ONU prepara ajuda para os Yanomami e Brasil investiga possível genocídio

Doze agências das Nações Unidas estão a preparar uma proposta integrada para enviar ajuda urgente aos Yanomami, o povo indígena que habita nos estados brasileiros do Amazonas e de Roraima, atualmente em situação de "emergência sanitária" decretada pelo Governo liderado por Lula da Silva.

A ajuda internacional foi anunciada por Stéphane Dujarric, o porta-voz do secretário-geral António Guterres, de acordo com as informações recolhidas pela coordenadora residente da ONU no Brasil, Silvia Rucks, após reunião na terça-feira com Silvio Luiz de Almeida, o ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A comunidade Yanomami está a ser ameaçada sobretudo pelo avanço do garimpo ilegal, mas também, acusa o novo Governo federal, pela falta de assistência do anterior executivo liderado por Jair Bolsonaro.

O presidente do Conselho Distrital da Saúde Indígena Yanomami reforça que esta comunidade passou "quatro anos sem assistência de saúde nas comunidades".

"São 120 comunidades a lutar pela vida. Mais de 20 mil garimpeiros nas terras dos Yanomami armados, intimidando as comunidades", denuncia Junior Hekurari.

É uma comunidade que está a sofrer e vivendo com medo.

A pedido de Flávio Dino, Ministro da Justiça e Segurança Pública, a Polícia Federal do Brasil abriu um inquérito sobre um possível crime de genocídio contra os Yanomami.

Além dos garimpeiros, no alvo estarão também chefes de serviços sanitários destinados aos indígenas vinculados ao Ministério da Saúde do governo Bolsonaro e outros agentes políticos também ligados ao ex-presidente.

Na cidade da Boa Vista, estado de Roraima, o hospital pediátrico Santo António, visitado esta semana por uma equipa de reportagem da Globo, reflete a emergência em curso.

Pelo menos 53 crianças Yanomami estão ali internadas, a maioria por desnutrição grave e malária. Pelo menos três tiveram de ser intubadas. Algumas chegam a pesar duas vezes menos que o normal e por vezes, com quatro anos de idade, nem passam do tamanho de um bebé.

O recém-criado Ministério dos Povos Indígenas calcula terem morrido pelo menos 99 crianças só em 2022 devido aos impactos do garimpo ilegal e o Ministério Público Federal alerta para a desnutrição de mais de metade das crianças da comunidade.