'Morríamos enquanto Bolsonaro conversava com garimpeiros', diz líder Yanomami
Liderança Yanomami diz que 60 pedidos de ajuda foram enviados ao governo Bolsonaro
- Yanomamis enviaram pelo menos 60 pedidos de ajuda ao governo Bolsonaro (PL), diz líder indígena;
- Povo da maior reserva indígena do país enfrenta crise humanitária, com desnutrição grave e doenças em crianças e adultos;
- Uma das principais causas da situação seria o garimpo ilegal na região, incentivado por Bolsonaro.
Mais de 60 pedidos de ajuda à Terra Yanomami foram enviados ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos quatro anos, mas não obtiveram resposta. A informação foi repassada pelo líder indígena Junior Hekurari, presidente do conselho distrital de saúde indígena Yanomami, em entrevista ao GloboNews.
"O povo passou quatro anos sofrendo. O governo atual reconheceu essa tragédia que dura quatro anos. Muita gente, muitas crianças, morreram de malária e de desnutrição. Eu denunciei, pedi apoio ao Ministério da Saúde para ações de intervenção na saúde indígena em Roraima. A gente não recebia resposta do governo”, disse.
Hekurari garante ter o documentos comprovando os pedidos de socorro ao governo federal, por meio do Ministério da Saúde e até mesmo ao próprio ex-presidente.
Das respostas obtidas, uma delas era de que a situação enfrentada pelos indígenas era normal.
Segundo a liderança, pelo menos 120 comunidades ficam sem assistência em saúde durante a última gestão do Executivo nacional.
Ainda de acordo com Hekurari, o ex-mandatário costumava conversar com os garimpeiros, apontados como causadores da crise nas terras indígenas.
"Pedimos que ele visitasse a Terra Yanomami para ver a realidade. Ele simplesmente não atendeu as lideranças. Ele foi visitar área de garimpo e conversou com garimpeiros. Ficamos chateados com isso e denunciamos. O governo Bolsonaro nunca ajudou os Yanomami e incentivou o garimpo ilegal na nossa terra. Estávamos morrendo enquanto ele ia a Boa Vista para conversar com garimpeiros”, afirmou.
Equipe de saúde chegaram a visitar o território, mas viam a situação e iam embora, conta.
"Por isso, foi um governo omisso. A morte é a marca do governo Bolsonaro. Pedimos punição pois crianças morreram. Cobramos a responsabilidade das pessoas que fizeram isso”, complementou.
De acordo com Hekurari, os indígenas estão consumindo água contaminada pelo garimpo ilegal. ALém disso, a atividade teria avançado na terra indígena. Mulheres foram mortas, relata, e uma unidade de saúde foi incendiada, denuncia.
Fome na maior reserva indígena do Brasil
Somente em 2022, segundo informações do governo federal, 99 crianças Yanomami morreram, principalmente por desnutrição, pneumonia e diarreia e outras doenças evitáveis. A expectativa é de até 570 mortes infantis no território nos último quatro anos.
Por conta do avanço do garimpo ilegal, a Terra Yanomami, que é a maior reserva indígena do país, tem sofrido agravamento na saúde dos indígenas, com desnutrição de crianças e adultos, além de outras enfermidades, como verminoses e malária.
No dia 20, o governo Lula (PT) decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária que atinge as comunidades Yanomamis.