Gloria Maria fez William Bonner gostar de telejornalismo: "Símbolo"
Jornalista morreu nesta quinta-feira (02) após ser diagnosticada com novas metástases cerebrais
Resumo da Notícia:
William Bonner lamenta morte de Gloria Maria em depoimento
Jornalista exaltou a repórter como símbolo do telejornalismo brasileiro
Veterana das telas deixa as filhas Maria e Laura
Gloria Maria é unânime no quesito referência no jornalismo brasileiro, tanto para os espectadores quanto para os colegas de profissão. O detalhe é que a repórter é também símbolo para outros grandes nomes da reportagem global na maior emissora do país.
A jornalista morreu nesta quinta-feira (02) após ser diagnosticada com novas metástases cerebrais e está sendo homenageada por muitos colegas de trabalho em rede nacional. Dentre eles, William Bonner fez questão de registrar seu depoimento e relatar que a repórter foi responsável por seu interesse pelo telejornalismo. Vale lembrar que o jornalista é âncora do "Jornal Nacional" há mais de duas décadas.
Leia mais:
Glória Maria: lembre como jornalista conheceu as filhas, Maria e Laura
Leilane Neubarth chora ao vivo ao noticiar morte de Glória Maria: "Tá muito difícil"
Madonna, Freddy Mercury, Mick Jagger: relembre entrevistas marcantes de Gloria Maria
Lula lamenta a morte de Glória Maria: "Uma das maiores jornalistas de nossa televisão"
"Eu sou um entre milhões de telespectadores brasileiros, fã do trabalho da Gloria Maria. Eu aprendi a gostar de telejornalismo vendo reportagens da Gloria Maria. Como profissional de televisão, sou um entre centenas daqueles que tiveram a oportunidade e a Gloria de conviver com ela no trabalho e de conhecer a exuberância da produção dela, a vontade com que ela sempre saía para realizar um trabalho e o alvoroço que ela provocava antes de sair, no camarim, no corredor, na redação", afirmou Bonner na grade da TV Globo.
"Nós, da TV Globo, sabemos que a Gloria é um símbolo não só da Globo, mas do telejornalismo brasileiro. Por isso, a gente está muito ferido hoje. Muito triste", completou.
Na sequência, William Bonner ressaltou a importância de amparar Maria, de 15 anos, e Laura, de 14 anos, filhas de Gloria Maria. "Nós temos algumas certezas, uma delas é que as filhas terão carinho em torno delas. Nós desejamos para essas meninas força — o carinho, elas terão garantido sempre. Elas vão ter também a memória da mãe carinhosíssima que a Gloria foi para elas, presente, dedicada", declarou.
Ele ainda exaltou a irreverência da repórter em rodar o mundo e fazer as reportagens de forma única. "Ela criou trilhas na nossa profissão, ela inventou formas de fazer. Enfim, como brasileiro telespectador, tenho a compartilhar com cada um, claro, a tristeza, mas também esta certeza de que o trabalho dela permanece", disse.
"Aquela memória que a gente vai ter dela é daquelas aventuras incríveis que ela fez, daqueles lugares fantásticos que ela trouxe para a gente, daquelas histórias que ela contou com o talento incrível que tinha para contar, com aquela espontaneidade, com aquela naturalidade. Um descanso para Glória, um carinho para as filhas, e a gente, a gente se consola com isso", concluiu.
"Glória Maria é um símbolo do telejornalismo brasileiro" 🖤 #Encontro pic.twitter.com/ZPioBew97W
— TV Globo 📺 (@tvglobo) February 2, 2023
Glória era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.
Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.
Glória foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Glória. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.
Passaporte carimbado
Uma das marcas da carreira de Glória Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.
Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.
Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Além de cobrir viagens e celebridades, ela também teve momentos na história do mundo na sua história como: a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”. Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Glória também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.