Governadores ainda tentam alterar projeto do teto do ICMS
Os governadores iniciaram nova ofensiva contra o projeto de lei que cria o teto de 17% para o ICMS de combustĂveis, energia, transporte e telecomunicaçÔes, e que pode retirar R$ 100 bilhĂ”es de estados e municĂpios, segundo nĂșmeros apresentados ontem aos congressistas.
O projeto é uma prioridade do governo Jair Bolsonaro para tentar reduzir a inflação e melhorar sua popularidade em ano eleitoral. A proposta é ponto-chave no pacote anunciado na segunda-feira pelo presidente no Palåcio do Planalto e depende de sua aprovação para seguir adiante. O que o governo propÔe é, tão logo seja aprovado o limite de 17%, que os estados zerem o imposto estadual sobre o diesel em particular e que recebam uma compensação por isso. Isso seria feito por meio de uma proposta de emenda constitucional (PEC), que sequer foi apresentada.
Uma proposta final dos governadores só serå conhecida depois da reunião desta quarta-feira do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a segunda leva dos governadores, que terå a presença de Rodrigo Garcia (PSDB-SP). Após o encontro, o relator do projeto, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), se reunirå com os secretårios de Fazenda dos estados para consolidar as propostas dos estados.
No encontro desta terça-feira à noite estiveram presentes nomes como Claudio Castro (PL-RJ), Romeu Zema (Novo-MG) e Paulo Dantas (MDB-AL).
â (Quero) Deixar claro sĂł que os estados estĂŁo sim dispostos a terem perdas. Isso foi uma fala clara. (Mas) que essas perdas sejam razoĂĄveis â afirmou Castro apĂłs se reunir com Pacheco. â A gente nĂŁo vai polemizar com o governo federal. A gente tem que achar uma solução para isso. A população espera de nĂłs uma solução. E os estados tĂȘm que ser governĂĄveis.
O governador do Rio frisou:
â Os estados deixaram claro que topam fazer o sacrifĂcio, mas que esse sacrifĂcio nĂŁo pode inviabilizar polĂtica pĂșblica, saĂșde, educação, infraestrutura, enfim toda a polĂtica pĂșblica que Ă© feita.
Embora o projeto final dos governadores ainda não seja conhecido, ele pode propor uma compensação maior do Tesouro por perdas com ICMS ou ainda uma implementação progressiva do teto do tributo. Isso jå é definido por parte dos senadores.
A proposta de compensação apresentada pelo governo Bolsonaro na segunda-feira também não foi bem-vinda entre os governadores. Castro afirmou a PEC, que ainda serå apresentada, não servirå como mecanismo de compensação aos estados. Segundo o governador fluminense, a proposta não foi discutida no encontro desta noite.
â Vamos entender uma coisa. O que foi anunciado pelo Planalto nĂŁo se comunica em nada com o PLP-18. Foi decidido na reuniĂŁo que nĂłs sĂł de baterĂamos o PLP-18. Como a gente nĂŁo sabe o texto, nĂŁo sabe nada ainda, foi uma escolha tĂ©cnica que nĂłs separarĂamos as discussĂ”es. AtĂ© porque toda a compensação que foi dita nĂŁo abarca em nada o PLP-18. O que foi anunciado pelo Planalto ontem Ă© totalmente afastado do PLP-18 â afirmou.
Votação
Mas o governo tem pressa para fazer com que os efeitos sejam percebidos pela população antes da eleição. E a celeridade de votação das propostas para tentar baratear os combustĂveis, um desejo do presidente Jair Bolsonaro, ainda Ă© dĂșvida no Congresso, diante da resistĂȘncia dos governadores e de parlamentares. Pacheco contrariou o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), relator do projeto que cria um teto do ICMS para combustĂveis, e afirmou que nĂŁo estĂĄ garantido que a medida serĂĄ votada na Casa na segunda-feira. Minutos antes, Coelho afirmara que queria votar no dia 13 o projeto e as propostas de emenda Ă Constituição (PECs) que visam reduzir alĂquotas da gasolina e do diesel.
â Ă preciso que elas (as PECs) sejam apresentadas, entendermos quais sĂŁo os limites delas, o conteĂșdo â disse Pacheco, que completou: â As PECs, uma vez formalizadas e tendo condiçÔes procedimentais, com as assinaturas suficientes para a tramitação, aĂ nĂłs vamos avaliar o momento para a apreciação delas, se devem passar pela CCJ ou se irĂŁo direto ao plenĂĄrio.
Antes, Bezerra havia afirmado que o texto das duas propostas seria apresentado hoje, junto com o relatĂłrio do projeto do ICMS.
Uma das propostas vem sendo chamada de PEC dos CombustĂveis e prevĂȘ, entre as medidas, zerar os impostos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre a gasolina, gĂĄs e o etanol. O projeto Ă© defendido pelo governo federal e tem como um dos autores o senador Eduardo Gomes (PL-TO), lĂder do governo no Congresso. O relator serĂĄ Bezerra Coelho. JĂĄ a segunda PEC Ă© de autoria de Bezerra e pretende manter uma alĂquota mais competitiva para biocombustĂveis.
Enquanto isso, estados e municĂpios intensificaram pressĂ”es contra o pacote do governo. A Confederação Nacional dos MunicĂpios (CNM) diz que as cidades perderĂŁo R$ 27 bilhĂ”es anuais sem compensação. Para a entidade, as medidas sĂŁo âde extrema irresponsabilidadeâ. JĂĄ os estados vĂŁo se reunir hoje pela manhĂŁ com os senadores. Um grupo de parlamentares quer escalonar a redução do ICMS atĂ© 2024, e nĂŁo imediatamente.
Como as duas PECs sĂŁo de autoria de senadores, elas serĂŁo votadas primeiro no Senado. Para serem aprovadas, as propostas precisaram ter votos favorĂĄveis de 49 dos 81 senadores em dois turnos de votação. Na CĂąmara, sĂŁo no mĂnimo 308 deputados de 513 senadores em duas votaçÔes.
O presidente da CĂąmara, Arthur Lira (PP-AL) indicou que o projeto deve ser aprovado nas duas Casas antes do recesso de julho.