'Não há segunda onda da Covid-19 em São Paulo', diz infectologista David Uip
O infectologista David Uip afirmou que São Paulo não está diante de uma possível segunda onda de Covid-19. Na avaliação do médico — que integra o Centro de Contigência do Coronavírus —, o aumento de novos casos significaria, na verdade, um agravamento da primeira onda que atingiu o estado.
“Minha opinião, falando como David Uip e não em nome do centro de contingência, é que não há uma segunda onda em São Paulo, e sim uma continuidade da primeira onda. Nosso número de infectados nunca foi um número que chegou perto ao de outros países, e depois caiu. Agora, há um recrudescimento dessa onda”, analisou o infectologista.
A capital São Paulo vem registrando um aumento expressivo no número de internações, tanto na rede privada como na municipal, além de uma alta na procura por atendimento vinda de pacientes com quadros respiratórios e com suspeita de Covid-19.
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Na última segunda-feira (16), o governo João Doria (PSDB) admitiu pela primeira vez que ocorre um aumento estimado em 18% nas internações pelo novo coronavírus no estado de São Paulo.
Segundo dados do Censo Covid, compilados pelo governo, a média diária de novas internações pela doença foi de 1.009 na semana que terminou no último sábado. No período anterior, essa média foi de 859 hospitalizações em razão da Covid-19.
Foi a primeira vez desde o início de outubro que a média diária de novas internações na semana superou a casa de 1 mil hospitalizações.
MANUTENÇÃO DOS LEITOS DE ENFERMARIA E UTI
Diante do aumento no número de casos no estado, o Centro de Contingência pediu ao governo de São Paulo que não desative os leitos de enfermaria e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados a pacientes com Covid-19.
“Fizemos uma sugestão ao secretário estadual (de Saúde, Jean Gorinchteyn) e ao governador para mantermos os leitos reservados, tanto os de enfermaria quanto os de UTI. Para que esse número que temos hoje não seja descontingenciado, diminuído”, explicou Uip.
O infectologista também ressaltou que solicitou ao governo Doria que atente o Ministério da Saúde de continuar financiando a preservação desses leitos, principalmente os de UTI.
Segundo Uip, o Centro de Contingência ainda não debateu a necessidade de reativar os hospitais de campanha em São Paulo, criados para atender a demanda no auge do combate à pandemia e desativados posteriormente.
“É importante também que as Vigilâncias em Saúde, tanto do estado quanto dos municípios, se mantenham alerta (com relação ao aumento de casos”, completou.
AGLOMERAÇÃO E FIM DE ANO
Uip atribui esse crescimento, vindo principalmente da capital, ao fato da população ter relaxado com relação às medidas de segurança — como o uso de máscaras e o distanciamento social —, além de notar um aumento nas aglomerações e festas.
O infectologista destacou ainda que o Centro de Contingência e o governo estão muito preocupados pelo fato desse crescimento no número de casos acontecer justamente em um período próximo às festas de final de ano, como Natal e Ano Novo.
“Estamos muito preocupados, todo mundo está preocupado. Nós temos falado, orientado. A imprensa tem falado, orientado, sobre o distanciamento social, mas as pessoas não estão ouvindo. Eu tenho uma frase que repito: ‘eu entendo e sou solidário que a população está exausta de ouvir falar em Covid, mas o vírus não está cansado, exausto. O vírus está ativo. Por isso, temos que nos resguardar”, completa Uip.
INFECTOLOGISTAS ALERTAM PARA LOTAÇÃO E DEFENDEM ‘LOCKDOWN’
Um grupo de infectologistas de São Paulo assinou uma carta a amigos para alertá-los sobre “um aumento expressivo de casos de Covid-19 nos hospitais” que, segundo eles, estariam “lotados” por causa de um aumento que chegaria a até 100% em alguns serviços.
A carta, enviada em caráter pessoal a pessoas conhecidas, foi assinada por médicos como Giovanna Baptista Sapienza, Marcela Capucho Chiaratin, Renata Guise Azevedo, Natanael Sutikno Adiwardana e Daniel Wagner Santos.
“Recomendamos fortemente novo ISOLAMENTO DOMICILIAR!”, escreveram eles, em maiúsculas. “Não ir a bares, restaurantes e festas. Não organizem encontros ou eventos sociais. Acreditamos que vocês estejam cansados de tudo isso, mas lembrem-se que nós estamos MUITO mais.... e ainda estamos vendo pessoas morrerem, famílias inteiras contaminadas, e os casos aumentando progressivamente sem nenhuma medida sendo tomada por parte dos governos”, diz a carta revelada pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha de S.Paulo.