Mulher acusada de mandar matar padrasto que a estuprava é absolvida, em RR
Defensor argumentou que crime não foi premeditado
Homem foi morto por amigos da mulher
Padrasto abusou de ré por dez anos
Pela segunda vez, um júri absolveu uma mulher, de 30 anos, acusada de mandar matar o padrasto que a estuprou durante dez anos. O caso aconteceu em Boa Vista, em Roraima.
O homem foi morto a golpes de terçado por dois amigos da acusada e de seu namorado. A mulher e o companheiro foram acusados de serem mandantes do crime, mas foram absolvidos. O júri popular decidiu que eles eram inocentes no dia 2 de junho.
O defensor público José Roceliton Vito Joca argumentou, em plenário, que a mulher chegou a denunciar à Polícia Civil os abusos que sofria, anos antes do padrasto ser morto, mas que as autoridades não fizeram nada a respeito. Ela afirma ter sido estuprada diariamente dos 6 aos 16 anos de idade.
O advogado sustentou que o Estado, "ao se omitir nos cuidados com a ré, vítima de estupro desde criança, e não punindo o abusador, agora vítima, foi o grande responsável pelo crime, pois nada disso teria acontecido desta forma se a lei tivesse sido cumprida."
A mãe da vítima de abuso também foi denunciada, já que voltou a viver com o padrasto após uma breve separação. Nessa época, a ré decidiu ir viver com o namorado.
No dia que o homem foi morto, a mulher disse ao namorado que o padrasto a estava perseguindo e pediu que ele a buscasse na faculdade, segundo o defensor público. O homem estava em uma moto quando foi abordado pelo namorado da ré, que dirigia um carro e o derrubou. Em seguida, ele foi atacado pelos amigos do casal.
A ré estava no carro no momento da abordagem, mas mesmo assim a defensoria entendeu que ela não havia premeditado o crime.
"Apesar da dolorosa experiência suportada, que ainda se prolongou no tempo por novo julgamento, nesse período, ela buscava recuperar-se dos traumas, formou-se em direito, teve uma filha e recebeu sua OAB-RR, concluindo que seria muita injustiça ser inserida, agora, no ambiente prisional, já que na verdade foi uma vítima e se salvou sozinha", disse o defensor.