Pai chora morte de filho em aldeia Yanomami: 'Socorro foi tarde'

Ao menos cinco crianças morreram, na aldeia Palimiú, na Terra Indígena (TI) Yanomami, em um período de 12 meses

Cinco crianças morreram em 1 ano em aldeia Yanomami: 'Socorro foi tarde' - Foto: Sesai / Divulgação
Cinco crianças morreram em 1 ano em aldeia Yanomami: 'Socorro foi tarde' - Foto: Sesai / Divulgação

Ao menos cinco crianças morreram, na aldeia Palimiú, na Terra Indígena (TI) Yanomami, em um período de 12 meses. A última vítima foi um bebê de menos de um ano que morreu após ser resgatado e internado no Hospital da Criança, em Boa Vista (RR).

O UOL teve acesso a uma gravação onde são reveladas a falta de assistência que levou às mortes. Na ocasião, o pai da criança contou o drama ao defensor público da União Renan Vinicius Sotto Mayor, que comandou uma missão a Roraima entre os dias 25 e 27 de janeiro.

“Ficamos cinco luas [meses] sem visita das equipes de saúde”, disse o indígena Yanomami que não terá o nome identificado por questões de segurança.

A comunidade Palimiú, cerca de 500 indígenas moram no local e vivem assolados pela violência e ameaças de garimpeiros. Na aldeia onde esse Yanomami vive são cerca de 160 pessoas. A localidade fica a 3 horas de distância do rio Uraricoera, e para que profissionais de saúde cheguem para as visitas é preciso cruzar esse rio cheio pontos de garimpo ilegal.

Ainda de acordo com o homem, o filho dele adoeceu e ficou sem tratamento.

"Eram quatro sintomas: febre, tosse, falta de ar e diarreia", diz.

No caso da criança, além da desnutrição, os médicos informaram que se tratava também de pneumonia e malária avançadas. Ele não resistiu e faleceu dia 25. Foi muito tempo sem atendimento.

“Quando ele veio para, não deu tempo de salvar. Agora ele está morto”, disse o pai da criança.

Ainda de acordo com Yanomami, além de seu filho, outras quatro crianças morreram na aldeia em um período de pouco mais de um ano, sendo duas delas seus sobrinhos.

Diante dos casos, o defensor Renan Mayor classifica a situação encontrada como "desesperadora."

"Enquanto estamos falando aqui, tem gente com fome e morrendo na Terra Indígena", diz.

Após a divulgação dos casos, o defensor solicitou aos ministérios da Defesa e da Justiça um aumento no aparato aéreo dos indígenas. "Minha angústia é que temos dois helicópteros para atender uma área 9 milhões de hectares. Óbvio que vai faltar", afirma.