Ressentimento com reforma da previdência na França pode impulsionar Le Pen

Marine Le Pen durante discussão sobre proposta de reforma da Previdência no Parlamento da França em Paris

Por Elizabeth Pineau

PARIS (Reuters) - Há uma preocupação cada vez maior nos corredores do poder na França de que o acalorado debate parlamentar sobre os planos de reforma da previdência no país esteja favorecendo a líder de extrema-direita Marine Le Pen, que está de olho nas eleições presidenciais de 2027, dizem fontes.

Enfrentando uma dívida crescente agravada pela pandemia de Covid-19, o presidente francês, Emmanuel Macron, está tentando impor mudanças que ele considera serem vitais para cobrir um déficit projetado para o sistema previdenciário e salvá-lo do colapso.

Mas após mais de um mês de debates acalorados sobre o projeto de lei na câmara baixa, que não conseguiu revisar toda a legislação antes do prazo de sexta-feira, pesquisas indicam que a estratégia de oposição não obstrutiva de Le Pen está conquistando a opinião pública.

Diferente do bloco de oposição de esquerda que entrou em guerra por causa das reformas, apresentando milhares de emendas para retardar sua aprovação no Parlamento e trocando farpas com o partido de Macron, os 68 parlamentares de Le Pen adotaram uma abordagem mais discreta.

Eles declararam serem contrários às mudanças em entrevistas à imprensa e discursos comedidos, e consistentemente votaram contra quando elas surgiam em moções, dizendo que os planos impunham um fardo injusto às pessoas.

Mas eles evitaram emendas obstrutivas, provocações e retórica acalorada -- uma demonstração do plano de Le Pen de "desdemonizar" seu partido e distanciá-lo das políticas e táticas mais inflamatórias pelas quais era conhecido no passado.

De acordo com uma pesquisa do Ifop divulgada nesta segunda-feira, Le Pen foi a figura pública que melhor "incorporou" a oposição à reforma, com 46% dos entrevistados dizendo que ela representava bem a oposição, em comparação com 43% para o líder de esquerda Jean-Luc Mélenchon e 41% para o líder sindical da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez.

A pesquisa também mostrou que o partido Reagrupamento Nacional de Le Pen é agora o mais popular da França, com 35% dizendo que tinham uma "boa opinião" sobre ele, à frente dos 28% para o partido Renascimento de Macron e 34% para os Verdes.