Protestos, gesto obsceno e discurso mentiroso: Como foi a viagem de Bolsonaro a NY
Presidente Jair Bolsonaro mentiu no discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU
Bolsonaro é o único líder do G20 que não se vacinou e precisou comer na rua, dada a proibição de entrada em restaurantes
Ministro Marcelo Queiroga protagonizou cena inusitada, ao fazer gesto obsceno para manifestantes
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi a Nova York para participar da Assembleia-Geral da ONU. Desde a chegada no último domingo (19), a estadia da comitiva presidencial foi marcada polêmicas e manifestações contra o governo Bolsonaro. O ponto mais controverso foi o discurso na ONU, no qual Bolsonaro mentiu e apresentou comportamento negacionista ao falar da pandemia de covid-19.
Veja quais foram os momentos marcantes da viagem de Bolsonaro para os Estados Unidos.
Manifestações desde o primeiro dia
Logo que Bolsonaro chegou à cidade, o presidente teve de entrar pela porta dos fundos do hotel onde estava hospedado, porque manifestantes estavam na entrada do local com cartazes contra Bolsonaro.
Em um vídeo publicado nas redes sociais na manhã desta terça-feira (21), Bolsonaro minimizou os protestos contra ele e disse que se tratavam de 10 pessoas. Segundo o presidente, "essas pessoas deveriam estar em um país socialista, não nos Estados Unidos".
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Enquanto o presidente gravava o protesto, os manifestantes gritavam "fora, Bolsonaro" e o chamavam de "genocida". Bolsonaro ainda criticou a imprensa e afirmou que os meios de comunicação inflariam o número de manifestantes, afim de dizer que havia um "megaprotesto" contra ele em Nova York.
Além disso, um caminhão com telões de LED que projetam frases contra o presidente Jair Bolsonaro circula por Nova York. Nas redes sociais, é possível ver as imagens do veículo com os dizeres "Bolsonaro mentiroso" e também chamando o presidente de "perdedor". Assista:
Segundo informações do portal Metrópoles, a ação foi feita por ativistas brasileiros e norte-americanos e financiada por ONGs ligadas à defesa da democracia e preservação do meio ambiente.
Gesto obsceno de Marcelo Queiroga
Foi também durante um protesto contra Jair Bolsonaro que aconteceu um dos acontecimentos mais marcantes da passagem da comitiva brasileira por Nova York.
Na noite da última segunda-feira (20), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mostrou irritação com os manifestantes.
As autoridades brasileiras saíam de uma recepção na missão brasileira na ONU e estavam dentro de um ônibus. Manifestantes cercaram o veículo, enquanto gritavam palavras de ordem. Queiroga, então, se levantou no assento no qual estava, foi até a janela e mostrou o dedo do meio para aqueles que participavam do ato.
Assista:
Bolsonaro sem vacina
O presidente Jair Bolsonaro é o único líder do chamado G20 que não se vacinou contra a covid-19. Ele não teve problemas para entrar no país ou para discursar na ONU por esse motivo. Por outro lado, o presidente da República foi impedido de entrar em locais fechados, como restaurantes.
Para driblar a obrigatoriedade de estar vacinado, Bolsonaro e a comitiva presidencial comeram pizza nas ruas de Nova York.
Quando o presidente foi comer a uma churrascaria, o restaurante teve de criar um "puxadinho" ao ar livre para permitir que Bolsonaro almoçasse no local. Ele estava acompanhado dos ministros da Saúde Marcelo Queiroga, do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o chanceler Carlos França e o chefe do GSI Augusto Heleno
Atrito com líderes internacionais
No encontro com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o tema da vacina voltou à pauta. Enquanto Johnson elogiou o imunizante da AstraZeneca, desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford, Bolsonaro fez questão de lembrar que não se vacinou contra a covid-19. O premiê britânico afirmou à imprensa que tomou as duas doses, enquanto o presidente brasileiro, entre risos, fez um gesto negativo para dizer que ainda não está imunizado.
Por não estar vacinado, Bolsonaro foi alvo de críticas do prefeito de Nova York, Bill De Blasio. "Há protocolos fortes em vigor. Nós precisamos mandar uma mensagem para todos os líderes globais, incluindo mais notoriamente Bolsonaro, do Brasil, que se você quer vir aqui, é necessário estar vacinado. Se você não quer se vacinar, não se dê o trabalho de vir", afirmou o prefeito da cidade.
Discurso mentiroso na ONU
Nesta terça, o evento mais esperado pelos brasileiros era o discurso de Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da ONU. O presidente fez um discurso negacionista, mentiu sobre a preservação do meio ambiente no Brasil e se utilizou de uma narrativa conservadora.
Meio ambiente
Sobre o tema do meio ambiente, Bolsonaro afirmou que "nenhum país do mundo possui uma legislação tão completa" quanto a do Brasil. "Nosso código florestal deve servir de exemplo para outros países. O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais. São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66%, dois terços, são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento em 1500", afirmou.
"Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a área da Amazônia equivale a toda área da Europa Ocidental. Antecipamos de 2060 para 2050 o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros destinados ao fortalecimentos do órgãos ambientais foram dobrados, com vistas à zerar o desmatamento ilegal. E os resultados dessa importante ação já começaram a aparecer", disse. Bolsonaro citou, então, uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto se comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Apesar da fala do presidente, durante discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, nesta terça-feira (21), o desmatamento da Amazônia em agosto de 2021 é o maior para o mês em dez anos.
Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônica (Imazon), que monitora a região por satélite, foram desmatados 1.606 km² de floresta em agosto, o que equivale a cinco vezes o tamanho de Belo Horizonte e é 7% maior do que o registrado em agosto de 2020.
De acordo com o Imazon, se somados os dados obtidos entre janeiro e agosto deste ano, já foram destruídos 7.715 km² de floresta. Este índice também foi o pior da década e chega a ser 48% maior do que o ocorrido no mesmo período do ano passado.
Negacionismo sobre a pandemia
Jair Bolsonaro não abriu mão da postura negacionista em relação à pandemia de covid-19. O presidente falou em "combater o vírus e o desemprego de forma simultânea", culpou o isolamento social pelos problemas econômicos do mundo e defendeu o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença.
"Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação especialmente nos gêneros alimentícios no mundo todo", afirmou.
Havia a expectativa de que Bolsonaro falasse em doação de vacinas contra a covid-19 para países mais vulneráveis da América Latina, como forma de melhorar a imagem do Brasil. No entanto, esse posicionamento não ocorreu.
O presidente afirmou que "até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos", mas fez questão de se posicionar contra o passaporte da vacinação. Na última segunda-feira (20), o governo dos Estados Unidos anunciou que, a partir de novembro, poderão entrar no país pessoas vacinadas, sem necessidade de quarentena.
"Apoiamos a vacinação, contudo, o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina", pontuou.
Outro tema mencionado por Jair Bolsonaro foi o "tratamento precoce", que não existe, já que não há remédios que previnam contra a infecção pelo coronavírus. "Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina."
"Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label. Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos", declarou.
"Maiores protestos da história"
No discurso na ONU, Bolsonaro também mentiu ao falar sobre as manifestações de 7 de setembro. "No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo", afirmou o presidente.
A informação, no entanto, não é verdadeira.
Assista o discurso de Bolsonaro na íntegra: