Mas afinal, o que é o teto de gastos?
Com intuito de congelar gastos governamentais por 20 anos, medida volta mais uma vez ao debate após debandada de funcionários do gabinete de Paulo Guedes
PEC dos Precatórios, que fura o teto de gastos, é nova aposta de Bolsonaro na criação de seu auxílio social
Com a pandemia, teto de gastos se mostra uma amarra nas mãos do governo
Criado em 2016 pelo presidente Michel Temer e seu secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, o teto de gastos voltou ao debate público após o presidente Jair Bolsonaro sugerir mais uma alteração em suas regras. Com o intuito de garantir recursos para seu programa social, o Auxílio Brasil, a alteração proposta pelo presidente permitiria que cerca de R$ 30 bilhões a mais fossem gastos pelo governo em 2022.
Abrangendo as despesas do Executivo, Legislativo, Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, esse novo regime fiscal visa congelar os gastos do governo por 20 anos (até 2036), por isso foi denominada de "Teto".
Atualmente a Emenda Constitucional n.º 95, como é oficialmente batizada, permite ao governo investir em uma determinada área (como Saúde e Educação) apenas os mesmos valores do ano anterior, corrigidos pelo índice da inflação registrada em 12 meses até junho do ano anterior. Em 2026, no entanto, está previsto que o presidente em exercício poderá revisar o formato de correção das despesas públicas.
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Na época de sua proposição, a ideia da equipe econômica era abaixar a taxa de juros básica da economia, a Selic, ao manter sob controle as contas públicas. De acordo com o governo da época, um juros menor permitiria maiores investimentos na economia, gerando um maior crescimento econômico e mais empregos.
Para Michel Temer, não era possível estabelecer um teto sem estabelecer suas fundações, as "paredes". Com o intuito de reduzir os gastos obrigatórios do governo, que eram e continuam acima de 90%, ele propôs uma série de reformas para reduzir estes gastos e abrir espaço para as "despesas discricionárias", aquelas de livre escolha do governo e Congresso. Em sua maioria, os gastos obrigatórios do governo são os gastos com pessoal, e pagamentos previdenciários e sociais, como o seguro desemprego, abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada – destinados a idosos.
Durante os anos seguintes, uma série de Propostas de Emenda à Constituição (PEC) foram feitas e aprovadas para conseguir aumentar os gastos do governo. Em 2020, depois de duros embates entre a ela técnica chefiada por Paulo Guedes e, foi aprovada pelo congresso a PEC emergencial, que garantiu a continuação do auxílio emergencial, em troca do estabelecimento de gatilhos para conter gastos, como o aumento de salário a funcionários públicos ou a criação de novos concursos.
Hoje, com objetivo de garantir a sobrevivência da população frente aos danos econômicos da pandemia, o governo esbarra mais uma vez na limitação do teto de gastos. Mostrando desgosto pela PEC dos Precatórios, que abre espaço para maiores investimentos governamentais, o gabinete de Paulo Guedes sofre demissão em massa.