Se fosse presidente, não teríamos esse problema com navios do Irã, diz Bolsonaro
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Jair Bolsonaro, em discurso no qual buscou inflar os feitos de seu governo e alinhar ainda mais a retórica ao trumpismo, disse neste sábado (4) que, se ainda fosse o presidente do Brasil, o país não teria "esse problema com os navios iranianos".
Bolsonaro foi aplaudido de pé ao chegar na CPAC, evento da direita apoiadora de Donald Trump nos EUA, na capital do país, Washington. Sua fala se refere à decisão brasileira de permitir que os navios iranianos Iris Makran e Iris Dena atracassem no Porto do Rio de Janeiro de 26 de fevereiro a 4 de março.
Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, o Brasil, que já havia autorizado a chegada das embarcações em janeiro, havia cedido à pressão americana no começo de fevereiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajou aos EUA para se encontrar com o líder americano, Joe Biden, e empurrou o atracamento para o fim do mês. Ao final, as embarcações acabaram chegando ao Rio de Janeiro no domingo passado.
Embora tenha citado acontecimentos da política brasileira dos últimos anos e vários de seus slogans de campanha, Bolsonaro tratou com mais ênfase algumas das bandeiras mais caras a seus interlocutores no centro de convenções que sediou a conferência. Foi aplaudido, por exemplo, quando disse que não obrigou ninguém a tomar vacina contra Covid-19 no Brasil e ao repetir o bordão "povo armado jamais será escravizado".
"É indispensável falar aos senhores que o meu relacionamento com o presidente Donald Trump foi simplesmente excepcional", disse o ex-líder brasileiro. Em outro momento do discurso, bateu no peito para dizer que foi o último presidente a reconhecer a vitória de Joe Biden sobre o republicano.
Hospedado em Orlando desde 30 de dezembro, Bolsonaro viajou a Washington na sexta-feira (3), para participar do evento, acompanhado do filho Eduardo. Ele chegou a circular rapidamente na sexta e tirou fotos com alguns apoiadores, quase todos brasileiros, mas também eventualmentealguns americanos que o reconheciam.
Uma caravana de políticos brasileiros acompanha o ex-presidente, como o deputado Mário Frias (ex-secretário da Cultura), Gilson Machado (ex-ministro do Turismo), além do deputado estadual de SP Gil Diniz, do senador Jorge Seif e da deputada federal Julia Zanatta. O empresário Otávio Fakhoury também acompanha o grupo.
Há uma série de brasileiros que também viajaram para acompanhar o discurso do ex-presidente. Os ingressos foram vendidos a US$ 295 (R$ 1.539), mas há categorias especiais cujos preços podem chegar a US$ 30 mil (R$ 157 mil), com direito a encontro e jantar com os palestrantes.
Espécie de meca da ultradireita americana, a CPAC reúne os maiores apoiadores de Trump -e ignora seus desafetos dentro do Partido Republicano. Estavam ausentes, por exemplo, o governador da Flórida, Ron DeSantis, considerado o maior adversário do ex-presidente na corrida à Casa Branca no ano que vem, e nomes do alto escalão da legenda, como o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, e o líder da bancada do partido no Senado, Mitch McConnell.
Figuras emblemáticas da direita trumpista como Donald Trump Jr., filho do ex-presidente, e Steve Bannon, estrategista do ex-mandatário, são algumas das maiores celebridades nos corredores do centro de convenções onde acontece o evento. Houve também palestras de nomes importantes da direita mundial, como Nigel Farage, figura-chave na campanha para retirar o Reino Unido da União Europeia.
Esvaziada na comparação com edições realizadas quando Trump era presidente, a conferência teve fileiras vazias no auditório durante todos os dias de evento. Há a expectativa de que Bolsonaro se encontre com seu ídolo republicano nos bastidores do evento, embora eles não tenham agenda definida. O discurso de Trump estava marcado para uma hora depois de Bolsonaro deixar o palco.
Os dois líderes tiveram boa relação no período em que conviveram como presidentes (2019 e 2020), e o republicano chegou a gravar vídeos pedindo votos para o hoje ex-presidente brasileiro nas eleições de 2022. Apesar disso, os dois ainda não se encontraram desde que Bolsonaro chegou aos Estados Unidos.
Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, também participou do evento pela manhã. Em uma mesa com o direitista mexicano Eduardo Verastegui discutiu "a ameaça vermelha nas Américas".
O deputado federal já organizou três edições paralelas do evento no Brasil, entre 2019 e 2022. Na última, além de representantes da direita brasileira, estiveram presentes o deputado argentino Javier Milei e José Antonio Kast, candidato derrotado na última eleição presidencial do Chile.
Bolsonaro está nos EUA desde 30 de dezembro. Ele viajou para a Flórida antes de terminar o mandato e rompeu a tradição de passar a faixa para seu sucessor, evitando um encontro com o adversário Lula. Em entrevista ao Wall Street Journal, o ex-presidente afirmou que voltará ao país em março. Sem visto permanente, ele não tem autorização para ficar mais do que seis meses nos Estados Unidos, segundo um advogado que está lidando com a questão do status do ex-presidente.
Bolsonaro tem feito palestras para a comunidade brasileira em Orlando e Miami. Recentemente, viajou também aos estados de Oklahoma e Tennessee para participar de eventos.