Nos 458 anos do Rio, fotos do nascer do sol mostram a beleza da cidade ao amanhecer

Sempre gostei de acordar cedo. Na redação, a ideia de produzir registros da cidade ao amanhecer ganhou forma, em um primeiro momento, como uma maneira de atualizar o site do jornal, ao abrir cada dia com uma cena das primeiras horas da manhã. A fotografia, curiosamente, tem o poder de estancar um momento para sempre. E, por outro lado, é um processo em que tudo acontece num átimo, em um brevíssimo espaço de tempo. O amanhecer acrescenta mágica a essa receita: nas primeiras horas do dia a gente vê o tempo passar, o sol subir, a luminosidade aumentar, as tonalidades mudarem. Toda essa dança acontece diante dos nossos olhos.

E aí entra o Rio de Janeiro, o aniversariante de hoje, cuja paisagem é considerada patrimônio da Humanidade. Sempre morei aqui. Por paixão e por ofício, tornei-me cúmplice de personagens e paisagens da cidade. Na rotina pesada do jornalismo diário, fui buscando cada vez mais pautas de história e meio ambiente: com a idade, e a chegada dos meus quatro filhos, a cobertura de tiroteios, incursões policiais e crimes em geral deu lugar a outros interesses. Ainda faço, claro, por dever profissional (no meu último plantão houve uma chacina terrível em Magé).

Mas sou um carioca orgulhoso: nasci em uma cidade que, embora maltratada ao longo desses 458 anos, também acumulou muitas boas histórias. É isso que me anima a pegar a câmera e ir para a rua a cada novo amanhecer.

* Em depoimento a Pedro Tinoco

Caçula dos cinco filhos da dona de casa Maria e do comerciante português Emygdio Antunes Coimbra, Custodio Coimbra cresceu nas ruas de Quintino, bairro da Zona Norte carioca, batendo bola com, entre outros vizinhos, seu primo Arthur — que depois viria a ser mais conhecido como o craque rubro-negro Zico.

Incentivado pelos irmãos, Custodio começou a frequentar clubes de fotografia aos 11 anos — no curso de graduação em Belas Artes, acalentou a ideia de seguir carreira como artista plástico, mas foi capturado pelo fotojornalismo: passou pelas redações da Última Hora e do Jornal do Brasil. É fotógrafo do GLOBO desde 1989.

Em 2021, teve 410 imagens adquiridas pelo Instituto Moreira Salles, principal acervo de fotojornalismo do país. Sua obra divide espaço com a de fotógrafos como Marc Ferrez, Walter Firmo e Evandro Teixeira.

Com quatro filhos e quatro netos, Custodio participou de diversas exposições e tem, entre outros livros publicados, “Rio de cantos 1000” (2009) e “Guanabara, espelhos do Rio” (2016), ambos em parceria com sua mulher, a jornalista Cristina Chacel (1959–2020). Imagens do fotógrafo já renderam menção honrosa no IV Prêmio Vladimir Herzog, em 1994, e o Prêmio Esso de Contribuição à Imprensa, concedido pela série “Retratos do Rio”, publicada em 2001, no GLOBO.

Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, o fotógrafo já ultrapassou 1,2 milhão de imagens guardadas. Sua vasta coleção vai de episódios históricos a futebol e outros esportes, passando por registros da natureza e do Rio de Janeiro, suas duas maiores paixões.