'Rei do Garimpo': Mourão recebeu responsável por invasões nas áreas Yanomamis

Quando era vice-presidente, Mourão recebia garimpeiros no gabinete e desacreditou dados sobre invasões em terras Yanomamis

Quando era vice-presidente, Hamilton Mourão recebeu 'Rei do Garimpo' no gabinete. Atividade ilegal é responsável por crise em terras Yanomami. (Foto: AP Photo/Leo Correa)
Quando era vice-presidente, Hamilton Mourão recebeu 'Rei do Garimpo' no gabinete. Atividade ilegal é responsável por crise em terras Yanomami. (Foto: AP Photo/Leo Correa)
  • Enquanto era vice-presidente, Mourão recebeu "rei do garimpo", responsável pelas três maiores invasões a terras Yanomamis;

  • Mourão presidiu o Conselho Nacional da Amazônia Legal (Conamaz), que deveria prestar assistência aos povos originários do bioma, incluindo Yanomamis;

  • Em 2022, vice-presidente desacreditou dados sobre o avanço da exploração na Terra Indígena Yanomami.

O ex-vice-presidente e senador eleito, Hamilton Mourão (Republicanos-RS) recebeu em seu gabinete por pelo menos quatro ocasiões o aviador e minerador José Altino Machado, conhecido como “rei do garimpo”.

Os encontros foram registrados nas agendas oficiais de Mourão e noticiados pelo site De Olho nos Ruralistas.

A proximidade entre ele e Machado já havia sido noticiada pelo Observatório da Mineração e Diário do Rio Doce.

Em 2019, após uma reunião com o então vice-presidente da República, Zé Altino classificou o encontro como "muito proveitoso" e disse ter proposto um acordo com Mourão:

"Eu fiz uma proposta, que ele achou interessante. Apresentei a ideia de criar responsabilidades mútuas no Brasil. Nós ficamos com a responsabilidade de tomar conta do trabalho que nós temos na Amazônia, enquanto o governo assume a responsabilidade de administrar. Não tem cabimento um pedido de licença ambiental ficar pendente por mais três anos".

A atividade defendida pelo minerador é a principal causa da crise humanitária e de saúde vivida pelos povos Yanomanis. A mineração provoca a contaminação dos rios por mercúrio. De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, somente em 2022, 99 crianças yanomani morreram na reserva.

Altino é fundador da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal (Usagal) e ex-presidente da Fundação Instituto de Meio Ambiente e Migração da Amazônia (Finama). Ele comandou vários garimpos abertos na Amazônia e foi responsável pelas três maiores invasões na TI, nos anos 70, 80 e 90, aponta o site.

Mourão também é próximo de Dirceu Frederico Sobrinho, agente financeiro acusado de lavagem de dinheiro e danos ambientais em Itaituba (PA), que comanda a Associação Nacional do Ouro (Anoro).

Em setembro de 2019, Sobrinho participou de uma audiência na Câmara ao lado de Zé Altino, de Alexandre Vidigal, do Ministério de Minas e Energia (MME), de Eduardo Leão, da Agência Nacional de Mineração (ANM), de Antônio da Justa Feijão e dos deputados federais Silas Câmara (Republicanos-AM) e Joaquim Passarinho (PSD-PA).

Altino Frederico Sobrinho também se reuniram, naquele mês, com o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (deputado eleito), com o general Augusto Heleno e com Onyx Lorenzoni.

Em 2020, Mourão voltou a se reunir com os dois garimpeiros em Brasília.

O senador eleito presidiu o Conselho Nacional da Amazônia Legal (Conamaz), que deveria prestar assistência aos povos originários do bioma.

Em entrevista à TV Globo, Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, disse ter alertado sobre a crise na comunidade: “Mas não aconteceu nada e não foram tomadas as providências que pedi”.

Minimizou dados

Já em 2022, após reunião do Conselho, Mourão desacreditou os dados da Hutukara sobre o avanço da exploração na TI.

“Existem alguns dados que muitas vezes são fantasiados, como aquela história de que existem 20 mil garimpeiros”, comentou, em coletiva de imprensa. “Nossa avaliação é que temos na faixa de 3 mil, que já é um número, vamos dizer assim, extremamente fora do que se destina a terra indígena”.