Pen drive de Eduardo Bolsonaro mostrou verdade sobre Brasil: somos o paraíso do meme
Imagine a situação.
Um integrante da Fifa está sentado numa arquibancada do estádio onde jogam Brasil e Suíça quando aparece um sujeito estranho com um pen drive na mão e um convite: “o senhor tem cinco minutos para ouvir a palavra do golpe de Estado no Brasil?”.
Não sei vocês, mas eu correria para o dicionário inglês-português para aprender em nossa língua como se diz "sai daqui".
Foi mais ou menos isso o que diz ter feito o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao ser flagrado em dia de expediente em plena semana curtindo o jogo da seleção de Tite.
Até onde se sabe, a viagem ao Qatar rendeu ao ex-futuro embaixador brasileiro um contato diplomático, com direito a foto e tietagem, apenas com o homem que se veste de Taça Copa do Mundo durante as partidas.
O filho 03 do presidente desaparecido Jair Bolsonaro (PL) jura que foi ao país-sede do Mundial com um dispositivo de armazenamento de dados na mão e uma ideia na cabeça.
A ideia: “nesses pen drives aqui tem videos em inglês explicando a situação do Brasil. Eu espero que vocês não creiam que aqui só se fala em Copa do Mundo. Só para lembrar para vocês que a Fifa tem mais membros que as próprias Nações Unidas. A imprensa inteira está aqui”.
Eduardo Bolsonaro era criticado por ter viajado enquanto os apoiadores de seu pai sofrem com a chuva, o frio e os banheiros químicos montados em frente a quartéis do Exército onde pedem golpe militar e outros delírios.
Vendo que o passeio pegou mal, o parlamentar preferiu aparecer em público para se autoincriminar.
Como resumiu o jornalista Josias de Freitas, no UOL, “se formos levar Eduardo Bolsonaro a sério, seria necessário que uma autoridade judiciária expedisse um mandado para aguardar o deputado no seu desembarque no Brasil para prendê-lo em flagrante, porque ele está patrocinando uma conspiração internacional contra a democracia brasileira”.
Um fato mais grave, portanto, do que simplesmente trair a boa fé dos compatriotas encharcados.
A chance de a fala resultar em algum problema, porém, é baixa. Na lista de infrações cometidas pela turma ainda tem uma fila onde uma colega de bancada é vista perseguindo armada um eleitor pelas ruas de São Paulo sem que nada acontecesse a ela no dia seguinte.
Mais fácil pensar que parte dos manifestantes dispostos a seguir acampados por mais 72 horas, renováveis por mais 72 horas, e mais de 72 horas, e assim por diante, já engoliu a conversa do pen drive e já dorme tranquila sob o relento golpista.
É para isso que foram produzidas tantas balelas nos últimos anos: testar a aderência das teses mais estapafúrdias que a razão ainda desconhece.
Quem acredita em terra plana, Ratanabá e fraude nas urnas — que ninguém levado a sério conseguiu provar — pode acreditar também que o regabofe do filho do presidente foi movido apenas por fins patrióticos e que o espírito golpista está guardado a salvo, como um gênio da lâmpada, num pen drive da bagagem.
Para quem já tentou parar um caminhão de peito aberto e ganhou de graça uma viagem segurando-se no parabrisa, não vai ser uma história mal contada sobre pen drive e viagem ao deserto que vai frear a convicção de que está fazendo a coisa certa pelo país (spoiler: não está).
Por enquanto, tudo o que Eduardo Bolsonaro conseguiu botar pra trabalhar foi a fábrica de memes em seu país.
Em um desses memes, um patriota com a camisa amarela pega viagem pendurado no parachoque de um imenso pen drive em direção ao espaço. Ou seria o lugar nenhum?