Irã clama vingança após morte de general em bombardeio dos EUA

Sayyed Issa Tabatabai, the representative of Iran's supreme leader Ayatollah Ali Khamenei, receives condolences at the Iranian embassy in the Lebanese capital Beirut on January 3, 2020, following the killing of Iranian Revolutionary Guards top commander Qasem Soleimani in a US strike on his convoy at Baghdad international airport. - The leader of Lebanon's Tehran-backed Hezbollah group called for the death in a US strike of top Iranian commander Major General Qasem Soleimani to be avenged. "Meting out the appropriate punishment to these criminal assassins... will be the responsibility and task of all resistance fighters worldwide," Hassan Nasrallah said in a statement. (Photo by Anwar AMRO / AFP) (Photo by ANWAR AMRO/AFP via Getty Images)
Sayyed Issa Tabatabai, o representante do líder supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, recebe as condolências da embaixada iraniana no Líbano. (Foto: ANWAR AMRO/AFP via Getty Images)

Um bombardeio dos Estados Unidos matou nesta sexta-feira (3) o influente general Qasem Soleimani e um líder pró-Teerã no aeroporto internacional de Bagdá, o que exacerbou as tensões regionais e provocou pedidos de "vingança" do Irã.

O Pentágono afirmou que o presidente Donald Trump deu a ordem de "matar" Soleimani depois que uma multidão pró-Irã atacou a embaixada americana em Bagdá na terça-feira.

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O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, pediu "severa vingança" pela morte de Soleimani, na mais grave escalada em uma temida guerra entre Irã e Estados Unidos em território iraquiano.

A embaixada americana recomendou a seus cidadãos que abandonem "imediatamente" o Iraque. O presidente Trump tuitou uma foto da bandeira dos Estados Unidos, sem qualquer explicação.

O bombardeio americano, nas primeiras horas da sexta-feira contra um comboio de veículos no aeroporto internacional de Bagdá, matou nove pessoas, incluindo o general Soleimani, que era responsável pelas questões iraquianas na Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã, e Abu Mehdi al-Muhandis, que tinha dupla cidadania iraquiana e iraniana, o número dois das Forças de Mobilização Popular, ou Hashd al Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Teerã integrada ao Estado iraquiano.

"Esta é a maior operação de decapitação já realizada pelos Estados Unidos, maior que as que mataram Abu Bakr al-Bagdadi ou Osama bin Laden", líderes do Estado Islâmico (EI) e da Al-Qaeda respectivamente, afirmou Phillip Smyth, analista americano especializado em grupos armados xiitas.

Uma fonte militar americana afirmou à AFP que o impacto que pulverizou dois veículos do comboio foi executado com um "tiro de precisão de drone".

Também afirmou, sob anonimato, que alguns dos 750 soldados adicionais mobilizados chegaram a Bagdá para reforçar a segurança na embaixada americana.

As reações ao bombardeio foram quase imediatas. China, União Europeia, Grã-Bretanha, França e Alemanha pediram calma e prudência.

O Irã e seus movimentos satélites, como o Hezbollah libanês, o Hamas palestino ou os huthis iemenitas, clamaram vingança.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu interrompeu sua viagem à Grécia para retornar em caráter de urgência ao país.

"Não há nenhuma dúvida de que a grande nação do Irã e outras nações livres da região se vingarão por este crime horrível dos criminosos Estados Unidos", prometeu o presidente iraniano, Hassan Rohani.

A diplomacia iraniana convocou o embaixador da Suíça, que representa os interesses dos Estados Unidos em Teerã.

Em Teerã, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra os "crimes" americanos e gritaram frases como "Morte aos Estados Unidos".

ENTRE DOIS INIMIGOS

As mortes desta sexta-feira aumentam o temor citado por vários analistas há alguns meses: que o território do Iraque se transforme em um campo de batalha indireto para Irã e Estados Unidos.

O presidente iraquiano Barham Saleh pediu "moderação" a todos, enquanto vários comandantes pró-Irã pediram aos combatentes que "estejam preparados" para responder ao ataque americano.

O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, teme que o ataque provoque uma "guerra devastadora no Iraque", ao mesmo tempo que o influente líder xiita iraquiano Moqtada Sadr anunciou a reativação de sua milícia anti-EUA, o Exército de Mehdi, e ordenou que seus combatentes fiquem preparados.

O grande aiatolá Ali Sistani, figura tutelar da política iraquiana, considerou o ataque americano "injustificável", enquanto seu representante na cidade sagrada xiita de Kerbala leu o sermão que denunciou "uma violação flagrante da soberania iraquiana". Centenas de fiéis gritaram "Não aos Estados Unidos".

Há vários anos o Iraque se encontra no meio do fogo cruzado entre seus dois grandes aliados: Estados Unidos e Irã.

Em 2003, ao derrubar o regime de Saddam Hussein, Washington passou a controlar as questões iraquianas. Mas Teerã e o movimento pró-Irã se infiltraram no sistema aplicado pelos americanos.

As forças pró-Teerã acumularam um arsenal graças ao Irã, mas também ao longo de anos de combate junto com os americanos, em particular contra o Estado Islâmico.

Washington respondeu à ação contra sua embaixada, que fica no centro da ultraprotegida Zona Verde de Bagdá, assim como a semanas de ataques com foguetes contra seus diplomatas e soldados.

"Os serviços de inteligência americanos seguiam Qasem (Soleimani) há muitos anos, mas nunca apertaram o gatilho. Ele sabia, mas não calculou até que ponto suas ameaças de criar outra crise de reféns na embaixada (em Bagdá) mudaria as coisas", explicou à AFP Ramzy Mardini, do 'Institut of Peace', recordando o trauma provocado nos Estados Unidos pela tomada de reféns na representação diplomática americana em Teerã em 1979.

"Trump mudou as regras ao eliminá-lo", disse.

DIVISÃO POLÍTICA NOS EUA

As consequências do assassinato seletivo de uma das figuras mais populares do Irã provocaram preocupação nos Estados Unidos e uma nova divisão entre democratas e republicanos, que apoiaram o ataque, a menos de um ano das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

O Congresso americano não foi informado com antecedências sobre o ataque.

Este bombardeio ameaça provocar "uma perigosa escalada da violência", advertiu a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

As principais Bolsas do mundo operavam em queda nesta sexta-feira, enquanto as cotações do petróleo registravam alta.

O petróleo iraniano está submetido a sanções americanas e a crescente influência de Teerã no Iraque, o segundo maior produtor da Opep, gera o temor entre os especialistas de um isolamento diplomático e de sanções políticas e econômicas

Na praça Tahrir de Bagdá, epicentro dos protestos contra o governo e seu aliado Irã que abalam o país há mais de três meses, dezenas de iraquianos celebraram a morte do general Soleimani. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, compartilhou um vídeo no Twitter de pessoas "dançando pela liberdade".

da AFP