Mãe de Maria Eduarda, estudante morta no pátio da escola há quase seis anos, ainda espera por Justiça
Os cabelos brancos e o olhar triste da ex-faxineira Rosilene Alves Ferreira, de 58 anos, revelam quanto é árdua a luta por Justiça. Desde que a filha Maria Eduarda Alves da Conceição, a Duda, de 13 anos, foi morta na quadra de esportes da Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari, no dia 30 de março de 2017, Rosilene tem dificuldades para dormir. A bala que atingiu a menina partiu de um tiroteio entre policiais militares e traficantes da região, ocorrido próximo ao colégio. A perícia da Polícia Civil confirmou que um dos tiros que atingiu a vítima veio da arma de um dos policiais militares. Quase seis anos depois, Rosilene ainda aguarda o julgamento dos dois PMs arrolados no processo.
No último domingo, as mortes de três jovens baleados em operações policiais, em diferentes favelas, trouxeram à tona casos mais antigos, como o de Maria Eduarda, cujos suspeitos do crime ainda não foram julgados. Foram baleados: o montador de caixas Uesclei da Silva Estácio, de 29 anos, na favela do Tirol, em Jacarepaguá; Alex Souza Araújo dos Santos, de 19, na favela da Kelson's, na Penha; e Ruan Gonçalves Freitas, de 18, na comunidade Caicó, na Covanca, também em Jacarepaguá. A polícia ainda investiga quem baleou as três vítimas.
Rosilene conhece bem o caminho que as famílias dos três rapazes vão enfrentar. Segundo ela, se não fosse a sua fé, o que fez com que ela virasse pastora da Assembleia de Deus é Fiel, em Acari, ela não estaria viva. Foi justamente por ser cristã que ela disse a um dos policiais militares, que lhe pediu perdão, não cabia a ela julgar.
— Ele (PM) me procurou depois da audiência. O cabo Fábio (Barros Dias) me disse ter uma filha também, e chora muito por isso. Ele me falou: "Não fomos matar a sua filha. A senhora me perdoa?". Eu respondi que não sou eu quem julgo. Sou cristã. Eu o perdoei, mas ele tem que passar pela justiça dos homens e de Deus — diz Rosilene, ressaltando que o outro policial, sargento, David Gomes Centeno, não lhe dirigiu a palavra.
Segundo a mãe de Maria Eduarda, até hoje ela não recebeu nenhuma indenização pela morte da filha. Como ficou hipertensa e com outros problemas de saúde, ela não consegue mais trabalhar para como faxineira. Como benefício pela morte da menina, ela passou a receber, há dois meses, uma pensão de R$ 400.
— Quando a minha filha morreu, o estado me prometeu psicóloga e uma indenização. Não tive nada disso. Meu remédio é a igreja. Saí do apartamento onde morava com a Duda, porque tudo lembrava ela. Não tem um dia que não pense nela, mas viver isso 24 horas traz muita saudade. A cabeça não aguenta — ressalta ela.
Outra preocupação de Rosilene é que os policiais, segundo ela, continuam trabalhando normalmente:
— A Justiça é muita lenta. Enquanto não são julgados, eles continuam de serviço, ou seja, continuam matando, podendo tirar a vida de mais inocentes — lamenta ela.