Catar se reconcilia com seus rivais do Golfo em cúpula da 'solidariedade'
Catar se reconcilia com seus rivais do Golfo em cúpula da 'solidariedade'
Príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (à dir.), recebe o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, em Al Ula, Arábia Saudita, em 5 de janeiro de 2021As relações diplomáticas entre o Catar e os quatro países do Golfo que o boicotaram por mais de três anos foram totalmente restauradas, anunciou nesta terça-feira (5) o ministro saudita das Relações Exteriores, após uma cúpula regional na Arábia Saudita.
"Hoje foi decidido [...] virar a página e restabelecer todas as relações diplomáticas" com o Catar, declarou à imprensa o príncipe Fayzal bin Farhan Al Saud.
Os países do Golfo assinaram nesta terça um acordo "de solidariedade e estabilidade" e uma declaração final em uma cúpula destinada a diminuir as tensões entre Catar e vários de seus vizinhos, incluindo a Arábia Saudita.
"Os esforços (do Kuwait e dos Estados Unidos) nos ajudaram a chegar a um acordo (...) em que afirmamos a solidariedade e a estabilidade do Golfo e dos países árabes e muçulmanos", anunciou o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, ao abrir esta cúpula realizada em Al-Ula (noroeste da Arábia Saudita).
Ele então se reuniu com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani. Um encontro bilateral dedicado, segundo a agência de notícias oficial saudita SPA, ao "desenvolvimento das relações entre os dois países e à ação comum dos países do Golfo".
Os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) assinaram este pacto - chamado "Declaração de Al-Ula" - na presença de Jared Kushner, genro e assessor do presidente dos EUA, Donald Trump.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, reagiu parabenizando o Catar por "sua resistência à pressão" e garantiu a seus "outros vizinhos árabes que o Irã não é um inimigo nem uma ameaça". Também pediu que aceitassem a "oferta" iraniana "por uma região forte".
A reunião começou com grandes esperanças, depois que o Kuwait, mediador do Golfo, anunciou na noite de ontem que a Arábia Saudita reabriu seu espaço aéreo e todas as suas fronteiras com o Catar, após três anos e meio de boicote e mensagens hostis.
Em junho de 2017, a Arábia Saudita e três países aliados (Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito) romperam os laços com Doha, acusando-a de apoiar grupos islâmicos, de manter boas relações com seus adversários iranianos e turcos e de semear desordem na região.
Sempre negando todas as acusações, os catarianos dizem ser vítimas de um "bloqueio" e de um ataque à sua soberania.
O CCG nasceu há 40 anos com a ambição de aproximar seus membros política, econômica e militarmente. Fazem parte do grupo Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Omã e Kuwait.
- "Amigos como antes" -
Os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre os países do Golfo para alcançar uma reconciliação, com o objetivo de isolar cada vez mais o Irã, dentro de sua estratégia de pressão máxima contra Teerã.
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, afirmou que o objetivo da cúpula é criar uma frente comum diante dos "desafios", especialmente "o programa nuclear iraniano, seu programa de mísseis balísticos e seus projetos de sabotagem".
Nesta terça-feira, o emir do Catar foi recebido na pista do aeroporto com um sorriso e um abraço pelo príncipe Bin Salman. Um gesto que seria impensável algumas semanas atrás.
As respectivas mídias da Arábia Saudita e Catar, normalmente muito hostis com o lado oposto, mudaram radicalmente de tom.
"Veremos todos os sauditas aqui e, também, todos os catarianos irão à Arábia Saudita. Seremos amigos como antes e ainda mais", disse à AFP Hisham Al-Hashmi, um catariano vestido com uma túnica branca tradicional.
A ruptura com o Catar foi acompanhada de medidas de represália: fechamento das fronteiras e do espaço aéreo aos vizinhos do Catar e restrição aos deslocamentos de catarianos, o que provocou a separação de famílias mistas.
- "Negociações difíceis" -
O quarteto havia formulado 13 condições para a retomada das relações com Doha, em particular o fechamento da rede de televisão Al-Jazeera, desprezada por muitos regimes árabes, e compromissos de pôr fim ao financiamento de grupos extremistas, ou ainda o fechamento de uma base militar turca no Catar.
Doha não cedeu a nenhum desses pedidos.
Diplomatas, observadores e alguns artigos na imprensa sugeriram que nenhum desses temas de controvérsia será abordado durante a cúpula, o que parece afastar, por enquanto, a perspectiva de uma resolução geral da disputa.
"Como qualquer reconciliação, terá obstáculos e poderá levar a um impasse e tensões", declarou à AFP Bader Al-Saif, professor adjunto de história na Universidade do Kuwait.
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