Justiça britânica nega pedido de extradição de Assange aos EUA
Justiça britânica nega pedido de extradição de Assange aos EUA
Simpatizante de Julian Assange exibe cartaz que pede sua libertação em 24 de fevereiro de 2020 diante de tribunal de LondresA Justiça britânica rejeitou nesta segunda-feira (4) o pedido de extradição do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, para os Estados Unidos, país que deseja julgá-lo por espionagem devido à publicação de centenas de milhares de documentos confidenciais, por considerar que, em caso contrário, ele poderia cometer suicídio.
"Considero que o estado mental do senhor Assange é tal que seria opressivo extraditá-lo para os Estados Unidos", afirmou a juíza Vanessa Baraitser da corte penal de Londres em sua sentença.
Ela aceitou que "a saúde mental do senhor Assange se deterioraria, motivando-o a cometer suicídio levado pela 'determinação obsessiva' de seu transtorno de espectro autista", completou.
O Departamento da Justiça americano disse hoje que está "extremamente decepcionado" com a decisão da Justiça britânica.
"Ao mesmo tempo em que estamos extremamente decepcionados com a última decisão da corte, estamos muito satisfeitos que Estados Unidos tenha prevalecido em cada aspecto jurídico apresentado", disse o Departamento da Justiça, referindo-se às alegações de Assange de que exercia seu direito à liberdade de expressão e que Washington estava realizando uma represália política contra ele.
"Continuaremos buscando a extradição do senhor Assange aos Estados Unidos", acrescentou o departamento.
Ao mesmo tempo, a defesa de Assange anunciou que solicitará a liberdade sob fiança em uma audiência prevista para quarta-feira.
Até a data, o australiano de 49 anos, detido há 20 meses na penitenciária londrina de Belmarsh, desde sua prisão em abril de 2019 na embaixada do Equador no Reino Unido - donde passou sete anos como refugiado - permanecerá em reclusão.
"Hoje marca uma vitória para Julian. A vitória de hoje é um primeiro passo para obter justiça neste caso", afirmou após a audiência a advogada sul-africana Stella Morris, companheira sentimental de Assange, com quem tem dois filhos.
O governo do México ofereceu, nesta segunda-feira, asilo político para Julian Assange.
"Vou pedir ao secretário de Relações Exteriores que faça os trâmites correspondentes para que se solicite ao governo do Reino Unido a possibilidade de que o senhor Assange fique em liberdade e o México lhe ofereça asilo político", declarou o presidente Andrés Manuel López Obrador, em sua habitual entrevista coletiva matinal.
Os quase 30 manifestantes reunidos na porta do tribunal para expressar apoio ao ativista celebraram a decisão. Eles consideravam o caso fundamental para a liberdade de imprensa.
"Vencemos!", gritaram os ativistas, que exibiam cartazes com frases como "Não extraditem Assange, o jornalismo não é um crime" e "Libertem a verdade, libertem Assange".
Na Rússia, onde vive exilado, o ex-funcionário da Inteligência americana Edward Snowden - também alvo de pedido de extradição por vazamentos - disse esperar "que este seja o fim" das tentativas de levar Assange para os Estados Unidos.
- "Ataque à liberdade de expressão" -
Assange e o WikiLeaks se tornaram famosos em 2010 com a publicação de quase 700.000 documentos militares e diplomáticos confidenciais que deixaram Washington em uma situação difícil.
Entre os documentos, estava um vídeo que mostrava helicópteros de combate americanos atirando contra civis no Iraque em 2007. O ataque matou várias pessoas em Bagdá, incluindo dois jornalistas da agência de notícias Reuters.
Antes de pronunciar a decisão, a juíza Baraitser examinou o pedido americano detalhadamente em setembro, após meses de atraso por causa da pandemia.
Alegando o temor de que Assange, cuja saúde física e mental parecia muito debilitada, cometesse suicídio, Stella Moris entregou em setembro ao governo britânico uma petição com 800.000 assinaturas contra a extradição.
Este foi um dos principais argumentos da defesa, assim como a crítica de que o australiano, que poderia ser condenado a 175 anos de prisão se a Justiça americana o considerasse culpado de espionagem, não teria um julgamento justo nos Estados Unidos.
Washington alega que Assange colocou em perigo as vidas de seus informantes com a publicação dos documentos secretos sobre as ações militares americanas no Iraque e no Afeganistão, que revelaram atos de tortura, mortes de civis e outros abusos.
Para o comitê de apoio ao australiano, porém, estas são "acusações com motivação política".
O diretor de redação do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, pediu nesta segunda-feira que a defesa não baixe a guarda.
"É um dia de vitória para Julian Assange, mas devemos ser cautelosos. Não é necessariamente uma vitória para o jornalismo", afirmou.
"Me preocupa que imediatamente os advogados do governo americano afirmem que vão apelar da decisão", comentou, antes de destacar que "a luta não terminou".
A defesa do australiano denunciou que o presidente americano, Donald Trump, queria transformá-lo em um castigo "exemplar" em sua "guerra contra os jornalistas investigativos".
Agora resta saber qual será a atitude do presidente eleito dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden.
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