Geração Gen Z busca romance instagramável para bombar nas redes
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A Gen Z percebeu o potencial de viralização de vídeos e fotos de casal.
Para a geração, as redes sociais são sua forma de expressão - e os relacionamentos têm que estar incluídos nisso.
Importância maior para a estética do "date" (e dos respectivos parceiros) do que com as conexões interpessoais.
Com roupas que combinam, passos razoavelmente coordenados e uma música chiclete, casais se divertem no TikTok participando de memes e brincadeiras que dominam a ferramenta. Seja com a dancinha do momento, ou contando para o público o quanto um conhece sobre o outro, respondendo às perguntas de um de seus muitos desafios, o que aprendemos em alguns (poucos) minutos scrollando pela plataforma é que casais despertam o interesse do público. No entanto, esse interesse é tão grande que, agora, muitos jovens desejam um relacionamento estável não por amor, mas para viralizar online.
Uma jovem de 19 anos, por exemplo, contou ao "Bustle" que não tem interesse em um relacionamento casual justamente por causa desse motivo: "Conteúdos com casais performam melhor na rede", explica ela. "Ter alguém postando sobre você é uma extensão da sua desejabilidade".
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É fácil perceber que, de fato, o amor (mesmo que posado) chama muito a atenção das pessoas na internet. Basta postar uma foto misteriosa de mãos dadas com alguém para ver o número de mensagens e comentários no estilo "tá namorado?" que vão chegar na sua caixa de entrada. O tanto que idealizamos o romance de influenciadores e famosos - e fazemos questão de expôr isso online - é outra prova de que ser parte de um casal, de fato, é uma ótima publicidade e aumenta o engajamento. Triste, porém é assim que funciona viver na era do digital.
Os millennials e seus "ficantes" Vs. a Gen Z e seus "namoros ideias"
Se a geração millennial ficou conhecida pela tendência do "ficar com alguém", a juventude dos relacionamentos sem seriedade, casuais, que não têm exatamente um rótulo, a Gen Z, a geração do momento, vai pelo caminho contrário. No entanto, assim como comentado acima, não tem nada a ver com amor e tudo a ver com a sua imagem online.
Por mais que existam muitos estudos e discussões sobre como a internet e as redes sociais refletem apenas uma parte da vida de uma pessoa, e os efeitos nocivos que resultam de basear a sua felicidade nessas frações compartilhadas, parece que ter algo para mostrar ainda é mais importante do que o desejo de, de fato, ter uma experiência completa - mesmo que essa experiência seja um relacionamento amoroso.
Enquanto os millennials tentam (muitas vezes sem sucesso) entender como a internet pode ser uma profissão, a Gen Z tem uma preocupação principal: viralizar. E não é viralizar entre os seus amigos, mas entre estranhos - ou seja, atingir um público muito maior do que apenas os seus fiéis seguidores. Some a esse objetivo o desejo de viver uma vida como a de seus influenciadores preferidos que, aparentemente, são iguais a eles e criam um ideal de vida que eles desejam reproduzir. E, de novo, isso significa ter um relacionamento que possa ser exibido online.
Pense, por exemplo, em casais como Whindersson Nunes e a ex-mulher, Luiza Sonza, que começaram uma carreira forte online antes de passarem para o offline - as fotos de casal, por exemplo, eram comuns nas redes dos dois.
O desejo da Gen Z pelo relacionamento instagramável
Esse desejo chega a extremos. Por exemplo, aos 20 anos, Katherine contou ao Bustle que terminou um relacionamento porque o seu então namorado não quis abrir uma conta de casal no TikTok com ela. "Um relacionamento é algo que quero compartilhar com o mundo. As redes sociais são como eu conto a minha história e se nós estamos namorando, você é parte dessa história", disse ela. "Eu senti como se ele não apoiasse os meus esforços criativos ou como eu escolhia me expressar. Ou como se ele tivesse vergonha de estar comigo publicamente".
Isso tudo sem contar a obsessão dessa geração com a estética perfeita. Pense no documentário "O Dilema das Redes", da Netflix, no qual é explicado como as pessoas passaram a se preocupar mais com o que postam nas redes sociais do que com o que acontece na vida real - como se uma coisa não tivesse efeito na outra. No entanto, estudos que conectam o efeito das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes já são uma prova das consequências dessa preocupação excessiva.
A ideia de postar o date perfeito no Instagram ou o desafio de casal mais bombado no TikTok - e conseguir aquele número astronômico de likes e comentários -, tira o foco do que o documentário da Netflix mais enfatiza: a perda de conexão entre as pessoas. Assim como as rotinas de skincare, as férias em lugares paradisíacos e até o escritório perfeito, os relacionamentos agora também passam pelo crivo da estética perfeita. E só podemos esperar para ver os efeitos reais que isso terá na vida da Gen Z, mas há de se questionar se já não é claro que os efeitos poderão ser devastadores. Priorizar medidores digitais ao invés das relações e conexões entre as pessoas, seja romanticamente ou de forma profissional, de fato não será o suficiente para suprir as questões emocionais de alguém.
Enfim, é a velha máxima: em um mundo com tanta informação (ou seria desinformação?) online, tantos padrões criados e um emocional tão fragilizado, será que precisamos mesmo de relacionamentos perfeitamente estéticos e compartilháveis? Ou será que talvez seja o momento de olharmos com mais atenção para a forma como lidamos com nossas relações desconsiderando a internet? Talvez, nesses aspecto, a Gen Z possa aprender um pouco com o cansaço generalizado que os millennials têm sentido no mundo online e pegar um pouco de distância para entender o que realmente importa.