Na Colômbia, Hernández aceita debater com Petro, mas impõe série de condições
O candidato de esquerda à Presidência da Colômbia, Gustavo Petro, aceitou nesta quinta-feira todas as condições que seu adversário, o populista de direita Rodolfo Hernández, impôs para um debate antes do segundo turno de domingo. Ainda não está claro quando o evento irá acontecer, mas na quarta a Justiça emitiu uma ordem obrigando os políticos a agendarem um debate até hoje.
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Hernández, o milionário excêntrico que surpreendeu ao chegar no segundo turno com um discurso anticorrupção, se recusava a debater com o ex-guerrilheiro Petro, considerando os debates presenciais "polarizantes e odiosos". Após o veredicto de quarta, contudo, emitiu uma série de condições que o favorecem para participar.
Demandou que o debate aconteça na cidade da qual é ex-prefeito, Bucaramanga, seja moderado por jornalistas que considera alinhados à sua campanha e que a maior parte dos assuntos pautados não sejam as plataformas de campanha de ambos, mas as polêmicas relacionadas ao seu adversário. Tudo deve acontecer em exatos 60 minutos e as respostas devem levar cinco minutos.
Se a intenção era que a evidente falta de neutralidade assustasse, Petro, que pode se tornar o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, não hesitou:
— Podem pôr as condições que quiserem, não tenho problema. Estou disposto a ir até Bucaramanga. Onde ele quiser — disse Petro, que defende há semanas a realização de um embate entre os candidatos.
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A Justiça ordenou a ambos candidatos "que, no prazo de 48 horas (...), solicitem e programem conjuntamente, até quinta-feira, 16 de junho de 2022, a realização de um debate presidencial no sistema de mídia pública". De acordo com o tribunal, os debates são "um direito do candidato de expor suas ideias, mas ao mesmo tempo um dever para com o conglomerado social".
A equipe de Petro havia dado seu aval ao sistema de mídia pública RTVC, responsável pela organização do evento. Hernández, por outro lado, pediu um esclarecimento do veredicto que obrigou o debate a acontecer, em uma tentativa de fazer o tempo passar. Horas depois, contudo, emitiu o comunicado impondo suas condições:
“Também estou pronto, como estou há 50 anos, quando decidi construir casas, criar empregos, pagar impostos e não viver como um burocrata”, diz a carta.
Referindo-se Petro, disse que a ordem do tribunal foi promovida por "você e seus afiliados" e que seu direito de debater foi transformado em uma obrigação “stalinista”. Afirmou, contudo, que acata a ordem e pede que o debate seja realizado nas próximas 12 horas:
“Como se um debate fosse capaz de apagar nosso passado e os rodolfistas de coração, ou militantes eleitorais que há quatro anos eram 8 milhões e agora são 8 milhões e meio (o número de eleitores do Petro), fossem mudar de ideia sobre o que é dito ou não dito no místico e endeusado debate”, escreve.
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Ao responder à “carta provocativa”, o político de esquerda voltou a mostrar sua disposição de debater frente a frente com o adversário:
“Estou feliz que você concordou em debater”, afirmou. “No entanto, não imponho condições a este debate. Nenhuma. Deixo nas mãos do sistema de mídia pública RTVC todos os detalhes do debate: desde os moderadores, até os tópicos, incluindo, é claro, aqueles que você pleiteia”.
Petro continuou:
“Você diz que aceita o debate. Não é verdade. Querendo impor condições, você zomba do debate, da Justiça, da mídia e dos colombianos. Não importa. Seu desprezo pelas menores normas democráticas é total e revelador. Seu desprezo pelos milhões de colombianos que têm o direito de comparar nossas plataformas e soluções é muito revelador. Vejo vocês em Bucaramanga, claro”.
Na reta final da campanha, os candidatos tentam convencer os abstencionistas (45%), a maioria jovens e os indecisos. As pesquisas registram empate técnico nas intenções de voto. Petro, de 62 anos, se impôs no primeiro turno com 40% dos votos e enfrentará no segundo turno Hernández, de 77 anos, que surpreendentemente retirou a direita da disputa pelo poder ao conseguir a segunda melhor votação (28%).
O político, que engloba todo seu programa no combate à corrupção, foi o candidato que mais cresceu na reta final da corrida presidencial. Ele recebeu o apoio da direita e de outras forças tradicionais para a votação, numa espécie de frente “antipetrista” que o aproxima do poder. Petro, que pode se tornar o primeiro presidente da esquerda na história da Colômbia, está ganhando apoio de setores do centro.