Lucro no 4º trimestre de 2022 e acordo com empresas de leasing dão fôlego à Azul

O lucro da Azul no último trimestre do ano passado, de R$ 1,1 bilhão, e o recém-anunciado acordo da empresa com empresas de leasing dão à companhia aérea fôlego para sua operação neste início de ano, apesar do endividamento ainda elevado.

O resultado positivo do quarto trimestre de 2022, divulgado nesta segunda-feira, mitigou as perdas da empresa no ano passado. A Azul teve prejuízo de R$ 722,4 milhões no ano, 83% a menos do que o registrado em 2021.

A demanda por voos no quarto trimestre foi recorde na empresa e a receita total da empresa foi de R$ 4,5 bilhões de setembro a dezembro, 19% a mais que o registrado no mesmo período do ano passado e 37% acima do faturamento do último trimestre de 2019, anterior à pandemia.

No ano passado, a receita operacional da Azul chegou a R$15,9 bilhões, 39,4% mais que a de 2019 e 60% acima da de 2021. O faturamento da companhia tem sido impulsionado pela alta demanda por voos e pelo preço médio das passagens aéreas, que tem sofrido forte alta em razão, principalmente, das altas no preço do querosene de aviação (QAV). Somente na Azul, a tarifa média aumentou 40% em 2022, na comparação com o ano anterior, chegando a R$ 588,70 por trecho em dezembro.

Apesar do prejuízo em 2022, a companhia aérea teve no ano passado R$ 3,23 bilhões de lucro antes de juros impostos depreciação e amortização (o chamado EBITDA) importante indicador sobre a saúde da operação. O montante é 16 vezes o EBITDA de 2021.

No domingo, a Azul anunciou ao mercado que conseguiu firmar acordos com as empresas de leasing que representam mais de 90% de seu passivo com arrendamentos. Neste ano, a empresa tinha a pagar cerca de R$ 3,8 bilhões em leasing de aeronaves e vinha negociando um alongamento das dívidas.

O presidente da Azul, John Rodgerson, disse ao GLOBO que a expectativa é de que os acordos sejam estendidos a todos os 15 lessores da empresa.

— Falamos que a moeda do brasil se desvalorizou e pedimos um preço justo pelo leasing agora. A diferença de preço será paga em 2030 e parte dela em equity (ações). Com isso, resolvemos nossa situação de caixa neste ano e nos próximos sete anos. A gente tinha um buraco de R$ 3 bilhões neste ano — afirma Rodgerson.

De acordo com a Azul, os arrendadores aceitaram receber um título de dívida negociável com vencimento em 2030 e ações da empresa que serão "precificadas de forma a refletir a nova geração de caixa da Azul, sua melhor estrutura de capital e a redução em seu risco de crédito". Ou seja, o preço a ser pago pelas ações no futuro deverá ser maior que o atual valor de face dos papéis, hoje depreciados. Em 12 meses, o valor da ação da Azul caiu 59,55%, atingindo R$ 7,24 no pregão da última sexta-feira.

— Estamos com o valor das ações hoje em 4 vezes o nosso EBITDA, mas historicamente o nosso preço sempre foi 8 vezes, então esse pagamento em equity será no preço normal, não no depreciado. Isso diminui a diluição dos acionistas e mantém a estrutura de controle da companhia — ressalta ele.

John Rodgerson afirma, ainda, que a Azul poderá levantar capital se necessário, apesar de seu endividamento ainda elevado. No fim de 2022, o endividamento bruto da Azul era de R$ 21,8 bilhões, 5,3% a menos do que em dezembro de 2021. Alavancagem mensurada como o múltiplo da dívida líquida em relação ao EBITDA dos últimos doze meses era de 5,7, considerado elevado. Um ano antes, porém, o indicador chegara a 11,2.

A Azul e o setor aéreo brasileiro como um todo são negativamente impactados pela alta no preço do querosene de aviação, cujo preço é atrelado ao dólar e subiu 36% desde o início de 2022, já considerando arecente redução de 13,8% anunciada pela Petrobras na semana passada. Desde 2019, o aumento no preço do insumo supera os 120% de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). O combustível representa hoje aproximadamente 40% dos custos de uma linha aérea no Brasil.