Kremlin diz que governo dos EUA está por trás do sentimento 'anti-Rússia' na Geórgia
O governo russo acusou os países ocidentais, nesta sexta-feira (10), de estar por trás das manifestações na Geórgia, que descreveu como uma tentativa de golpe de Estado.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, traçou um paralelo com a revolta ucraniana de 2014, chamada Maidan, que Moscou considera um golpe orquestrado pelo Ocidente.
"Isto é muito parecido com Maidan em Kiev", disse Lavrov na televisão russa.
A Geórgia, ex-república soviética do Cáucaso, foi cenário de grandes manifestações durante a semana contra um projeto de lei inspirado, segundo os detratores, em uma lei russa e que o Kremlin utiliza para reprimir os críticos nos meios de comunicação e nas ONGs.
Para Lavrov, o projeto de lei georgiano sobre "agentes estrangeiros" foi apenas um "pretexto para lançar uma tentativa de mudança de regime pela força".
Mais cedo, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, citou uma declaração feita na quinta-feira em Nova York pela presidente de Geórgia, Salome Zurabishvili.
A presidente, pró-Ocidente e com poderes limitados, se distanciou de um projeto de lei apresentado no Parlamento - e considerado repressivo por seus críticos. Ela expressou apoio aos opositores mobilizados contra a iniciativa.
De acordo com Peskov, o fato de ela ter feito a declaração nos Estados Unidos é um sinal de que "a mão visível de alguém está tentando provocar um sentimento anti-Rússia" na Geórgia.
"Estamos acompanhando com muita atenção e muita preocupação", acrescentou Peskov.
Após a grande mobilização, de caráter pró-Europa, o governo de Tbilisi reprimiu as manifestações em um primeiro momento, mas na quinta-feira anunciou a retirada do projeto de lei, que nesta sexta-feira foi revogado pelo Parlamento georgiano depois de ter sido aprovado em primeira votação.
Nesta sexta-feira, centenas de opositores se reuniram novamente diante do Parlamento, desta vez em um ambiente festivo, aos gritos de "somos Europa" e "vitória".
O ex-presidente georgiano, Mikhail Saakashvili - preso desde o fim de 2021 - elogiou a "resistência" dos manifestantes frente à "força brutal usada contra eles".
Também apontou para o ex-premiê Bidzina Ivanishvili, um empresário que fez fortuna na Rússia antes de fundar o partido no poder Sonho Georgiano, que apresentou o texto polêmico.
"Nenhuma Rússia com sua oligarquia brutal poderá vencê-los", disse Saakashvili no Facebook.
Dezenas de milhares de georgianos temem que o governo se afaste do objetivo de aderir à União Europeia e passe a buscar uma aproximação da Rússia, com uma guinada autoritária.
O país do Cáucaso, de quatro milhões de habitantes e candidato à adesão à UE, continua marcado pela breve guerra travada e perdida para a Rússia em agosto de 2008.
A Rússia reconheceu a independência de duas regiões separatistas da Geórgia, Abkhazia e Ossétia do Sul, após a guerra de 2008.
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