Bolsonaro foi dormir sonhando com uma CPI e acordou assombrado por outra
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- Jair BolsonaroCapitão reformado, político e 38º presidente do Brasil
- Arthur LiraAdvogado e político brasileiro, presidente da Câmara dos Deputados
Jair Bolsonaro começou a semana convicto de que a defesa da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra a Petrobras poderia reposicioná-lo positivamente, junto ao eleitor, em sua busca pela reeleição. Antes desta quinta-feira (23/5) já era assombrado por uma outra CPI.
Em ataque coordenado com o chefe da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), o presidente ameaçava dar apoio a uma comissão que investigasse a relação entre o preço da gasolina e do diesel com os lucros dos acionistas minoritários da companhia.
Bolsonaro chegou a dizer que, se fosse deputado, assinaria o requerimento para instalar a comissão.
Mas Bolsonaro não é deputado. E os deputados de sua base já demonstraram que não gastarão a caneta nisso. Inclusive o PP de Arthur Lira.
Ninguém, a essa altura, quer correr o risco de mandar uma bala no pé às vésperas das eleições. Foi Bolsonaro, afinal, que indicou a chefia da Petrobras contra quem declarou guerra.
A panela de pressão entrou em banho maria após a renúncia José Mauro Coelho. Fernando Borges assumiu interinamente a presidência da companhia.
Desde então os ataques cessaram. Ou porque quem estava no alvo já não está mais na reta ou porque era tudo um jogo de cena – a empolgação de Lira, se havia, residia na possibilidade de mandar às favas a Lei das Estatais e voltar a povoar a companhia com indicações políticas, como nos tempos pré-Lava Jato.
Outra razão para que o recuo é a concorrência com uma outra CPI.
No meio da semana, a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão contra suspeitos de corrupção no Ministério da Educação. O ex-ministro Milton Ribeiro foi detido após sua companheira receber R$ 60 mil de um outro personagem investigado.
Desde então a oposição começou a se movimentar para dar forma à CPI do MEC –um fantasma que assombra Bolsonaro desde que prefeitos decidiram contar o que sabiam sobre as andanças de dois pastores com trânsito livre no governo e no ministério.
Ribeiro dizia priorizar as demandas de prefeituras indicadas por Gilmar Santos e Arilton Moura por ordem de Bolsonaro.
A fila de prioridade era definida por um critério específico, segundo as apurações: os pastores cobravam propina para acelerar a liberação de recursos públicos do Fundo Nacional de Educação (FNDE).
O fundo está loteado pelo centrão. Em Alagoas, reduto de Arthur Lira, até hoje faltam explicações sobre a compra, com suspeitas de sobrepreços, de kits robóticas para escolas sem acesso a água ou internet.
Essa CPI, claro, Lira não quer ver nem pintada de ouro.
O caminho, para a oposição, foi reunir apoio entre os senadores. Segundo Randolfe Rodrigues (Rede-AP), resta apenas uma assinatura para criar a nova CPI.
O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), correu para esfriar os ânimos. Disse que a aproximação do período eleitoral impediria o avanço dos trabalhos do colegiado.
Dias antes, ele já havia dito que não via sentido em uma CPI da Petrobras.
E, no ano passado, fez o que pode para barrar a CPI da Covid.
Esta última só foi aberta por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Enquanto funcionou, a comissão expôs com ampla visibilidade as vísceras do atual governo. Foi o momento em que Bolsonaro viu seu índice de rejeição atingir níveis preocupantes, com oscilações aqui e ali, desde então, para cima ou para baixo.
A prisão de um ex-ministro por quem dizia colocar a cara no fogo já faz estragos em seu discurso de que corrupção só existe no governo dos outros.
O avanço das investigações da Polícia Federal, segundo o presidente, prova que ele não interfere no órgão –como chegou a ser acusado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
A CPI do MEC serviria como garantia de que personagens e testemunhas sejam ouvidas e contem o que sabem para um público mais amplo do que os permitidos em inquéritos eventualmente colocados em sigilo.
Para Bolsonaro, que já vê o barco sacudir em turbulência às vésperas da eleição, seria o pior dos mundos.