Protestos bloqueiam casas de políticos de Israel antes de reforma judicial ser votada
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Manifestantes bloquearam as casas de vários membros do Knesset, o Parlamento de Israel, na manhã desta segunda-feira (20), no início de mais um dia de protestos em massa contra os planos do governo de alterar radicalmente o sistema judicial do país.
Dezenas de pessoas tentaram impedir que Simcha Rothman, um dos principais arquitetos das propostas, saísse de carro para o Parlamento, em Jerusalém. Manifestantes também bloquearam a casa de Tally Gotliv, uma defensora ferrenha da reforma, e do ministro da Educação, Yoav Kisch.
A polícia disse que oito pessoas foram presas por conduta desordeira e que o trânsito foi desviado depois que manifestantes fecharam algumas estradas, no que deve ser o principal dia de protestos contra as reformas até o momento.
O premiê Binyamin Netanyahu afirmou que "os manifestantes que falam sobre democracia estão provocando o fim da democracia quando negam aos parlamentares eleitos o direito fundamental de uma democracia: votar".
O Parlamento deve votar as propostas do governo de ultradireita que permitiriam que o Knesset derrubasse decisões da Suprema Corte por meio de votações com maioria simples -algo que a coalizão que sustenta a atual administração, a mais à direita da história de Israel, já possui.
O governo argumenta que a mudança é necessária para tirar a Justiça das mãos de "magistrados elitistas e tendenciosos". Na prática, porém, ela daria superpoderes ao premiê e a seus aliados durante o mandato.
Segundo opositores, o plano minaria a independência do Judiciário, enfraquecendo assim o equilíbrio de Poderes, um dos pilares do Estado de Direito. Israel não tem uma Constituição escrita, e como os governos no poder quase sempre têm maioria no Parlamento, o Executivo e o Legislativo tendem a atuar em sincronia em vez de funcionarem como contrapesos.
Pesquisas mostram que a maioria dos israelenses quer que as reformas sejam mais lentas para permitir o diálogo com quem se opõe a elas, ou totalmente arquivadas. Ao meio-dia no horário local, milhares carregando bandeiras israelenses e sinais de pare foram ao Parlamento para protestar contra a votação.
Para o líder da oposição, o ex-premiê Yair Lapid, as manifestações devem aumentar de volume, "na luta pela alma da nação". Mas Lapid também condenou os manifestantes, que foram vistos em vídeos online dizendo a uma parlamentar da coalizão, Tally Gotliv, que ela não poderia tirar sua filha autista de casa para levá-la para o serviço de assistência.
Embora ela tenha implorado para que a deixassem passar por causa de sua filha, eles se recusaram a ceder, e a polícia foi chamada. No meio da manhã, Gotliv chegou ao Parlamento.
Desde que as reformas foram propostas, no início de janeiro, protestos periódicos têm atraído 100 mil ou mais pessoas às ruas, aumentando a pressão sobre o governo para fazer concessões. Uma manifestação em Jerusalém há uma semana contou com cerca de 70 mil participantes.
Também nesta segunda, o governo de Bibi, como o primeiro-ministro é conhecido, informou aos EUA que não autorizará novos assentamentos na Cisjordânia nos próximos meses, num recuo de uma decisão de dias atrás permitindo o aumento da presença israelense na região.
O anúncio vem após uma série de críticas de países do Ocidente. Em comunicado conjunto, as chancelarias de Alemanha, França, EUA, Itália e Reino Unido disseram no último dia 14 que novos assentamentos exarcebariam a crise entre israelenses e palestinos, agravada após uma série de ataques nas últimas semanas.