Governo colombiano e ELN se comprometem a negociar cessar-fogo

O governo colombiano e a guerrilha do ELN concordaram em iniciar a negociação de um cessar-fogo nesta sexta-feira (10), no encerramento da segunda rodada de um diálogo de paz.

"Anunciamos o tratamento do início do cessar-fogo", diz o acordo divulgado durante um ato do qual participam negociadores das duas partes.

O marco do eventual acordo será o Direito Internacional Humanitário, acrescenta o texto, lido pela dirigente indígena Dayana Domicó, integrante da delegação do governo do presidente Gustavo Petro.

"Isto implica em ações e dinâmicas humanitárias para reduzir a intensidade do conflito, facilitar a participação da população neste processo de paz e gerar garantias para que isso seja possível nas áreas de maior crise humanitária", diz o documento.

Os delegados do governo colombiano e do ELN mantinham diálogos no México desde 13 de fevereiro passado.

Duas semanas depois, o governo reconheceu o grupo como "organização política armada rebelde", distanciando-o de outras gangues armadas, incluídas as de traficantes de drogas, a quem Petro oferece um processo de submissão à Justiça em troca de benefícios legais, estratégia batizada de "paz total".

Na quarta-feira eles anunciaram que vão realizar em Cuba uma terceira rodada de negociações, embora não tenham informado a data em que ocorrerá esta nova rodada.

Havana foi sede das negociações que concluíram com a desmobilização, em 2016, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior guerrilha do país durante anos.

O consenso anunciado nesta sexta-feira na Cidade do México é parte de uma renovada agenda de negociação, que segundo seus artífices dá lugar à participação cidadã para conseguir um "acordo nacional" que coloque fim às hostilidades e as históricas desigualdades sócio-econômicas de Colômbia.

- Clamor nacional -

Os representantes do governo destacaram que a maneira como se abordará o cessar-fogo é "inédita", não supõe uma "pré-condição" para o avanço do diálogo ou um "elemento que seja abordado no final do processo".

Também concordaram que será de "caráter bilateral e nacional", "temporário com vocação de continuidade" e "sujeito a avaliação conjunta a partir do cessar recíproco de operações ofensivas, mantendo as defensivas".

Este eventual silenciamento de armas prevê também um "mecanismo de varredura, verificação e monitoramento" sobre os quais as partes ainda não ofereceram detalhes.

As negociações têm como garantidores os governos do Brasil, Chile, Cuba, Noruega, México e Venezuela, e os da Alemanha, Espanha, Suíça e Suécia como acompanhantes. Seus representantes estiveram presentes nesta sexta em um evento em um centro cultural da capital mexicana.

Pablo Beltrán, veterano líder da guerrilha surgida em 1964, destacou que foram dados "os primeiros passos para alcançar um cessar-fogo", um ponto crítico para vastas regiões da Colômbia onde o conflito já deixou dezenas de milhares de mortos e cerca de oito milhões de deslocados.

"É um clamor de toda a nação colombiana. Ouvimos este grito e sentimos que a delegação da ELN também", destacou Otty Patiño, negociador do governo e companheiro de armas de Petro na dissolvida guerrilha M-19.

- "Haja o que houver" -

Em sua intervenção, Márquez, primeira afrodescendente na vice-presidência colombiana, instou os negociadores a "continuar na mesa haja o que houver".

"É a primeira vez que lhes peço para olhar na cara sem medo", lançou a funcionária da tribuna, dirigindo-se aos guerrilheiros.

Em 2019, antes de assumir o cargo, Márquez foi atacada por desconhecidos com granadas e rajadas de fuzil por seu trabalho como ativista ambiental no departamento de Cauca (sudoeste), onde ainda reside.

"A paz total é o caminho para não condenar à barbárie as futuras gerações", manifestou a vice-presidente, acompanhada pelos chanceleres de México, Marcelo Ebrard, e da Colômbia, Álvaro Leyva.

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