AFP
A morte chocante do jovem negro Tyre Nichols apĂłs ser espancado por policiais reabriu um debate angustiante nos Estados Unidos sobre a violĂȘncia policial, alimentando a sensação de que as maciças manifestaçÔes que se seguiram Ă morte de George Floyd, em 2020, de pouco serviram para resolver o problema.Nichols, um homem negro de 29 anos, morreu no hospital em 10 de janeiro, trĂȘs das depois de ter sido espancado violentamente por cinco policiais, tambĂ©m negros, na cidade de Memphis, no Tennessee, sul dos Estados Unidos.Os cinco policiais foram acusados de homicĂdio doloso. A PolĂcia de Memphis divulgou, na noite de sexta-feira (27), imagens do incidente extraĂdas das cĂąmeras corporais dos agentes, nĂŁo sem antes advertir os espectadores sobre sua violĂȘncia."Estou triste pelo lugar em que estamos nos Estados Unidos", disse Lora King, cujo pai, Rodney King, tambĂ©m foi vĂtima de um espancamento brutal por parte de policiais de Los Angeles em 1991, tambĂ©m registrado em vĂdeo. O incidente provocou trĂĄgicos distĂșrbios e destruição nesta cidade e em outras regiĂ”es do paĂs."Temos que fazer melhor", acrescentou Ă emissora CNN. "Isto Ă© inaceitĂĄvel".- Triste estatĂstica -ApĂłs a morte de Nichols, muitos se perguntam qual foi o avanço real alcançado desde 2020, ano em que George Floyd, um homem negro morto em Minneapolis sufocado por um policial branco, que se ajoelhou sobre seu pescoço, deu origem ao movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam), que se espalhou pelos Estados Unidos e por outros paĂses.Depois da morte de Floyd, promessas de reforma policial se espalharam por todo o paĂs.No entanto, dois anos depois, a quantidade de pessoas mortas durante investigaçÔes policiais alcançou, em 2022, um pico em dez anos: um total de 1.186 mortes, segundo o site Mapping Police Violence.Vinte e seis por cento delas eram negras, embora os afro-americanos representem 13% da população americana.Este nĂșmero Ă© em parte explicado pela enorme quantidade de armas de fogo nas mĂŁos de civis nos Estados Unidos, um paĂs onde hĂĄ mais armas que pessoas. Isto aumenta consideravelmente a sensação de vulnerabilidade dos policiais durante suas intervençÔes, levando-os a sacar suas armas mais rapidamente.No ano passado, 66 policiais morreram baleados enquanto estavam em serviço, segundo um fundo criado para honrĂĄ-los.Mas o advogado Ben Crump, que representou a famĂlia de Floyd e agora representa a de Nichols, vĂȘ uma dinĂąmica mais profunda."Temos que falar sobre esta cultura policial institucionalizada que tem essa lei nĂŁo escrita de que se pode fazer uso excessivo da força contra pessoas negras e latinas", disse durante coletiva de imprensa na sexta-feira."Teremos que ter esta conversa mais de uma vez atĂ© que acabe" o problema, destacou.- "DesnecessĂĄrio e agressivo" -Os protestos iniciados em 2020 levaram, entre outras coisas, a esforços para deter a considerĂĄvel imunidade legal concedida a policiais nos Estados Unidos e para criar um registro de agentes que fizeram uso excessivo da força.Um projeto de lei federal, inicialmente apoiado tanto pelos democratas quanto pelos republicanos, fracassou no Congresso em um momento em que os homicĂdios aumentaram consideravelmente, levando os republicanos a recuarem e retomarem seu tradicional chamado Ă "lei e Ă ordem".Na falta de um avanço em nĂvel federal, houve reformas principalmente em nĂvel local, de forma modesta e desigual, de acordo com os estados, produzindo um mosaico de diferentes abordagens.Nos Estados Unidos hĂĄ quase 18.000 entidades policiais autĂŽnomas (polĂcia estadual, municipal, xerifes de condados, patrulhas rodoviĂĄrias, entre outras), cada uma com suas prĂłprias regras. Houve revisĂ”es para proibir estrangulamentos como o que matou George Floyd, um uso mais frequente de cĂąmeras corporais e o aumento das penas por violĂȘncia policial injustificada.A polĂcia de Memphis esteve entre as que aprovaram reformas. Os policiais foram proibidos de entrar Ă força em residĂȘncias sem aviso prĂ©vio, foram incentivados a intervir para evitar atos de violĂȘncia por parte de colegas, enquanto receberam capacitação adicional para reduzir os confrontos perigosos.Apesar disso, os agentes que detiveram Nichols por uma simples infração estavam "irritados" e "a escalada jĂĄ estava em um nĂvel muito alto", disse Cerelyn Davis, primeira chefe negra do Departamento de PolĂcia de Memphis.Para os ativistas, o problema central estĂĄ nos amplos poderes de detenção que a polĂcia americana tem, inclusive para infraçÔes menores."Devemos parar de depender da polĂcia para responder aos problemas relacionados Ă pobreza", disse Kathy Sinback, diretora para o Tennessee da UniĂŁo Americana pelas Liberdades Civis, pois "leva a açÔes mais frequentes, desnecessĂĄrias e agressivas por parte das forças de ordem com relação aos membros da comunidade".Uma demonstração disso Ă© que os efetivos policiais mataram quase 600 pessoas durante blitzes desde 2017, segundo a organização Human Rights Watch (HRW).chp/jnd/bbk/md/llu/yow/mvv