Pessoas que já tiveram dengue têm duas vezes mais chance de desenvolver Covid-19 com sintomas
Um estudo sugere que as pessoas que já tiveram dengue são duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas da Covid-19 caso infectadas pelo coronavírus
As conclusões descritas no artigo se baseiam na análise de amostras sanguíneas de 1.285 moradores do município de Mâncio Lima, no Acre
Foram incluídas nas análises amostras de sangue coletadas em dois momentos: novembro de 2019 e novembro de 2020
Um estudo sugere que as pessoas que já tiveram dengue são duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas da Covid-19 caso infectadas pelo coronavírus. A pesquisa foi divulgada, nesta quinta-feira (6), na revista Clinical Infectious Diseases.
“Nossos resultados evidenciam que as populações mais expostas à dengue, talvez por fatores sociodemográficos, são justamente as que correm mais risco de adoecer caso sejam infectadas pelo Sars-CoV-2", disse o professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USPMarcelo Urbano Ferreira, coordenado do estudo, à Agência Fapesp.
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As conclusões descritas no artigo se baseiam na análise de amostras sanguíneas de 1.285 moradores do município de Mâncio Lima, no Acre. O trabalho teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Para os pesquisadores, os resultados são exemplos do que tem sido chamado de sindemia — a interação sinérgica entre duas doenças de modo que uma agrava os efeitos da outra.
"Por um lado, a Covid-19 tem atrapalhado os esforços de controle da dengue, por outro, esta arbovirose parece aumentar o risco para quem contrai o novo coronavírus”, disse Ferreira.
Foram incluídas nas análises amostras de sangue coletadas em dois momentos: novembro de 2019 e novembro de 2020. O material foi submetido a testes capazes de detectar anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue e também contra o coronavírus.
O que mostram os resultados
Os resultados mostraram que 37% da população avaliada já havia contraído dengue até novembro de 2019 e 35% haviam sido infectados pelo novo coronavírus até novembro de 2020. Também foram analisadas as informações clínicas (sintomas e desfecho) dos voluntários diagnosticados com a Covid-19.
“Por meio de análises estatísticas, concluímos que a infecção prévia pelo vírus da dengue não altera o risco de um indivíduo ser contaminado pelo Sars-CoV-2. Por outro lado, ficou claro que quem teve dengue no passado apresentou mais chance de ter sintomas uma vez infectado pelo novo coronavírus”, explicou Vanessa Nicolete, pós-doutoranda no ICB-USP e primeira autora do artigo, à agência.
Pesquisadores não sabem precisar as causas
Os pesquisadores não sabem precisar as causas do fenômeno descrito no artigo. É possível que exista uma base biológica —os anticorpos contra o vírus da dengue estariam favorecendo de algum modo o agravamento da Covid-19— ou seja simplesmente uma questão sociodemográfica, relacionada com a existência de populações mais vulneráveis às duas doenças por características diversas.
“Os resultados evidenciam a importância de reforçar tanto as medidas de distanciamento social voltadas a conter a disseminação do Sars-CoV-2 como os esforços para controle do vetor da dengue, pois há duas epidemias ocorrendo ao mesmo tempo e afetando a mesma população vulnerável. Isso deveria ganhar mais atenção por parte do governo federal”, avalia Ferreira.
O artigo pode ser lido em https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab410/6270997.