O que a queda da Netflix significa para o mundo do streaming

Netflix agora enfrente intensa batalha no campo do streaming
Netflix agora enfrente intensa batalha no campo do streaming
  • Netflix teve a primeira queda de assinantes em mais de uma dĂ©cada

  • Fim do isolamento e aumento nos preços e concorrentes podem ser explicaçÔes

  • Empresa terĂĄ que criar novos modelos de negĂłcio para sobreviver

O anĂșncio da Netflix de que perdeu 200 mil assinantes entre janeiro e março deste ano ano causou tensĂŁo no mercado de streaming. A queda pode ser ainda maior, jĂĄ que o resultado financeiro aponta que a baixa de assinantes pode chegar a 2 milhĂ”es atĂ© junho.

A empresa que começou uma nova era de entretenimento estaria perdendo força ou os rivais ficaram mais competitivos?

Para a companhia, o cenårio ruim pode ser explicado pelo fim do isolamento social causado pela pandemia (inegåvel que milhÔes de pessoas passaram um tempo maior em casa e consumiram mais os produtos da Netflix e seus concorrentes) e, em parte, pelo compartilhamento de contas entre usuårios.

Outro fator que pesou contra a Netflix foi o aumento no preço dos planos. O pacote båsico no Brasil custa R$ 25,90, mais caro que os da mesma categoria de Prime Video, HBO Max, Globoplay, Telecine, Paramount e Apple. Apenas a Disney, R$ 27,90, e StarPlus, R$ 32,90 (ambos serviços são do mesmo grupo), são mais caros.

Mercados importantes, como EUA e CanadĂĄ, tambĂ©m tiveram seus planos reajustados (o primeiro aumento desde 2020) e lĂĄ a Netflix perdeu 600 mil clientes, nĂșmero que afetou seu plano global.

Um momento delicado para a companhia foi na guerra da UcrĂąnia, quando de uma sĂł vez, estima-se, perdeu 700 mil assinantes ao suspender seus serviços na RĂșssia.

Esses nĂșmeros ruins tiveram reflexo no mercado financeiro. O serviço de streaming registrou uma queda de 35% em suas açÔes no Ășltimo dia 20 e viu evaporar nada menos que R$ 274 bilhĂ”es (US$ 54 bilhĂ”es) em seu valor de mercado.

O tombo nos papéis representou a maior perda diåria da empresa em mais de uma década.

Mas serĂĄ que o pĂșblico se cansou da Netflix? Para Roberto Gondo, professor de InteligĂȘncia Competitiva e Mercado do Mackenzie, nĂŁo. "O pĂșblico nĂŁo se cansou. É uma lĂłgica do ser humano pĂłs-moderno. Era inevitĂĄvel que a Netflix ia sofrer a mĂ©dio prazo com a entrada de novos players, como Disney, Amazon, Paramount e Globoplay. Faço um paralelo com o que aconteceu com a Cielo. Com o decorrer dos anos, outros players foram entrando, como GetNet, do Santander, PagSeguro, do UOL, e o prĂłprio Pix. E o que aconteceu? A Cielo perdeu valor. O modelo da Netflix nĂŁo Ă© que se esgota, mas Ă© que antes ela estava praticamente sozinha nesse processo."

Compartilhamento de senhas

O compartilhamento de senhas Ă© algo bem comum entre clientes do serviço e um dos motivos, na visĂŁo da empresa, para os nĂșmeros ruins do momento. Na estimativa da companhia, seriam cerca de 100 milhĂ”es de perfis compartilhados, quase metade do volume total de membros do da Netflix, sendo 30 milhĂ”es apenas nos EUA e CanadĂĄ.

É claro que isso já acendeu o alerta na direção da Netflix. O próprio CEO Reed Hastings afirmou que a empresa está pensando em uma forma de monetizar o compartilhamento de contas.

Um sistema parecido com essa ideia estå sendo testado em Chile, Costa Rica e Peru. Lå, os usuårios podem adicionar até duas contas secundårias e pagam R$ 7 por dependente. A taxa não é obrigatória neste momento e ainda não hå uma estratégia para aplicar essa política de forma global.

Além disso, o lançamento de planos mais baratos também estå sendo discutido

Para o professor do Mackenzie, a Netflix terĂĄ que ter propaganda em seus serviços para sobreviver de forma saudĂĄvel. "Paramount e Amazon fazem isso para lançar seus filmes. Hoje, vocĂȘ vĂȘ muitas campanhas fazendo uso da mĂ­dia tradicional para estimular o acesso", explica Roberto Gondo.

Netflix pode copiar o 'modelo' Globoplay?

No começo da era do streaming, os concorrentes da Netflix copiavam seu modelo, com o lançamento de todos os episódios de uma temporada numa tacada só - a partir daí passamos a integrar o termo maratonar ao vocabulårio.

No entanto, as coisas mudaram. Agora, fĂłrmulas como a do Globoplay e outros players – de soltar apenas um ou dois episĂłdios por semana – parece que caiu nas graças da Netflix. ProduçÔes premiadas da gigante norte-americana, como La Casa de Papel e Stranger Things - jĂĄ 'dividiram' suas temporadas.

Outra questão que começou a ser debatida é se o Globoplay, por exemplo, teria mais flexibilidade para agir em momentos difíceis (por não ser uma empresa de capital aberto) do que a Netflix. Para Roberto Gondo, isso não faz diferença. "O diferencial do Globoplay é que a Globo tem uma presença muito forte na vida do brasileiro. E essa presença tem a ver com reality show, novelas e noticiårio, algo muito mais próximo da população para o engajamento. A questão envolvendo o Globoplay não tem a ver apenas com a natureza de capital da empresa".

Acionistas acusam Netflix de mentir sobre nĂșmeros

Investidores estão acusando a gigante do streaming de ocultar previsÔes negativas relacionadas ao futuro do negócio e realizar afirmaçÔes falsas ou enganosas sobre seu crescimento. Eles agora pedem que a empresa pague indenizaçÔes para compensar as perdas financeiras.

A ação judicial foi movida no Tribunal de São Francisco, na Califórnia (EUA), em nome de todos os acionistas da gigante entre outubro de 2021 e abril deste ano. O processo aponta que o serviço de streaming teria evitado informar que o crescimento estava caindo em meio ao fortalecimento de rivais, como Disney+ e Amazon Prime.

O fato Ă© que a Netflix (e nĂŁo sĂł ela) terĂĄ que encarar um futuro cada vez mais desafiador no setor do streaming. A busca pela audiĂȘncia nĂŁo virĂĄ somente contra rivais tradicionais, como Amazon e HBO. A Netflix precisarĂĄ investir (e rĂĄpido) em novas sĂ©ries que cativem o pĂșblico. Sucessos como La Casa de Papel, Stranger Things, The Crown, Ozark, House of Cards, Dark e Better Call Saul jĂĄ acabaram ou estĂŁo em suas fases finais.

As redes sociais ainda sĂŁo opçÔes tentadoras para os mais jovens. O pĂșblico de 14 a 25 anos prefere passar mais tempo consumindo conteĂșdos curtos no TikTok, Instagram e Youtube ao invĂ©s de se debruçar em sĂ©ries que demandam horas de atenção em um mesmo enredo.

A batalha por pĂșblico e clientes estĂĄ sĂł começando.

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