CPI da Covid: Negociação com Butantan foi paralisada após fala de Bolsonaro, diz Dimas Covas
Dimas Covas afirmou que as negociações com o governo federal para oferta de vacinas foi paralisada após ordem de Bolsonaro
Diretor do Instituto Butantan detalhou que, em outubro, ofereceu 100 milhões de doses da CoronaVac até maio de 2021
Em depoimento de Covas à CPI da Covid, ele disse que Brasil poderia ter sido o primeiro governo a vacinar contra covid-19
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado ouve nesta quinta-feira (27) o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Em sua fala inicial, Covas explicou sobre a negociação da CoronaVac, vacina do laboratório chinês Sinovac e desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan, com o governo federal.
O Instituto já havia recebido uma "sinalização positiva" do Ministério da Saúde para oferecimento de 100 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, mas as tratativas foram paralisadas após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que mandou cancelar a compra da CoronaVac.
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No dia 7 de outubro de 2020, o Butantan ofereceu 100 milhões de doses ao Ministério da Saúde, das quais 45 milhões seriam produzidas em 2020. O último lote seria entregue até março de 2021.
Segundo o diretor do Instituto, houve uma sinalização positiva da pasta, inclusive, com a possibilidade de formulação de uma medida provisória.
No dia 20 de outubro, em reunião com governadores, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou a intenção de assinatura do protocolo de intenções, e Covas foi convidado para uma cerimônia onde a vacina seria anunciada.
No 21 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que mandou cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac.
“A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso. Tenho certeza que outras vacinas que estão em estudo poderão ser comprovadas cientificamente, não sei quando, pode durar anos”, disse.
No dia seguinte, Pazuello apareceu ao lado de Bolsonaro em uma transmissão ao vivo e disse que “um manda e outro obedece”. O general da ativa foi desautorizado pelo presidente após anunciar a compra de 46 milhões de doses da Coronavac.
Mas, em seu depoimento à CPI, Pazuello disse que o presidente nunca havia interferido na compra da Coronavac.
Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, perguntou quando o presidente Jair Bolsonaro havia comunicado que o Ministério da Saúde não poderia comprar a vacina CoronaVac. "Nunca comunicou nada disso", respondeu Pazuello.