Sindicato de efeitos visuais: como mudança pode afetar os estúdios de Hollywood
Profissionais do setor voltam a denunciar rotinas intensas de trabalho
A pressa é inimiga da perfeição e a sede de explorar e faturar rapidamente em todas as vertentes do Universo Cinematográfico da Marvel abriu uma discussão importante em Hollywood em 2022: a rotina intensa das equipes de efeitos visuais por trás dos maiores blockbusters da indústria. Após a polêmica, os profissionais estão cada vez mais próximos da sindicalização ou até mesmo de uma greve, mas a mudança é certeira.
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O site "Vulture" contatou com inúmeros profissionais que já trabalharam em filmes dos principais estúdios de Hollywood, incluindo a Marvel, e as queixas entre eles eram as mesmas repetidamente: prazos punitivos, horas de trabalho extenuantes, poucos trabalhadores para realizarem uma demanda alta e pagamento insuficiente.
A polêmica ganhou força após dois projetos da Marvel Studios, o filme "Thor: Amor e Trovão" e a série "Mulher-Hulk: Defensora de Heróis", receberem altas críticas por conta dos efeitos visuais de baixa qualidade. Diversos técnicos e artistas usaram as redes sociais para se manifestarem e contaram que tinham prazos curtos para entregarem as cenas prontas. Apesar de ter lançamentos rentáveis e ganharem bilhões por ano em bilheteria, ainda há falta de investimento na mão de obra, responsável por tornar as histórias dos heróis cada vez mais visualmente realistas.
Ainda segundo o site norte-americano, os funcionários afirmam que ganham 20 vezes mais na Marvel do que nos demais estúdios, mas as demandas são muito maiores. “No minuto em que eu entregar [nome do filme editado], nunca mais voltarei”, disse uma das fontes ao "Vulture".
Para evitar uma possível greve, como a que foi feita pelos roteiristas dos Estados Unidos em 2007, o portal aponta como única solução a criação de um sindicato de efeitos visuais. O VFX-IATSE, em particular, espera ter pelo menos 1.000 membros até junho deste ano.
Eles têm como objetivo a sindicalização de toda casa ou estúdio de produção de efeitos e a criação de um acordo coletivo de trabalho com a Alliance of Motion Picture and Television Producers, que possa servir de modelo para outros contratos e equipe do setor.
O que mudaria para os grandes projetos de heróis?
Para levar o Doutor Estranho para o multiverso ou transformar Tatiana Maslany na Mulher-Hulk, requer uma imensa força de trabalho e diversos estúdios envolvidos. Responsáveis por estúdios contaram ao site que aceitam os projetos cientes da alta demanda, pois entendem que ter trabalho com a Marvel tende a produzir resultados que consolidam carreiras.
Como esses profissionais trabalham na fase pós-produção e não estão presentes no set de filmagens, Arun Devasia, organizador oficial da ala efeitos visuais de Bectu (o equivalente da indústria de entretenimento do Reino Unido para a IATSE, a Aliança Internacional de Teatro e Funcionários de Palco), chama a situação de “ponto cego na maneira como os sindicatos dedicaram seus recursos”.
Embora empresas como DreamWorks, Netflix e Nickelodeon mantenham equipes de trabalhadores de efeitos visuais em suas folhas de pagamento internas, a Marvel ainda não criou sua própria casa VFX proprietária. “Acho que nosso problema número 1 é a falta de conhecimento”, disse Mark Patch, veterano da área de efeitos visuais, que entrou para a equipe como organizador da IATSE para o VFX Union, em outubro.
Os profissionais da área estão lutando por salários mais altos, prazos maiores e garantias como assistência médica, benefícios de aposentadoria e horas extras pagas. “Com a estratégia certa liderada pelos próprios trabalhadores de efeitos visuais”, diz Ben Speight, organizador do Animation Guild e do VFX-IATSE. “No próximo ano, pode haver uma oportunidade para um grupo seguir em frente, ser bem-sucedido e estabelecer seu primeiro sindicato”. Isso deixará muitas empresas, como a Marvel Studios, sem escolha a não se adequar a mudança no mercado. “Nunca houve um nível tão alto de interesse entre os trabalhadores de efeitos visuais neste país e além.”