Príncipe Charles diz que política britânica de enviar imigrantes para Ruanda é 'terrível', afirma jornal
O príncipe Charles criticou a política do governo britânico de enviar para Ruanda imigrantes que chegam sem documentos ao Reino Unido, chamando-o de "terrível", informou o jornal The Times, a poucos dias do projeto entrar em vigor. A controvertida política do premier Boris Johnson, que sobreviveu a um voto de desconfiança na segunda, deve começar a ser posta em prática na semana que vem.
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Uma fonte contou ao jornal que ouviu o príncipe, primeiro na linha de sucessão ao trono britânico expressar diversas vezes, em privado, sua oposição à medida. Segundo o veículo, Charles disse que "estava mais do que decepcionado" e que toda a conduta do governo é "terrível", informações similares às obtidas pelo tabloide Daily Mail.
A Clarence House, residência oficial do príncipe, não negou as declarações, afirmando apenas que não comenta conversas privadas anônimas do primogênito da rainha. A nota diz ainda que Charles "permanece politicamente neutro e que assuntos políticos são decisões do governo".
As críticas de Charles se somariam às de vários líderes religiosos e ativista que denunciam o plano de enviar os imigrantes que cruzam o Canal da Mancha sem visto para Ruanda. Firmado em abril, o acordo custou aproximadamente 120 milhões de libras (R$ 738 milhões) e é similar a políticas adotadas por outros países, como a Dinamarca, que também são internacionalmente criticados.
Segundo o primeiro-ministro, a medida, que representa uma grande mudança de política para a questão da imigração irregular, foi projetada para dissuadir pessoas sem visto de fazerem a perigosa travessia do Canal da Mancha. Cerca de 28 mil pessoas fizeram isso em 2021.
O governo britânico pretende enviar na terça-feira o primeiro avião com um grupo de 31 requerentes de asilo. No ano passado, Londres criticou o histórico de Ruanda, governada há 22 anos pelo presidente Paul Kagame, em relação a direitos civis e políticos e liberdade de imprensa. Na ocasião, aconselhou o país a investigar as alegações de execuções extrajudiciais, mortes sob custódia, desaparecimentos e tortura. Nada disso, contudo, impediu que o acordo fosse firmado.
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Além da questão humanitária, segundo a imprensa britânica, Charles teme que a decisão de Boris ofusque a Cúpula da Commonwealth, que por coincidência acontecerá em Ruanda nos dias 24 e 25 de junho.
Para o premier, o timing não é dos melhores. Na segunda, ele sobreviveu a um voto de desconfiança de seu próprio Partido Conservador, após uma crise de meses devido à realização de festas na sede do governo quando os britânicos estavam em quarentena, proibidos de realizar reuniões, por causa da pandemia da Covid-19. Boris também enfrenta problemas econômicos agravados pelo Brexit, como a inflação alta e a escassez de mão de obra, e derrotas do Partido Conservador em eleições regionais recentes.
Se conseguiu se manter como líder da legenda e chefe do governo, no entanto, sai desgastado politicamente depois de perder o apoio de 41% dos deputados conservadores. Seguindo as regras da legenda, Boris não poderá enfrentar outro voto de desconfiança no período de um ano. No entanto, isso não significa segurança para o premier: sua antecessora Theresa May chegou a sobreviver ao mesmo processo e com uma taxa de apoio maior do que a de Boris, mas, pressionada, renunciou meses depois, em maio de 2019.