Com Salles pressionado, governo dos EUA espera 'seriedade' de Bolsonaro na Cúpula do Clima
EUA não pretendem dar recursos em troca de promessas de preservação ambiental, como pede ministro Ricardo Salles
Bolsonaro participa da Cúpula de Líderes sobre o Clima organizada pelo governo Biden, que será realizada de forma virtual nos dias 22 e 23 de abril
Norte-americanos querem que Bolsonaro assuma compromissos contra desmatamento em seu discurso no encontro
O governo Joe Biden espera que o presidente Jair Bolsonaro demonstre "seriedade" na discussão sobre desmatamento durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima e descarta, neste momento, focar em recursos financeiros em troca de promessas de preservação ambiental, como reivindica o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
"Nós realmente esperamos que o presidente Bolsonaro use essa oportunidade [cúpula do clima] para demonstrar a seriedade dele, abordando a mudança climática e a redução de emissões causadas pelo desmatamento na Amazônia", disse à reportagem um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
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Bolsonaro participa da Cúpula de Líderes sobre o Clima organizada pelo governo Biden, que será realizada de forma virtual nos dias 22 e 23 de abril. Questionado se os Estados Unidos fechariam um acordo com o Brasil oferecendo recursos financeiros em troca da preservação da Amazônia, o porta-voz respondeu: "Continuamos focando nossas conversas nas medidas necessárias para frear o desmatamento ilegal, em vez de pensar em fontes específicas de financiamento".
A resposta é uma ducha de água fria nas pretensões de Salles, que vem tentando convencer os EUA a enviarem dinheiro ao Brasil em troca de metas de redução de desmatamento. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Salles declarou que conseguiria reduzir a devastação da Amazônia em até 40% em 12 meses —mas somente se recebesse US$ 1 bilhão de países estrangeiros.
Em reunião com integrantes da equipe de John Kerry, enviado especial para o clima do governo Biden, Salles mostrou slides com a imagem de um cachorro sentado, abanando o rabo diante de uma máquina de frango assado. Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o desenho vinha acompanhado do texto "expectativa de pagamento", e os frangos carregavam cifrões de dólares estampados no peito.
O governo americano espera que Bolsonaro, em seu discurso na cúpula da semana que vem, assuma "um compromisso muito claro de acabar com o desmatamento ilegal, com medidas tangíveis para punir os desmatadores e uma sinalização política de que desmatamento ilegal e invasões de terra [grilagem] não serão tolerados", informou o porta-voz do Departamento de Estado.
"Acreditamos que é realista esperar que o Brasil tenha uma redução real no desmatamento até o fim da estação de queimadas de 2021." A gestão Biden vem sofrendo pressões de organizações internacionais de meio ambiente e de direitos humanos para não fechar um acordo que repasse recursos ao governo Bolsonaro.
Bolsonaro é visto como chefe de Estado não confiável
Em reunião recente com membros da equipe de Kerry, organizações enfatizaram que o presidente não é confiável e que repassar recursos antes de haver progresso real seria premiar o retrocesso na política ambiental brasileira e ajudar na estratégia de relações públicas de Bolsonaro.
Nesta quinta-feira (15), ativistas e legisladores promovem um evento paralelo à cúpula dos líderes, o Amazon Climate Forum, com participação de Sonia Guajajara, porta-voz da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), da deputada federal Joenia Wapichana, de Daniel Wilkinson, diretor da área de meio ambiente e direitos humanos da Human Rights Watch, de deputados da ala mais progressista do Partido Democrata, como Raul Grijalva e Mark Pocan, e de artistas como Morgan Freeman e Barbra Streisand. Os atores Leonardo Di Caprio e Mark Ruffalo também se juntaram à ofensiva contra um acordo que premie Bolsonaro.
Watch this from @ApibOficial. @JoeBiden, your choices are #AmazonOrBolsonaro. Listen to the First Peoples and make the right choice for the people of Brazil and for our Earth. @ClimateEnvoy pic.twitter.com/a9DUHG4sND
— Mark Ruffalo (@MarkRuffalo) April 12, 2021
"Joe Biden, suas opções são ou a Amazônia ou Bolsonaro. Escute os povos originais [indígenas] e tome a decisão correta para o povo do Brasil e para nossa Terra", escreveu Ruffalo no Twitter. Embaixadores de outros países, além dos EUA, indicaram, em videoconferência com o chanceler brasileiro, Carlos França, na sexta-feira (10), que o apoio financeiro só será liberado após serem mostrados resultados. Também segundo reportagem da Folha de S.Paulo, essa foi a mensagem dos chefes das missões diplomáticas em Brasília de Alemanha, Reino Unido, Noruega, EUA e União Europeia.
"Reconhecemos e respeitamos a soberania do Brasil ao lidar com desafios ambientais, e podemos reforçar nosso forte histórico de cooperação ambiental para atingir objetivos mais ambiciosos", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano. "A Cúpula dos Líderes é uma oportunidade para o Brasil demonstrar liderança ambiental no cenário global. E esperamos que as declarações feitas pelos líderes sejam embasadas em ações tangíveis em seus países."