‘Não ganhei dinheiro em Portugal, só gastei’, relata fotógrafa
O rompimento de um relacionamento levou a fotógrafa mineira Ana Maria Onório Rodrigues a embarcar do Rio para Portugal em setembro de 2019. O objetivo era passar alguns meses descansando a cabeça, mas a volta foi sendo adiada. Passado o tempo, no entanto, Ana Maria viu que não conseguiria lá abrir portas profissionais. Em abril do ano passado, acabou retornando, e hoje vive no litoral do Espírito Santo, na Praia de Barra do Sahy, onde tem família.
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—A princípio, me acostumei à vida em Portugal e não tinha razões para voltar. Fiz um curso de permacultura com duração de seis meses em Lagos, no Algarve. É um curso super caro, mas oferecem as aulas e alojamento em troca de quatro, cinco horas de trabalho por dia. Com uma semana na fazenda, veio a pandemia. Fiquei bem cuidada, com gente do mundo inteiro, mas numa bolha — lembra a fotógrafa de 55 anos.
Concluído o curso, Ana trabalhou um tempo no mesmo local, cuidando de uma idosa. Mas sua intenção era viver de arte, e acabou se mudando para Cascais, dividindo durante seis meses um apartamento com uma amiga. Foi aí que a realidade dura para quem é brasileiro e tem qualificação ficou nítida.
— Eu faço um trabalho de artes visuais com impressão botânica. Quando saí do trabalho de cuidadora, busquei fazer o que gosto, que é arte. Mas esse mercado não é fácil. Lá, trabalho para brasileiro é de ajudante de cozinha, cuidadora... Queria também trabalhar com plantas, e Portugal tem centenas de empresas nessa área. Cheguei a fazer um curso de florista no Porto. Só que começou a ficar difícil encontrar trabalho, e eu sustentando a vida com dinheiro do Brasil. Vi que ia gastar minha grana toda, e que recuperá-la seria difícil — relata ela.
Hoje, com a venda de um sítio no Rio, ela constrói quitinetes em Barra do Sahy como investimento.
— Não ganhei dinheiro em Portugal, só gastei — diz Ana Maria, que não se arrepende da temporada portuguesa. — Tudo valeu a pena. Mas as pessoas vão achando que conseguirão muita coisa, e dão de cara com uma adaptação difícil e com falta de trabalho. E, para qualquer emprego, é preciso inglês. Encontrei muito brasileiro em dificuldade, sem dinheiro para vir embora. Não passei por isso, mas conheci essa situação.
Há cinco anos no Porto, Beatriz Carneiro, formada em moda e que hoje faz curso de cabeleireira, não pensa em voltar para o Rio, mas chama a situação de muitos brasileiros, especialmente em Lisboa, de “caótica”.
— Em Lisboa é tudo mais caro, e muitos ainda chegam por lá. E agora a inflação bateu com força. O preço do aluguel está um absurdo, e pedem quatro rendas antecipadas. Sem contar que não tem muitos imóveis — afirma. — O custo de vida não é mais baixo como era antes.