Rishi Sunak e Liz Truss vão disputar sucessão de Boris como premiê do Reino Unido
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A corrida para suceder o premiê Boris Johnson se afunilou nesta quarta-feira (20), com a escolha pelo Partido Conservador dos dois finalistas. Dos 11 concorrentes iniciais, permaneceram na disputa o ex-titular da pasta de Finanças Rishi Sunak e a atual secretária das Relações Exteriores, Liz Truss.
Na quinta rodada de votações, Sunak obteve 137 votos, seguido por Truss, com 113, pouco à frente da ex-secretária de Defesa Penny Mordaunt, com 105. De certa forma, o resultado surpreende, porque Mordaunt aparecia em vantagem em pesquisas de intenção de voto em relação a Truss na corrida pela sucessão.
Boris anunciou no início de julho que deixará o cargo, pressionado por uma série de escândalos e pela renúncia coletiva de membros de seu governo. O premiê, contudo, ficará no posto até que um substituto seja escolhido, o que está previsto para ocorrer em setembro, de acordo com o calendário do partido.
Ambos os finalistas agora vão participar de uma série de eventos pelo país, nos quais serão questionados sobre seus projetos de governo. O vitorioso será escolhido por meio do voto dos filiados ao Partido Conservador quem tiver mais apoios se torna líder da sigla e, por tabela, o novo primeiro-ministro.
A legenda não é obrigada a divulgar quantos filiados tem. Em 2016, quando esse processo aconteceu pela última vez, havia cerca de 160 mil membros. A votação acontece por correspondência e está aberta até 2 de setembro. O resultado deve ser divulgado três dias mais tarde. Saiba quem são os finalistas.
RISHI SUNAK
Ex-secretário das Finanças elogiado por lançar um pacote de resgate econômico para combater a crise causada pela pandemia de Covid, Sunak é o favorito para suceder Boris atualmente, tem o maior apoio entre os deputados do Partido Conservador. Sua popularidade na sigla não parece ter sido abalada pelo fato de sua renúncia, há algumas semanas, ter impulsionado a queda do ex-premiê.
Caso eleito, o ex-analista do banco Goldman Sachs prometeu cortar impostos tão logo a inflação de 9,1% registrada em maio seja controlada. "É uma questão de quando, não se", disse ele, tocando num dos pontos mais sensíveis para os britânicos a alta de preços é a maior dos últimos 40 anos. Quando era secretário, uma das críticas que recebeu foi ter feito pouco para controlar o aumento do custo de vida.
Sunak, 42, foi o primeiro hindu a ocupar um cargo de secretário, posição à qual ascendeu em 2015. Apesar de se dizer orgulhoso por ser filho de imigrantes os pais têm origem indiana e foram criados no sudeste da África antes de emigrarem para a Inglaterra, defende uma política dura para as fronteiras britânica, com a manutenção do plano de deportar a Ruanda imigrantes sem documento que chegam ao país.
"Precisamos construir um novo consenso sobre as pessoas que vêm ao nosso país. Sim a trabalhadores talentosos e inovadores, mas, com controle das nossas fronteiras", disse ele em um discurso de campanha. Mudar a lei imigratória, afirmou, foi um dos motivos que o levou a apoiar o brexit em 2016.
Milionário, Sunak é casado com a herdeira de um magnata indiano, Akshata Murty, que sofreu escrutínio público por ter um status fiscal vantajoso que lhe permitia evitar o pagamento de milhões em impostos no Reino Unido. Ela acabou anunciando que pagaria taxas sobre ganhos no exterior para aliviar a pressão.
Os trabalhistas aproveitaram a brecha e questionaram se ele já havia se beneficiado do uso de paraísos fiscais. O jornal Independent publicou um relatório no qual Sunak foi listado como beneficiário de fundos nas Ilhas Virgens Britânicas e nas Ilhas Cayman. Um porta-voz dele disse desconhecer as alegações.
LIZ TRUSS
Apelidada por apoiadores de "a nova dama de ferro", em referência à ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, Truss, 46, é vista como a candidata da continuidade, devido à sua lealdade a Boris.
A secretária das Relações Exteriores faz parte da ala mais à direita dos conservadores, ideologia que adotou enquanto cursava política, filosofia e economia na Universidade Oxford. Antes, porém, Truss teve um flerte com os liberais democratas, por influência de seus pais, ambos filiados ao Partido Trabalhista.
Ela lançou sua candidatura para suceder o atual primeiro-ministro prometendo colocar a economia britânica em trajetória ascendente até as próximas eleições, em 2024. "Eu começaria a cortar impostos desde o primeiro dia para ajudar as pessoas a lidar com o custo de vida. Não é certo aumentar os impostos agora", escreveu, em artigo no jornal Telegraph.
As medidas incluiriam reverter um aumento nas contribuições previdenciárias que entraram em vigor em abril e não elevar impostos sobre empresas, o que seria essencial, diz ela, para atrair investimentos.
No Parlamento desde 2010, Truss faz parte do governo que aprovou o criticado projeto para enviar imigrantes sem documentos a Ruanda, mas não comentou publicamente a decisão desde que lançou a candidatura a primeira-ministra. Ela votou contra o brexit, mas logo disse que havia mudado de ideia.
Ainda nesta seara, Truss apresentou uma legislação para substituir unilateralmente algumas regras comerciais pós-brexit com a Irlanda do Norte, posição que aprofundou as tensões entre os dois lados.
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, ganhou proeminência internacional. Ela defende que as sanções econômicas impostas a Moscou devem permanecer até que as forças russas se retirem completamente.