Premiê do Japão visita Biden em meio a crescente militarização da Ásia
WASHINGTON, ESTADOS UNIDOS (FOLHAPRESS) - Em meio à crescente militarização no leste da Ásia, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, foi a Washington nesta sexta-feira (13) para se encontrar com o presidente dos EUA, Joe Biden.
Trata-se do primeiro encontro dos dois líderes desde o anúncio da nova estratégia de segurança nacional do Japão, divulgada em dezembro, que acaba por enterrar as pretensões pacifistas da Constituição pós-guerra do país e na prática prepara a nação para um conflito contínuo. A mudança de visão do papel de Tóquio no mundo ocorre em meio às preocupações com ambições expansionistas da China na região.
Com um orçamento militar de US$ 320 bilhões (R$ 1,6 trilhão), o reforço na defesa japonesa inclui a compra de mísseis capazes de atingir a China e coloca o país na terceira posição do ranking de maiores gastos militares -justamente atrás dos EUA e da China. Principal adversário de Pequim no cenário global, Washington apoia de forma ampla a nova estratégia de segurança nacional do Japão.
Soma-se a esse cenário a Guerra da Ucrânia e o temor de que a China promova algo similar com Taiwan. Kishida vem repetindo que "a Ucrânia de hoje pode ser a Ásia de amanhã". Antes de ir a Washington, ele conversou por telefone com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e foi convidado a viajar a Kiev.
Segundo a Casa Branca, na pauta da reunião com Biden está o aumento da parceria entre os países em temas que vão do combate à crise climática e cooperação espacial até o programa nuclear da Coreia do Norte, a invasão empreendida pela Rússia e a "manutenção da estabilidade no Estreito de Taiwan".
O Japão tem até hoje conflitos territoriais abertos, tanto com a Rússia, em relação às ilhas Curilas -hoje ocupadas por Moscou-, quanto com a China, nas ilhas Senkaku -atualmente desabitadas. A nova estratégia de segurança do governo japonês segue a linha adotada por Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro morto no ano passado, que fez um governo focado no fortalecimento da defesa do país asiático.
Ao longo da semana, os ministros das Relações Exteriores e da Defesa de EUA e Japão se reuniram, e o Pentágono anunciou planos para destacar um novo regimento militar à Marinha japonesa, que aumentaria suas capacidades militares com mísseis navais. "Os ministros concordaram que a política externa da China busca remodelar a ordem internacional em seu benefício e empregar seu crescente poder político, econômico, militar e tecnológico para esse fim", diz comunicado conjunto divulgado pelos ministros americanos e japoneses. "Esse comportamento é motivo de grande preocupação para a Aliança e toda a comunidade internacional e representa o maior desafio estratégico na região do Indo-Pacífico e além."
Tóquio assumiu a presidência do G7 e sediará o próximo encontro do grupo, que acontecerá entre 19 e 21 de maio, em Hiroshima, atacada com uma bomba atômica pelos americanos no final da Segunda Guerra.
Nesta sexta, há a expectativa de que os presidentes discutam uma visita de Biden a Nagasaki, outra cidade atacada na guerra com uma bomba nuclear, no que pode ser a primeira vez que um presidente americano visita o local -Obama já havia ido a Hiroshima em 2016.
A passagem por Washington é a parada final de uma turnê de Kishida por potências ocidentais. Antes, ele foi à França, à Itália, ao Reino Unido e ao Canadá, onde também focou a indústria militar e discutiu energia nuclear. É, também, uma tentativa de mostrar força, já que enfrenta uma série de escândalos internos, com renúncias de ministros e dúvidas sobre quanto tempo mais conseguirá permanecer no cargo.
O presidente americano e o primeiro-ministro japonês têm mantido contato constante. Desde setembro de 2021, quando o líder asiático assumiu o cargo, eles se encontraram pelo menos seis vezes, uma delas em Tóquio, em maio do ano passado, e falaram por telefone ou videoconferência ao menos nove vezes.