Quem era o serial killer Pedrinho Matador, que confessou ter matado 'mais de 100' e foi assassinado a tiros em SP
O serial killer Pedro Rodrigues Filho, mais conhecido como Pedrinho Matador, foi assassinado neste domingo (5), em Mogi das Cruzes (SP). O homem de 68 anos, que chegou a ser réu por 71 homicídios – e confessou a autoria de mais de 100 –, estava em liberdade há cinco anos e saía de casa, no bairro Ponte Grande, quando foi surpreendido por uma emboscada. Baleado diversas vezes por homens de capuz, morreu no local. Os criminosos fugiram de carro.
Pedrinho Matador: O serial killer que matou 'mais de cem' e passou 42 anos na cadeia
Caso Begoleã: carne encontrada em mala era humana? O que falta saber sobre assassinato de brasileiro
A Polícia Civil afirma que investiga o homicídio, ocorrido na manhã deste domingo, em ocorrência atendida pela Polícia Militar na Rua José Rodrigues da Costa. O caso está sendo registrado como homicídio qualificado e a localização e apreensão de veículo usado no crime está a cargo da Central de Flagrantes de Mogi das Cruzes.
Mais de 40 anos preso
Pedrinho Matador é considerado um dos mais impiedosos assassinos em série do Brasil. Entre as vítimas, estão o próprio pai e vários detentos – presos que dizia ter matado porque "não ia com a cara" ou porque "roncava demais". Carregava uma tatuagem que dizia: "Mato por prazer". Ele foi preso pela primeira vez em maio de 1973, quando tinha 19 anos, e só saiu em 2007. Em 2011, foi preso de novo, e acabou libertado de vez em 2018.
Monstro do Morumbi: O serial killer que estrangulava mulheres em São Paulo
Relatos perturbadores: Brasileiro preso com carne humana na mala diz que vítima era canibal: 'Tão bizarro que ninguém acredita'; ouça
'Ex-matador' nas redes
Pedrinho vinha sendo ativo nos últimos anos nas redes sociais, onde se definia como "ex-Pedrinho Matador" e divulgava uma autobiografia de nome "Não sou um monstro". Dizia ser "criador de conteúdo digital". No sábado, menos de 24 horas antes de sua morte, publicou um vídeo onde, de forma descontraída, disputava uma partida de sinuca.
,
Vida marcada por crimes brutais
Pedrinho, que em seu perfil no Instagram se identifica, agora, como "ex-matador", garante que deixou a carreira no crime para trás. No passado, ele tinha o hábito de esfaquear suas vítimas. De acordo com uma reportagem da revista "Época" publicada em 2003, boa parte de seus crimes foram cometidos depois da prisão. Ao longo de uma vida na cadeia, matou detentos no refeitório da penitenciária, na cela, no pátio e até dentro de um camburão da polícia. Confessou, diante de um juiz, ter eliminado um interno só porque 'não ia com a cara dele'. Também matou um colega de cela alegando que o indivíduo "roncava demais".
'Monstro de Amstetten': O homem que manteve a filha presa no porão
Rodrigues Filho nasceu em 29 de outubro de 1954, numa fazenda em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, com o crânio ferido, resultado de chutes que o pai desferira na barriga da mãe durante uma briga. Em entrevista à "Época" (leia abaixo), Pedrinho contou que sentiu vontade de matar pela primeira vez aos 13 anos de idade. Numa briga com um primo mais velho, empurrou o rapaz sobre uma prensa de moer cana-de-açúcar. O parente não morreu por pouco.
O assassino nunca foi à escola. Cometeu seu primeiro homicídio aos 14 anos, quando o pai foi demitido do cargo de vigia de um colégio municipal, acusado de roubar merenda. Pedrinho matou a tiros o vice-prefeito da cidade, que havia ordenado a demissão, e, depois, tirou a vida de outro vigia, que ele supunha ser o verdadeiro ladrão. Fugiu para Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde moravam seus padrinhos. Conheceu a viúva de um líder do tráfico, apelidada de Botinha, e foi viver com ela. Assumiu as tarefas do falecido e decidiu eliminar rivais, matando três ex-comparsas. Morou lá até que Botinha foi executada pela polícia. Pedrinho escapou, mas continuou no tráfico. Arregimentou soldados e montou o próprio 'negócio".
