'Vitória' contra vacina e pólvora contra EUA: alguém ainda acha que Bolsonaro será domesticado?
Em um mesmo dia o presidente da República:
-anunciou que “venceu mais uma” após a Anvisa suspender os testes da vacina desenvolvida com a ajuda de seu rival, João Doria;
Baixe o app do Yahoo Mail em menos de 1 min e receba todos os seus emails em 1 só lugar
-celebrou em público o revés nas pesquisas que podem salvar as vidas de milhares de pessoas só para não dar o braço a torcer a um adversário político;
-confundiu a população ao dizer que a imunização poderia causar morte, invalidez e anomalia;
-constrangeu as autoridades competentes a virem a público explicar que a morte de um voluntário não tinha relação com a vacina; o voluntário havia se suicidado;
-voltou a minimizar os impactos do coronavírus no país dizendo que todo mundo vai morrer um dia;
-pediu que a pandemia que já matou mais de 160 mil brasileiros fosse enfrentada de peito aberto, seja lá o que isso significa, sob o risco de o país virar um logradouro de “maricas”;
-reclamou que sua vida no governo é um inferno e que não pode mais sair em paz para tomar um caldo de cana e comer pastel;
-rechaçou a capacidade dissuasiva da diplomacia de seu país diante de possíveis rusgas com parceiros comerciais;
-prometeu economizar saliva e usar pólvora, se preciso for, contra a maior potência econômica e militar do planeta caso o vencedor das últimas eleições siga dando pitaco nas questões relacionadas ao meio ambiente de seu país.
Convenhamos que o índice de aproveitamento para um dia só é notável, mesmo para o padrão bolsonarista.
Leia também
No Brasil, todos querem ser Joe Biden quando crescer. Mas não será tão fácil
Pela moderação, Biden dá o caminho para neutralizar direita populista
“Daqui não saio”: Molecagem de Trump é ensaio do que pode vir por aqui
Bolsonaro: entre a tensão por eleições nos EUA e a denúncia contra o filho
Eleições: só 11,3% da verba do ‘fundão’ são declarados por mulheres
Vale-tudo de Crivella expõe vítimas de buyilling em propaganda
Muitos direitos, poucos deveres: em que país vive o líder do governo?
‘Vai pra Venezuela’: o hino do WhatsApp entrou no léxico do governo
Datafolha: Duas pesquisas e uma péssima notícia para o bolsonarismo
Com Bolsonaro na Presidência, o absurdo foi normalizado, inclusive por ele mesmo, que fala o que quer e depois pede desculpas sob o argumento de que se expressa apenas com o coração.
Mais grave do que o desequilíbrio, as ameaças e a insegurança é saber que a sequência tem como destino a vala comum de outros absurdos acumulados pelo presidente na vida pública e que não serão os primeiros nem os últimos a chocar e serem esquecidos no dia seguinte — a menos que alguma nota de repúdio postada no Twitter abale alguma sobrancelha além das de quem escreve.
Na melhor das hipóteses o caminho do país, com Bolsonaro à frente, é o descrédito. A ponto de bravatas e ameaças não merecerem sequer resposta à altura dos ameaçados.
Na pior, é o abismo regado a pólvora.
Se alguém estava esperando a linha da sanidade ser cruzada, é melhor olhar para trás. De binóculos. Dali em diante já não existem espectadores e espetáculo. Existem apenas os crimes e seus cúmplices. Está na hora de Bolsonaro tomar seu caldo de cana em paz.