Karol Conká: como será a vida de um cancelado?

Será que o cancelamento de Karol Conká vai surtir algum efeito? (Foto: Reprodução)
Será que o cancelamento de Karol Conká vai surtir algum efeito? (Foto: Reprodução)

Não nos entenda mal: se Karol Conká foi eliminada do 'Big Brother Brasil', é porque o público viu motivos para que isso acontecesse. E, vamos combinar, esses motivos foram tantos que é difícil pontuá-los. Na sua inconsistência de discurso, usuários do Twitter viram até sinais de mitomania. As intrigas e brigas propositalmente causadas, que colocam a rapper como heroína e todos os demais como seus inimigos, também chamaram a atenção. E os usuários da internet só sabem responder a inconsistências como essas de uma única maneira: cancelamento.

Nego Di passou por isso na semana passada, quando deixou a casa com recorde de votos - o mais alto da história do programa, beirando os 99%. Ao sair de lá, se viu decepcionado e chocado com tudo o que leu sobre o seu comportamento dentro do 'BBB' e chegou a pedir desculpas pela maneira como agiu - não que, depois disso, ele não tenha cometido equívocos semelhantes.

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A pergunta que gostaríamos de levantar, no entanto, não é sobre os erros cometidos, mas o que acontece depois deles. Muito já se falou sobre a cultura do cancelamento e como ela, de fato, até movimenta muita gente, mas não resolve um problema estrutural e, mais do que isso, vilanizaniza as pessoas.

Afinal, o que faz alguém cancelado? Desaparece da existência coletiva? Muda para uma montanha distante, isolada, onde não mais socializa com ninguém? Larga a fama em nome de uma profissão comum? Inclusive, se essa escolha for, realmente, feita, será que as pessoas aceitariam um cancelado como seu colega de trabalho? Como funciona a vida de um cancelado?

Temos alguns exemplos na história. É claro que não dá para comparar as falas de Karol no 'BBB 21' com o roubo dinheiro de toda uma população, mas Fernando Collor de Mello foi um cancelado - e que desapareceu dos holofotes para gerar polêmica vez ou outra, afinal, ele é senador e segue a carreira como político.

Gabriela Pugliesi é outra. No começo da pandemia, não só foi cancelada como foi cancelada de verdade. Ao dar uma festa para a amiga Mari Gonzalez que, curiosamente, tinha acabado de sair do 'BBB 20', foi chamada de irresponsável por promover aglomerações no auge da quarentena para evitar a disseminação do coronavírus - que, por sinal, teve seu foco inicial no Brasil no casamento da sua irmã.

Dizem que a festa custou ao bolso de Gabriela mais de R$ 3 milhões de reais, com perda de patrocinadores e empresas parceiras, que foram pressionadas pelo público a se posicionarem em relação às atitudes da influenciadora. Ou seja, o prejuízo foi grande. Como resultado, Gabriela desativou o Instagram e passou meses longe, antes de voltar dizendo que tinha usado o tempo para refletir sobre suas atitudes.

Reconstruir a autoimagem não é simples e exige, acima de tudo, uma demonstração de mudança - Anitta que o diga. A internet se move rápido, mas parece não esquecer o que acontece com aqueles que cancela.

De fato, vivemos numa era em que o posicionamento político e social é, sim, de extrema importância - e a pandemia, no mínimo, deixou essa necessidade de posicionamento mais em evidência do que nunca. Buscar empresas, marcas e pessoas que estejam alinhados com os valores e propósitos de cada um e que, principalmente, não construam esses valores e propósitos apenas a título de propaganda, virou uma prioridade.

Não à toa existe um movimento em redes como o próprio Instagram para a valorização de pequenos produtores, já que é mais fácil acompanhar sua trajetória, sua imagem e seu sistema de produção.

Mas vamos voltar ao assunto do momento. O que será de Karol Conká pós-'BBB 21'? Realmente, há de se esperar um baque. Sua imagem mudou para quem viu de fora o dia a dia de uma famosa com o seu tanto de visibilidade e alcance. No entanto, será que excluí-la totalmente da vida pública, virar as costas e impedir, inclusive, que ela tenha espaço para de fato mudar é o melhor que podemos fazer por alguém que errou?

Por fim, fica a última pergunta: quem nunca errou? A questão, talvez, seja que usamos celebridades e personalidades públicas como modelos de conduta que, quando erram, precisam ter a atenção chamada de alguma maneira. E, de fato, isso precisa mesmo acontecer, não só com famosos, mas com todos que desrespeitem, violentem ou agridam, física ou verbalmente, alguém por qualquer motivo.

Acontece que existem maneiras e maneiras de fazer isso. Cancelar um famoso publicamente pode ser uma forma de trazer à tona um comportamento não aceitável na atual conjuntura, mas também ridiculariza e desumaniza alguém que, no fundo, é um ser humano que cometeu um erro. Os casos sérios e os crimes, que fiquem a cargo das instituições responsáveis e que a justiça seja feita. Mas algo nos diz que, para as demais pessoas, a educação seria mais útil do que qualquer cancelamento.

Karol Conká provavelmente continuará famosa, fará seus shows e conseguirá novos contratos. Resta a ela instruir-se e ser instruída sobre seus erros, aprender e, de fato, demonstrar que mudou, se esse for o seu desejo. Ao público resta observar e instruir a si mesmo e àqueles à sua volta ao invés de colaborar para o ódio gratuito distribuído diariamente na internet. Julgar e cancelar as pessoas, pelo que vimos, ainda não fez bem a ninguém.