‘Medo e relação conturbada’, atestaram médicos acionados para idosa sequestrada pela filha
Antes de sequestrar a mãe na Zona Sul do Rio e interná-la à força em uma clínica psiquiátrica na Região Serrana do estado, Patrícia de Paiva Reis acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No apartamento da família, no Catete, os médicos constataram que a idosa não apresentava transtornos ou agressividade, mas se referia a filha com medo e retração, aparentando temê-la. Em um laudo que consta no inquérito que culminou com a prisão em flagrante da mulher, os profissionais narram ainda que, segundo vizinhos, ela ameaça a vítima “com frequência”.
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De acordo com o documento, obtido com exclusividade pelo Globo, a idosa “apresentava discurso coeso, linear e coerente” e informou sobre a “relação conturbada” com a filha. Na ocasião, ela aceitou ser atendida e examinado, “apresentando sinais vitais estáveis e sem alteração no exame físico, dizendo haver história pregressa de enxaqueca”.
O laudo aponta ainda que a equipe médica presenciou a interação entre a aposentada, Patrícia; seu genro, Raphael Machado Costa Neves, que também foi preso pelo sequestro; e os dois seus dois netos, de 2 e 9 anos.
“Paciente apresentou comportamento carinhoso com os netos, porém, ao conversar com a Sra. Patrícia, esta informou que iria restringir a entrada de uma amiga da paciente. A paciente relutou sobre a decisão, mas a Sra. Patrícia referiu que o apartamento era dela e que ela faria o que quisesse. A partir desse momento, iniciou-se uma discussão sobre os bens materiais, não sendo mais necessário o atendimento do Samu, visto se notar um conflito familiar”, escreveram os médicos.
No documento, também é mencionado que, durante o atendimento, os profissionais contactaram uma advogada que disse conhecer a idosa havia anos. Ela informou que a aposentada não possui doença ou alteração psiquiátrica, mas confirmou a relação familiar conturbada e disse ainda que Patrícia costumava fazer “acusações caluniosas” contra a mãe.
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Ao deixar o prédio, os médicos do Samu ainda relataram terem sido abordados por duas moradores e um funcionário, que afirmaram que a idosa “numa apresentou alterações e sempre houve boa convivência”. Eles os questionaram sobre como buscar auxílio da Secretaria Municipal de Assistência Social, já que Patrícia acionava o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar com frequência para intervir na comunicação entre ambas.
Denúncia de maus-tratos
De acordo com o delegado Felipe Santoro, titular da 9ª DP (Catete), ao longo dos últimos 17 dias, apesar de não ter nenhuma doença ou necessidade terapêutica, idosa foi mantida na unidade particular de saúde a fim de ser coagida a se retratar de uma notícia crime que havia feito denunciando maus-tratos contra os dois netos, de 2 e 9 anos, na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav).
As investigações apontam que ao ser abordada por dois homens, na Rua do Catete, no início da tarde de 6 de fevereiro, a idosa acreditou se tratar de uma “saidinha de banco” ou um sequestro relâmpago, mas logo percebeu que a violência acontecia a mando de sua filha, já que um dos criminosos disse que “era coisa de família”.
Colocada em uma ambulância, a aposentada narrou ter chorado durante todo o trajeto até Petrópolis e, ao chegar na clínica, teve a bolsa e o celular retirados pelos funcionários, sendo colocada em um quarto sem janela nem ventilação por três dias. No local, ela disse ter sofrido com fome e com sede e gritado diversas vezes por socorro. Depois, a idosa relatou ter sido levada para um espaço coletivo, onde passou a ser obrigada a ingerir medicações.