Retrospectiva 2021: As denúncias e investigações da CPI da Pandemia
Relembre os momentos mais marcantes da CPI da Pandemia
O Yahoo! Notícias reuniu depoimentos que geraram repercussão e as polêmicas
Comissão chegou ao fim em outubro depois de 6 meses de funcionamento
Em seis meses de funcionamento, a CPI da Pandemia colecionou momentos de muita repercussão e tensão, além de polêmicas. O Yahoo! Notícias reuniu alguns episódios das sessões desde o momento em que a comissão foi instalada, em abril, e que chegou ao fim em outubro.
O colegiado encerrou os trabalhos com a aprovação do relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL). O parecer pediu o indiciamento de duas empresas e outras 74 pessoas. Constam na lista, os nomes do presidente Jair Bolsonaro, além de seus três filhos: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Nos últimos meses de funcionamento do colegiado, o Yahoo! Notícias entrevistou com exclusividade os senadores que faziam parte da comissão como o presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM), as senadoras Simone Tebet (MDB-MS) e Eliziane Gama (Cidadania-MA), entre outros parlamentares que tiveram atuação relevante nas investigações.
"Picareta" e "vagabundo": Senadores discutem por causa de Bolsonaro na CPI da Pandemia

Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Jorginho Mello (PL-SC) trocaram xingamentos na sessão da CPI do dia 23 de setembro e precisaram ser segurados pelos colegas para não se agredirem de fato. A discussão começou quando Mello tentou interromper Calheiros para defender o presidente Jair Bolsonaro e o relator protestou dizendo que não havia dado a palavra a ele.
O clima ficou ainda mais tenso quando Calheiros criticou o empresário Luciano Hang. Mello afirmou que o relator devia "lavar a boca" para falar de Hang. Foi quando Calheiros respondeu: "vai lavar a tua (boca), vagabundo". Mello chamou, então, Calheiros de "picareta" e "ladrão".
Xingamentos também foram trocados entre Calheiros e o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Apesar de não ser membro da CPI, Flávio Bolsonaro acumulou discussões na comissão. Na reunião do dia 12 de junho, o filho 01 do presidente Jair Bolsonaro chamou Renan Calheiros de "vagabundo". "Você que é vagabundo! Roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete!", respondeu o relator.
Fabio Wajngarten não foi preso, mas Roberto Dias foi
O dia do depoimento de Fábio Wajngarten, ex-chefe da secretaria de Comunicação da Presidência da República, também foi de grande repercussão. O relator da comissão chegou a pedir a prisão dele por mentir na comissão, pois, na condição de testemunha, ele tinha a obrigação de dizer a verdade.
"Queria sugerir a vossa excelência, presidente (Omar Aziz) requisitar o áudio da (entrevista de Wajngarten) à revista Veja para verificarmos se o secretário mentiu ou não mentiu", disse Renan.
O ex-chefe da secretaria de Comunicação da Presidência da República não foi preso, mas o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, foi. Ele chegou a ser levado no dia para a Polícia Legislativa, mas pagou fiança e foi liberado. Depois, a Justiça anulou sua prisão.
Eduardo Pazuello passa mal em reunião e volta ao Senado para novo depoimento
Um dos depoimentos mais aguardados da CPI foi o do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que teve que ser remarcado, depois que ele alegou contato com pessoas com suspeita de covid-19.
Depois de conseguir um Habeas Corpus para ter o direito de ficar calado, Pazuello negou que o Ministério da Saúde não tinha respondido as propostas da Pfizer para a compra de vacinas contra a covid-19. "Todas foram respondidas", assegurou o ex-ministro, acrescentando que "foram dezenas de reuniões e negociações".
O depoimento de Pazuello aconteceu nos dias 18 e 19 de maio. No primeiro dia, ele passou mal no intervalo da sessão e precisou ser atendido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico. Segundo o parlamentar, Pazuello teve uma síndrome vasovagal por ficar tanto tempo sentado.
A bomba revelada pelos irmãos Miranda no caso da vacina Covaxin
Quem acompanhou a CPI desde o início também se lembra do depoimento dos irmãos Miranda. O servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado federal Luis Miranda afirmou que havia sofrido uma pressão incomum para que o contrato de compra da vacina Covaxin pelo governo federal fosse assinado.
O Ministério da Saúde assinou, no dia 25 de fevereiro, um contrato para a compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. O Ministério Público Federal apurou indícios de crime na aquisição do imunizante.
O governo do presidente Jair Bolsonaro negociou a vacina produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech por um valor 1.000% maior do que o estimado pela própria empresa seis meses antes.
O contrato para a compra da Covaxin totalizou R$ 1,6 bilhão e foi firmado entre o Ministério da Saúde e a empresa Precisa, que representa o laboratório indiano no Brasil, durante a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello. O contrato acabou cancelado depois.
Empresário Luciano Hang ataca Calheiros antes de seu depoimento
Outro momento polêmico foi o depoimento do empresário Luciano Hang e, antes mesmo de chegar ao Senado, ele atacou o relator.
Em vídeo divulgado em seu canal oficial no Youtube minutos antes de a reunião do colegiado começar, ele afirmou que: "Quero de maneira muito transparente, democrática, em nome da liberdade de expressão, deixar claro que todas as acusações a meu respeito são mentirosas e que não existem provas contra mim. A narrativa que tentam incluir já fez parte da vida de muitas pessoas, inclusive do próprio relator desta CPI, senador Renan Calheiros", afirmou.
Hang foi acusado de pertencer ao Gabinete Paralelo, estrutura de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro sobre o enfrentamento à pandemia de covid-19, com a defesa de tratamentos ineficazes contra a doença. A CPI também investigou se ele era responsável pelo financiamento de canais que disseminam fake news.
O caso da Prevent Senior e as denúncias que chocaram
A advogada Bruna Morato, que prestou depoimento à CPI da Pandemia, afirmou que a entrega do chamado "kit covid" era uma forma de economia de despesas adotada pela operadora de Saúde Prevent Senior para evitar internações.
"Era uma estratégia para redução de custos, uma vez que é muito mais barato para a operadora de saúde disponibilizar determinados medicamentos do que efetivamente fazer internação daqueles pacientes.", afirmou.
Bruna Morato representa o grupo de médicos que denunciou irregularidades cometidas pela empresa, dentre elas, a distribuição de medicamentos com ineficácia comprovada contra a covid-19.
A advogada afirmou ainda que a estratégia da operadora de saúde tinha como objetivo a “convergência” com a ideologia do governo.
Morato citou um “alinhamento ideológico” como o Ministério da Economia para oferecer “esperança” às pessoas.
Capitã Cloroquina e Nise: as investigações sobre remédios ineficazes
Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, prestou depoimento à CPI diante da investigação sobre a recomendação de medicamentos ineficazes para combater a covid-19 no âmbito do colapso da saúde em Manaus (AM).
Além dela, a médica Nise Yamaguchi, também defensora da cloroquina para tratamento da doença, foi ouvida pela comissão para apurar a existência do gabinete paralelo.
A articulação das senadoras para que mulheres participassem da CPI

Na sessão do dia 4 de maio, Eliziane Gama (Cidadania-MA) pediu que as senadoras pudessem também inquirir pela ordem dos inscritos e não somente após os titulares e suplentes do colegiado. A solicitação foi acatada pelo presidente da CPI, mas depois criticada pelos senadores aliados ao governo.