Policiais agrediram Genivaldo de Jesus por 30 minutos, dizem moradores

UMBAÚBA, SE (FOLHAPRESS) - Antes de os policiais rodoviĂĄrios federais levarem Genivaldo de Jesus Santos ao hospital, ele foi agredido por cerca de 30 minutos, segundo relatos de testemunhas Ă  reportagem. A vĂ­tima morreu na Ășltima quarta-feira (25) na cidade sergipana de UmbaĂșba apĂłs ser colocada num carro da corporação com gĂĄs lacrimogĂȘneo.

Das seis pessoas ouvidas, trĂȘs concordaram em detalhar a cena --duas delas pediram anonimato.

A abordagem a Genivaldo, 38, ocorreu no local chamado Posto Reforço, onde funcionam oficinas de automóvel.

JĂĄ imobilizado, ele foi atingido com spray de pimenta nos olhos e, em seguida, acabou jogado ao chĂŁo.

Depois de receber alguns golpes, como chutes, foi colocado na viatura.

No veículo, ainda segundo a descrição das testemunhas, um dos agentes jogou gås e mais spray de pimenta. Genivaldo, então, começou a se debater com os pés para fora da viatura pedindo socorro.

De acordo com as testemunhas, ele ainda ficou por cerca de 15 minutos trancado dentro do porta-malas depois de ter inalado o gĂĄs jogado pelos agentes no interior do carro.

O caminhoneiro Aldrin Teixeira, 46, afirma que presenciou toda a cena. Segundo ele, a abordagem, que chamou de truculenta, ocorreu por volta das 11h, quando Genivaldo passava pelo local sem capacete, porém portava documentos que comprovariam a regularização da moto.

"Ele nĂŁo reagiu, apenas perguntava a razĂŁo de estarem batendo nele", conta Teixeira, ao afirmar que a vĂ­tima reagiu instintivamente depois de ser atingido com spray de pimenta nos olhos.

Teixeira relata ainda que houve uma tentativa frustrada por parte da população de tentar evitar as agressÔes, mas que foram ameaçados pelos policiais, que fizeram vídeos das testemunhas.

"Quem estava vendo aquelas cenas e tentou impedir as agressÔes foi ameaçado. Os policiais filmaram as pessoas que estavam filmando, em tom de ameaça. Por isso, estamos todos com medo aqui", relata.

Uma mulher contou Ă  reportagem que os policiais tentaram algemar as pernas da vĂ­tima. "AĂ­ pessoal gritou: 'Algemas nĂŁo foram feitas para pernas!'."

Outra testemunha disse que a abordagem se deu sob vĂĄrios tipos de tortura Ă  vĂ­tima. O jovem conta que os policiais tentaram algemar as pernas da vĂ­tima, causando dor e mais gritos. "Tivemos que gritar para eles pararem de tentar pĂŽr algemas nas pernas de Genivaldo. Foi muito difĂ­cil ver aquilo e sem poder fazer nada para ajudĂĄ-lo" relata.

Nesta quinta-feira (26)), a viĂșva Maria Fabiana dos Santos, 40, contou Ă  reportagem que recebeu a ligação Ă s 11h de um amigo relatando a abordagem pela PRF, "Venha logo, Fabiana, seu marido estĂĄ sendo massacrado", gritava ao telefone o colega, ela contou.

Quando chegou ao local, a mulher conta que viu o marido deitado de bruços na viatura, sem se mexer. "Eu pedi que eles [os policiais] abrissem a porta para que ele pudesse respirar, mas ouvi de um deles que meu marido estava melhor do que eles", relatou, chorando.

Jå no hospital, por volta das 13h, a mulher disse que se deu conta de que seu marido estava morto quando presenciou a médica realizando o procedimento de reanimação.

"Ali eu percebi que não tinha jeito, que ele estava morto, porque a médica que o atendeu contou primeiro aos policiais, que saíram às pressas do local enquanto eu gritava e chorava com a dor da perda. Assassinos!", afirmou.

Foi neste mesmo horĂĄrio que os agentes envolvidos na abordagem realizaram o boletim de ocorrĂȘncia. Nele consta que Genivaldo teve um "mal sĂșbito" no trajeto para a delegacia e foi levado para o Hospital JosĂ© Nailson Moura, no municĂ­pio, onde morreu por volta das 13h.

A casa de apenas dois cĂŽmodos onde mora, num bairro simples da cidade de UmbaĂșba, estava fechada nesta sexta-feira. Fabiana escolheu passar os prĂłximos dias na casa de parentes, segundo familiares.

Sobrinho da vĂ­tima, Ismael dos Santos diz que a sensação Ă© de impotĂȘncia. "A gente nĂŁo consegue entender ainda o que aconteceu, Foi algo tĂŁo brutal que nĂŁo podĂ­amos imaginar que acontecesse. Meu tio estava sem capacete, mas aqui no interior Ă© algo comum e mesmo assim ele nĂŁo deveria ter sido morto por isso. Isso nĂŁo Ă© crime de morte."

Segundo laudo preliminar do IML (Instituto Médico-Legal), a morte de Genivaldo foi por asfixia.

Em nota divulgada nesta sexta, a Secretaria de Segurança PĂșblica disse que a perĂ­cia de Sergipe vai auxiliar a PolĂ­cia Federal no inquĂ©rito que apura a morte de Genivaldo.

"Foi identificado, de forma preliminar, que a vĂ­tima teve como causa da morte insuficiĂȘncia aguda secundĂĄria a asfixia. Essa obstrução pode se dar atravĂ©s de diversos fatores e, nesse primeiro momento, nĂŁo pode ser identificada e depende de exames complementares. ApĂłs a conclusĂŁo dos trabalhos, os laudos serĂŁo remetidos Ă  delegacia da PolĂ­cia Federal", diz a nota.

Procurada sobre os relatos de suposta tortura antes da morte de Santos, a PRF ainda não havia se manifestado até o início da noite desta sexta.

Em nota, mais cedo, a PRF informou que "estĂĄ comprometida com a apuração inequĂ­voca das circunstĂąncias relativas Ă  ocorrĂȘncia" e que "os agentes envolvidos foram afastados das atividades de policiamento".

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