão, pessoalmente, entre outros, para o sistema de nervoso central, a cirurgia é descompressiva. Ela não tem a capacidade de curar o paciente do câncer em geral", diz Francisco Bomfim, médico-cirurgião da cabeça e pescoço.
Referências: Manual MSD.
Carreira
Gloria era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.
Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.
Gloria foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Gloria. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.
Passaporte carimbado
Uma das marcas da carreira de Gloria Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.
Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.
Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Além de cobrir viagens e celebridades, ela também teve momentos na história do mundo na sua história como: a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Gloria Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”. Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Gloria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.