Socorro a cidades destruídas pelas chuvas exige ação conjunta de rivais políticos
A tragédia provocada pelas chuvas intensas no litoral norte de São Paulo, onde mais de 35 pessoas já morreram desde o fim de semana, exigirá um trabalho articulado entre todos os atores da federação, dos municípios do entorno ao governo federal.
Os trabalhos envolvem, num primeiro estágio, reforço na busca por desaparecidos e desobstrução das vias – para que turistas possam voltar para suas casas em segurança e também para facilitar a logística das operações de apoio. Em seguida é necessário articular um amplo trabalho de reconstrução das cidades atingidas por alagamentos e deslizamentos de encostas.
Alguns pontos, sobretudo em São Sebastião, epicentro da tragédia, levarão anos para serem reerguidos.
Tudo isso exige recursos e alinhamento entre as diversas esferas do poder. Qualquer ruído ou disputa paroquial pode ampliar ainda mais uma situação que já é dramática.
Em pronunciamento diante da emergência, o ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, disse estar em contato com o governador de São Paulo e os prefeitos das áreas atingidas.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) esteve no local da tragédia e decretou estado de calamidade em seis cidades: São Sebastião, Caraguatatuba, Ilhabela, Ubatuba, Guarujá e Bertioga.
O presidente Lula (PT) deve sobrevoar a região para ver os estragos de perto.
É o mínimo que se espera das autoridades.
Espera-se também que a situação, dessa vez, não seja encarada como uma bomba que um poder empurra para o colo de outro a depender do (des)alinhamento político.
Foi o que aconteceu durante a pandemia e também no rescaldo de enchentes que castigaram regiões do Nordeste, do Sul e da região serrana, no Rio, em anos recentes.
Até então a regra, em vez de buscar soluções, era terceirizar a culpa e estimular a divisão.
Em seus primeiros dias como governador, Tarcísio de Freitas, eleito em São Paulo na onda do bolsonarismo, tem ensaiado uma aproximação com o governo federal.
Ele esteve presente, por exemplo, no encontro organizado pelo presidente Lula com os chefes dos Executivos estaduais logo após as invasões golpistas à sede dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro.
Tarcisio tem evitado replicar o discurso incendiário de seu padrinho político ao se referir aos adversários eleitos para o governo federal.
Faz isso por uma questão de sobrevivência.
Lula, que estava na Bahia e precisou interromper o descanso no feriado, reconheceu a situação de calamidade em São Sebastião, o que facilita o caminho para o envio de verbas federais para o município. Ele anunciou também que agentes da Defesa Civil Nacional foram acionados para prestar apoio às vítimas.
O ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, disse ter reservado R$ 2 milhões do orçamento da pasta para auxiliar as cidades destruídas.
Lula também disse ter conversado por telefone com o governador de São Paulo e o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), segundo quem a tragédia pode ter mais vítimas do que as contabilizadas até agora.
O trabalho de reconstrução exigirá o envolvimento de todas as partes.
Lula e Tarcísio sabem disso.
A atuação conjunta pode ser o primeiro teste de um convívio que deve ser pautado pelos princípios do interesse público, e não pelo berreiro que marcou as disputas políticas nos últimos anos e travou as soluções mais simples para os problemas mais complexos.