Independência do Brasil na Bahia chega à Sapucaí nos enredos de Unidos da Tijuca e Beija-Flor
É público e notório que a História da Bahia é plena de lutas e festas, muitas vezes umas associadas às outras. Mas quem se arriscaria a dizer qual é a maior festa baiana depois do carnaval?
— O Dois de Julho é a data magna da Bahia — decreta o antropólogo Fábio Lima. — Ele celebra a luta pela independência do estado e do Brasil, uma batalha empreendida por negros, indígenas, mulheres.
Pois uma história ilustrada como essa, apesar de celebrada com pompa e circunstância na Bahia, é pouco reconhecida fora do estado. Para mostrar ao povo mais uma história que a História não conta, surgem elas, as escolas de samba.
— Quando a gente se propõe a desfazer a ideia da independência a partir do Sete de Setembro, oferecemos o Dois de Julho, que é a real expulsão dos invasores e uma revolução que acontece de maneira popular — diz André Rodrigues, carnavalesco da Beija-Flor ao lado de Alexandre Louzada.
A escola de Nilópolis apresenta, no desfile de amanhã, o enredo “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”, com pesquisa de Mauro Cordeiro. Em uma linha semelhante a “História para ninar gente grande”, desfile campeão da Mangueira de 2019, a atual vice-campeã dá voz às minorias.
— O Dois de Julho oferece muito mais brasilidade, perspectiva de Brasil do que o próprio Sete de Setembro — avalia o carnavalesco.
Em um enredo com menos viés político do que o da Beija-Flor, a Unidos da Tijuca também fala em Dois de Julho ao cantar o Recôncavo (região banhada pela Baía de Todos os Santos), com “É onda que vai… É onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”: “Nesse eterno dois de julho, sou caboclo rebelado/Terra que banho de luta/Pau Brasil, barril dobrado”, diz o samba que a escola do Borel cantará na noite de hoje (“barril dobrado” é uma expressão baiana positiva, de exaltação).
No desfile, o Dois de Julho estará representado num tripé, com um grande caboclo, para retratar os índios e mestiços baianos que lutaram pela Independência. Bandeiras vão lembrar cinco personagens importantes nessas batalhas, como Maria Quitéria, que mais tarde viria a receber a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul.
— Pode ser que tenhamos captado de alguma forma uma energia que está circulando — diz o carnavalesco da Tijuca, Jack Vasconcelos, ao comentar a coincidência nos enredos de sua escola e da Beija-Flor, vizinhas na Cidade do Samba. — As escolas são como antenas que captam essas vibrações que vêm da população. O diferencial do nosso enredo é a alegria constante.
O antropólogo Fábio Lima corrobora:
— É um marco fundador do patriotismo baiano, comemorado desde 1824.