Crime: Polícia encontrou casa com 'bastante sangue', diz irmã de brasileiro morto na Holanda
Foi quando encontrou Maria Aparecida Olímpia, cujo nome Pedrinho tatuou no braço, perto da inscrição "Sou capaz de matar por amor". Ela engravidou, mas não chegou a ter o bebê. Certo dia, ao entrar em casa, Pedrinho encontrou-a morta a tiros. Em busca de vingança, matou e torturou várias pessoas, tentando descobrir os responsáveis. Não conseguiu, até que o mandante, um antigo rival, foi delatado por uma ex-mulher. Pedrinho e quatro amigos o visitaram durante uma festa de casamento. Deixaram um rastro de sete mortos e 16 feridos.
Aos 18 anos, Pedrinho foi preso, denunciado pelo pai de uma namorada. Ele perdeu contato com sua quadrilha e aprendeu a ler e escrever. Mas continuou cometendo assassinatos em série na cadeia. Pedrinho é o que muitos especialistas definiriam como psicopata, alguém sem compaixão, que não sentia remorso nenhum por tirar a vida de um outro ser humano. Um laudo pericial de 1982, feito por dois psiquiatras, diz que sua maior motivação era 'a afirmação violenta do próprio eu'. Ele foi diagnosticado com 'caráter paranóide e anti-socialidade'.
Violência: Grávida morta a tiros em Campos dava carona a tia com síndrome de Down: 'passa o dia chorando'
Quando Pedrinho foi para trás das grades, em 1973, o carro do ano era o Ford Maverick, precisava-se de telefonista para fazer um interurbano, e o Brasil vivia o período mais duro da ditadura militar, sob a presidência do general Emílio Garrastazu Médici. Ao longo de décadas na cadeia, o matador escapou diversas vezes de se tornar vítima de seu crime predileto. Certa vez, informado sobre uma emboscada, comprou uma faca de um carcereiro. Quando foi atacado por cinco detentos no pátio, conseguiu matar três deles. Os outros dois fugiram assustados.
O criminoso se gabava de ter matado muito mais do que dizem os registros oficiais. À revista "Época", ele disse foram mais de cem homicídios. Contou, mostrando orgulho, de quando assassinou o pai, depois que o progenitor matara a sua mãe, desconfiado de uma traição. Segundo esta versão macabra do próprio Pedrinho, ele rasgou o peito do pai a facadas e comeu um pedaço de seu coração. Contudo, em depoimento a um psiquiatra, ele havia dito que o pai fora morto por familiares de uma amante. Assim como este, vários relatos do serial killer têm contradições.
Bandido da luz vermelha: A morte do criminoso que aterrorizou São Paulo
Diferentes reportagens dão conta de que Pedrinho foi condenado a 400 anos de cadeia por 71 homicídios. Segundo o texto da revista "Época" que embasa este post, só havia registros de 18 processos contra o serial killer. Ao ser confrontado com esse número, o próprio assassino se mostrou surpreso ("Só isso?", ele disse). De acordo com um pesquisador ouvido pela publicação, os anos 70 foram sumidouro de registros penitenciários no Brasil. Muita documentação foi perdida numa época de desmandos em que os tribunais ainda não eram informatizados.
Ao longo de sua vida no sistema prisional, Pedrinho foi transferido diversas vezes, cumprindo pena em ao menos nove instituições diferentes. Pela lei brasileira, nenhum detento, por mais crimes que tenha cometido, pode ficar na cadeia durante mais de 30 anos. Assim, o assassino deveria ter sido libertado em 2003, mas, devido aos delitos cometidos enquanto esteve encarcerado, sua permanência atrás da grades foi esticada até 2007, quando foi solto pela primeira vez. Em 2011, foi preso de novo, devido a novas condenações por crimes cometidos na cadeia.