Lula tem 23% dos seus eleitores de direita, e Bolsonaro, 29% de esquerda, mostra Datafolha
SĂO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A classificação ideolĂłgica do eleitorado do ex-presidente Luiz InĂĄcio da Silva (PT), a partir dos critĂ©rios do Datafolha, mostra que 23% dos que querem votar nele sĂŁo identificados com pensamentos de direita em comportamento e economia, embora a grande maioria (60%) esteja Ă esquerda.
FenĂŽmeno semelhante ocorre com Jair Bolsonaro (PL), mas com sinais trocados. Apesar de o presidente de perfil conservador ter 54% dos eleitores situados Ă direita, segmento em que goza de apoio significativo, uma fatia de 29% se posiciona Ă esquerda no espectro ideolĂłgico.
A pesquisa do Datafolha, publicada no såbado (4), revelou que o Brasil que irå às urnas em outubro estå mais identificado com ideias de esquerda do que cinco anos atrås, quando foi feito o levantamento anterior. O percentual atinge agora 49%, o maior da série histórica, iniciada em 2013.
A direita, por sua vez, registrou queda e alcançou seu menor resultado, 34%. Uma parte de 17% dos entrevistados se localiza ao centro. O questionårio que serve de base para o mapeamento abrange perguntas no campo de comportamento e na årea do pensamento econÎmico.
O instituto ouviu 2.556 pessoas acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o paĂs nos Ășltimos dias 25 e 26. Contratado pela Folha de S.Paulo, o levantamento estĂĄ registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o nĂșmero BR-05166/2022 e possui margem de erro geral de 2 pontos percentuais, para mais ou menos.
A classificação ideológica é feita conforme a pontuação alcançada pelas respostas do entrevistado em questÔes sobre temas que separam as duas visÔes de mundo --como drogas, armas, criminalidade, migração, homossexualidade, leis trabalhistas, papel do Estado e impostos.
Considerando a avaliação mais ampla, com os critérios de comportamento e economia, Lula tem 4% de eleitores identificados com a direita e 19% com a centro-direita. Outros 18% estão ao centro, enquanto 36% se alinham com ideias de centro-esquerda e 23%, de esquerda. Os valores foram arredondados.
A retĂłrica da campanha do petista acena Ă pluralidade, o que estĂĄ traduzido no nome dado Ă coligação, "Vamos Juntos pelo Brasil". O plano Ă© montar uma frente ampla em torno do PT, principal partido de esquerda no paĂs. As seis siglas confirmadas na aliança atĂ© aqui pendem para a esquerda.
JĂĄ os cidadĂŁos que declaram voto em Bolsonaro tendem, por Ăłbvio, ao lado destro: 21% se posicionam Ă direita e 33% Ă centro-direita. Uma parcela de 17% aparece ao centro, enquanto 22% tĂȘm aproximação com ideias de centro-esquerda e 7% possuem perfil considerado de esquerda.
A vilanização do campo oposto ao seu é uma das marcas da conduta do mandatårio desde a campanha eleitoral de 2018, com ataques que se estenderam ao longo do governo e compÔem a base do discurso de sua tentativa de reeleição. Lula lidera as intençÔes de voto com 48%, ante 27% do rival.
Terceiro colocado no Datafolha, com 7%, Ciro Gomes (PDT) tem seu eleitorado com caracterĂstica semelhante ao do petista: 5% sĂŁo identificados com a direita, 22% com a centro-direita, 16% com o centro, 33% com a centro-esquerda e 25% com a esquerda.
Quando observada a classificação dentro de cada um dos dois segmentos que formam o quadro, Ă© possĂvel notar que eleitores com voto declarado em Bolsonaro estĂŁo situados mais Ă direita no aspecto de valores do que nas convicçÔes econĂŽmicas.
Enquanto em comportamento as posiçÔes de direita entre os bolsonaristas somam 62%, em economia elas correspondem a 33% do grupo.
Simpatizantes de Lula, por sua vez, tĂȘm uma distribuição mais igualitĂĄria nas duas vertentes que integram o levantamento. Em comportamento, 52% dos eleitores do petista estĂŁo alinhados com a esquerda e, em economia, sĂŁo 56%.
Respostas dos seguidores de ambos os presidenciåveis às perguntas do levantamento explicam as variaçÔes.
Por exemplo: enquanto 79% dos entrevistados na mĂ©dia afirmam que a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade, entre apoiadores de Bolsonaro o Ăndice cai a 67%. Dos eleitores do presidente, 24% acham que a homossexualidade deve ser desencorajada, ante 16% no pĂșblico geral.
Na seara econÎmica, a verve de direita se comprova só em parte das respostas. A opinião de que a vida estarå melhor quanto menos a pessoa depender do governo, de tom mais liberal, é aprovada por 71% dos eleitores de Bolsonaro, ante 58% na média geral.
JĂĄ a ideia de que Ă© bom o governo atuar com força na economia para evitar abusos das empresas, tĂpica da esquerda, Ă© endossada por 54% dos bolsonaristas --a mĂ©dia Ă© de 50%. E uma fatia de 40% acha que, quanto menos o governo atrapalhar a competição entre as empresas, melhor (44% no geral).
Os resultados dos eleitores de Bolsonaro nesse debate são até mais à esquerda do que os demonstrados por seguidores do ex-presidente. Entre os que escolhem votar no petista, 49% defendem a atuação mais vigorosa do governo, e 46% acreditam que o governo ajuda mais quando se mete menos.
Mesmo entre eleitores de Lula, hå respostas bem menos progressistas do que o senso comum poderia supor. A parcela de apoiadores do petista que consideram que acreditar em Deus torna as pessoas melhores representa 78%, bem próxima dos 84% entre os de Bolsonaro (e à média de 79%)..
Para 61% do eleitorado lulista, adolescentes que cometem crimes (juridicamente, atos infracionais) devem ser punidos como adultos, e não reeducados. Embora seja posição majoritåria (próxima à média de 65%), a parcela é inferior à registrada entre os eleitores do candidato adversårio, de 75%.
Diferenças mais sensĂveis tambĂ©m podem ser notadas, como na pergunta sobre Estado versus mercado.
Ala majoritĂĄria (81%) dos simpatizantes do ex-presidente acha que o governo deve ser o maior responsĂĄvel por investir no paĂs e fazer a economia crescer. Entre bolsonaristas, 57% pensam assim. Na contagem geral, a imagem do Estado como indutor do desenvolvimento Ă© referendada por 72%.
O Datafolha cruzou ainda os Ăndices de intenção de voto nos dois favoritos da corrida presidencial com a categorização por orientação ideolĂłgica. Como esperado, Lula dispara dentro do estrato localizado Ă esquerda, ao passo que Bolsonaro dobra de patamar no flanco da direita.
Os 48% de preferĂȘncia que o petista alcança no cĂŽmputo geral viram 59% entre os eleitores identificados com a esquerda e recuam para 33% entre aqueles de direita. Os 27% de Bolsonaro no eleitorado mĂ©dio se transformam em 43% se observada apenas a direita e mĂnguam para 16% na esquerda.
Sobre o postulante em que o entrevistado não votaria de jeito nenhum, nota-se que Lula é menos rejeitado pelo polo antagonista do que Bolsonaro. O ex-presidente, que na média é repelido por 33%, sofre rejeição de 51% na direita; o atual, recusado por 54% em geral, vai a 68% entre identificados com a esquerda.
As margens de erro nos recortes da pesquisa sĂŁo superiores aos 2 pontos percentuais para mais ou para menos dos resultados gerais. Elas podem variar, por causa do tamanho das amostras, entre 3 e 7 pontos, mas o instituto diz que isso nĂŁo afeta a compreensĂŁo de tendĂȘncias.